Eiras desconformes

Eiras desconformes

Nuns tempos, que eram os nossos, fincaram nuvens em minhas mentes.

Aí provei dissabores, feri, chorei...

Fiz meu tempo, de gosto e conveniência, pensei criar novos dias, sonhos, novos amores.

Fiz isso, mas, essas coisas não existem...

Tentei-te à protelar tudo, por persuasão.

Vi-te então Divina, Serena, disposta aos novos dias.

Os meus eram de covardia,

estava encerrado em dúvidas de maldades,

contabilidades me enlouqueciam...

Meus alfarrábios havia esquecido,

teus livros eram meus bares, meus amores.

Açoitaram-me eles nas madrugadas...

Já tinha me apaixonado por teu charme, tão natural...

Nunca te vi varrer as melenas por completo, como fazem as

vaidosas mulheres, de cima para baixo.

Vi-te sim, singela e delicada, com as mãos às pontas da trança,

uma de cada vez, sem pretensões; mostravas prudência.

Éras menina, menina ainda, tímida, insegura um pouco,

mas livre de enganos e dissimulações; mostravas personalidade.

Tinhas o perfil de mulher moderna e mais o recato.

Nunca te vi destemperada, jamais te vi atacada,

e éras para mim um harém de desejos; tudo tinhas, completa,

Esbelta, Elegante, Linda, Delicada, Gentil, Mui Educada.

Mas tinhas mais que isso tudo: uma Alma leve.

Na verdade, uma Alma perfumada,

encantada, um Espirito de sensibilidade que

me fazia apaixonado.

Éra sonho correr mãos pelo teu corpo, valer-me de tuas curvas,

cheirar-te toda.

Valiam-me tuas mãos, lembra ? Lembra de tuas marquinhas ?

Via-te lúcida e repleta das razões,

via-te também apaixonada por teus sonhos,

desses que são verdadeiros.

Assim, teus sentimentos por nós dois eram suaves e doces, verdadeiros, entrementes.

Até o limiar das mesquinharias que surgiram...

Tua vitória é glória para os dias de hoje.

Valha para ti o Mundo. É teu.

Dou-te os Dias, as Coroas, os Perfumes;

dou-te o Mundo, é teu.

Te vi triste também, umas poucas vezes,

e pensava, que sabias de tramas.

Conspiraram contra nós, fizeram inconfidências;

tantos judas conspiraram de inveja, por dinheiro, por maldades, que covardia;

vão morrer sem sorte, seus dias estão sendo contados.

Queria-te muito,

do jeito meu, para mim, para ter-te e agradar-te,

para correr minhas mãos pelos contornos de tua alma,

beijar teus pêlos, dançar em tuas curvas;

queria teu sorriso, teu sol, queria teu colo, queria-me em ti,

queria-te em mim, buscava calmas para meus açoites.

Queria-te, muito, muito...

Queria teu sorriso, teu sal, teus seios,

queria-me em ti, queria-te em mim, procurava alento para os meus sonhos, também.

Queria-te comigo, vagando por beiras,

em eiras desconformes,

nas esquinas da fome, nos bancