APROXIMAÇÕES ENTRE ÉTICA E POLÍTICA

1- CIÊNCIAS PRÁTICAS: ÉTICA E POLÍTICA

Aristóteles coloca as ciências práticas: ética e política como fim supremo do homem, ou seja, a essência do bem está na felicidade e na virtude, o homem como individuo deve viver a ética, seja como ser social ou como ser político. O estudo da conduta do homem como individuo é a ética, o estudo do homem como parte da sociedade é a política.

1.1- ÉTICA

Todas as ações humanas tendem a fins que são bens. Estas ações subordinam-se a um “fim último”, que é o “bem supremo”, em que todos concordam em chamar de felicidade. Mas de fato o que é felicidade? Felicidade é a plenitude da realização ativa do homem, no que ele tem de propriamente humano. Felicidade está no bem de cada coisa, e o bem de cada coisa está em sua função; assim a visão é o bem dos olhos e no bem dos olhos está sua felicidade. Mas Aristóteles pergunta, qual a função do homem em si? Será que é só viver? Se for assim os animais e plantas também vivem; então ele procura o que há de exclusivo no homem e observa que sua exclusividade está em possuir a atividade da razão. O homem que quer viver bem deve viver segundo a razão: então o bem do homem consiste em uma atividade da alma segundo a sua virtude e, quando as virtudes são de uma, segundo a melhor é a mais perfeita.

O homem é principalmente razão, mas não apenas razão, pois ele possui a parte vegetativa, que “não participa da razão”, pois esta parte tem a sua faculdade do desejo, em geral, a do apetite, e participa dela enquanto a escuta e obedece. Ora, o domínio dessa parte da alma e sua redução aos ditames da razão são a “virtude ética”, a virtude do comportamento prático. Aristóteles coloca as virtudes éticas como justos meios entre os extremos; já que estas virtudes têm uma característica comum essencial que é comum: os impulsos, as paixões e tendências ao excesso ou a falta; intervindo a razão deve impor a justa medida, ou “mediania” entre os dois excessos. A coragem por exemplo, é o meio caminho entre a prodigalidade e a avareza. Por essas razoes o excesso ou falta é próprio do vicio. Enquanto a medianóia é própria da virtude: somos bons apenas de um modo, e maus de várias maneiras. Está claro que a mediania não é uma espécie de mediocridade mas sim “uma culminância”, um valor considerando que é vitória da razão sobre os instintos.

Dentre todas as virtudes éticas pensa-se que a justiça segundo Aristóteles é a mais importante das virtudes que nem a estrela vespertina nem a estrela matutina sejam tão dignas de admiração quanto ela. E como diz o provérbio: na justiça está abarcada toda virtude. Aristóteles chama a perfeição da alma de virtude “diamoetica”, sendo que esta virtude pode ser a “sabedoria” (phrónesis) e a “sapiência” (Sophia). A sabedoria consiste em dirigir a vida do homem. Já a sapiência é o conhecimento daquelas realidades que estão acima. É o exercício desta ultima virtude que constitui na perfeição da atividade contemplativa já que o homem alcança nela a máxima felicidade.

1.2- POLÍTICA

Aristóteles diferente dos sofistas e cínicos que interpretavam a cidade, a polis, como nomos, lei ou convenção. Pelo contrario ele inclui a sociedade na natureza, é algo inerente ao próprio homem, concebe o individuo em função da cidade e não a cidade em função do individuo. Além do mais, ele estuda a origem da sociedade. A sua forma elementar e primária é a casa ou família (oikia) formada pela união do homem e da mulher para perpetuar a espécie. O agrupamento de varias famílias em uma unidade superior produz a aldeia o Kóme. E a união de varias aldeias forma a cidade ou polis, forma suprema da comunidade para Aristóteles. A polis é uma comunidade perfeita autárquica, que basta a si próprio, e contraste com as aldeias que são insuficientes e necessitam uma das outras. Como a perfeição de cada coisa é a sua natureza e a polis a perfeição de sua comunidade, a polis é também natureza. Portanto o homem é por natureza “um animal político”, um vivente social que vive por natureza e não por acaso.

A natureza social do homem se manifesta na linguagem, isto é, no logos (palavras). Os animais têm voz que exprime o prazer e dor, mas a palavra é destinada a manifestar o útil e o prejudicial o justo e o injusto. Esta característica da linguagem verbal (palavra) é característica só do homem e fundamental para formação da sociedade.

O Estado pode ter diferentes formas, ou seja, diferentes constituições. A constituição é “a estrutura que dá ordem à cidade, estabelecendo o funcionamento de todos os cargos sobretudo da autoridade soberana”. Ora o poder soberano pode ser exercido por um só homem, monarquia. Por poucos homens, oligarquia. Pela maior parte dos homens, aristocracia. Por todos os homens, democracia.

O estado ideal segundo Aristóteles é aquele que deve visar o incremento da alma, ou seja, o incremento da virtude, nestes incrementos está a felicidade.

2- EPICURISMO

O epicurismo vem de epicuro, nome de um cidadão ateniense, que fundou no ano de 366 a.C. a sua escola ou comunidade, num jardim. Tinha uma personalidade notável, tendo exercido um extraordinário ascendente entre os seus adepitos.

O epicurismo adquiriu depois da morte do fundador um caráter quase religioso; que influenciou extraordinariamente na Grécia e no mundo Romano até no século IV d.C. A esposição mais importante desta doutrina foi o poema de Tito Lucrécio Caro (97-55), intitulado de rerum natura.

A filosofia epicurista é materialista, e renova a teoria de Demócrito com a teoria dos átomos. Os epicuristas tinham um sentido de especulação pluralista da natureza, com o objetivo de tranqüilizar os seus ouvintes. Dão por exemplo uma explicação física do trovão e do raio, mas não uma explicação apenas, mas várias. Acreditavam que o prazer é o verdadeiro bem; e exige que os prazeres de revistam de condições especiais, tem de ser puro, sem mistura de dor ou desagrado, tem de deixar, por fim o homem dono de si. Livre, imperturbável. O ideal do sábio é pois o homem sereno, sem inquietações que conserve o equilíbrio em qualquer circunstância; nem a diversidade, nem a dor e nem a morte perturbam o epicurista; eles tinham um afastamento dos assuntos da cidade e além do mais, bastava-se a si mesmo e não preocupar-se com nada que existe.

3- CETICISMO

O ceticismo consiste no desinteresse pela verdade. O homem não acredita em nada. Uma das raízes do ceticismo está na pluralidade das opiniões: ao tomar consciência de que há varias respostas sobre as verdades das coisas, duvida-se que qualquer das respostas seja mais verdadeira do que as outras. A que distinguir entre o ceticismo como tese filosófica e como tese vital. O primeiro caso é uma tese contraditória, pois afirma a impossibilidade de conhecer a verdade, e esta afirmação pretende que ela própria seja verdadeira. Já a segunda é a abstenção do que se formula em qualquer juízo, esta não afirma nem nega, e aparece freqüentemente na historia, embora também seja que a vida do homem possa manter-se fluente nessa obtenção sem afirmar convicções. O mais famoso dos céticos gregos foi Pirro; outros também dignos de serem mencionados são: Timão, Arcesilau e carnéades todos viveram entre os séculos III e II a.C. Já na nossa era aparece uma nova corrente cética com Enesidemo e o famoso sexto empírico, que escreveu umas Hipotiposis pirrónicas, este viveu no século II d.C. A academia cética pendurou até 529, depois que foi encerrada pela ordem de Justiniano. Durante séculos o nome cético significou acadêmico.

4- ESTOICISMO

A escola estóica está ligada aos filósofos moralistas socráticos e aos cínicos; estes tinham umas personalidades intelectualmente superiores e uma maior elaboração teórica.

O fundador da escola estóica foi Zenão de cicio, este estabeleceu em Atenas nos chamados pórticos das pinturas (stoà poikíle), decorado com quadros de polignoto, e este lugar deu nome ao grupo. Além de Zenão o estoicismo teve algumas figuras principais como, Cleantes de Asos, Crisipo, panécio de Rodes, Lélio, possidónio e Sêneca. Este último foi mestre de Nero, que cortou as veias por ordem do imperador Romano. Além destes destacam-se epicteto autor das diatribes ou dissertações, escritos em grego, e o imperador Marco Aurélio que escreveu uns famosos Solilóquios, cujo titulo é literalmente a si mesmo.

A principal preocupação do estoicismo é o homem, o sábio. E sua filosofia está dividida em três partes: lógica, física e ética; mas o seu verdadeiro interesse é apenas a moral. Os estóicos são sensualistas. Além disso, a física estóica é materialista e admite dois principio: o ativo e o passivo, isto é, a matéria e a razão que nela residem e a qual chamam deus. Deus é quem rege o mundo, mas ao mesmo tempo é substancia e o mundo inteiro é substancia de deus. A natureza aparece como principio que é a razão, identifica-se com a divindade. Este principio divino liga todas as coisas mediantes uma lei, identificada como razão universal, disto depende-se um determinismo, que estão incluídas na liberdade do homem e no plano geral do destino, que ao mesmo tempo aparece como providencia que por sua vez esta lei divina que chamamos de natureza é a culminação da física estóica e é daí que parte a moral da escola.

A ética estóica funda-se também na idéia de autarquia, de suficiência. O homem, o sábio, tem de bastar-se a si mesmo e buscar a felicidade, sendo a felicidade a virtude. Por sua vez a virtude consiste em viver segundo a natureza: sendo esta racional, e exercer uma ética estóica segundo a razão universal e assim, a nossa natureza põe-nos de acordo co o universo inteiro, isto é, a natureza.

REFERÊNCIA

REALE, Giovanni. História da filosofia: antiguidade e idade média. 7. ed. São Paulo: Paulinas, 1990. v.1. p. 203-211; 237-275.

MARÍAS, Julián. Historia da Filosofia. Prólogo de Xavier Zubiri. 3ª ed. Porto: Almeida, Limitada, p. 96 – 101; 106 – 112.

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 14/06/2011
Código do texto: T3033900
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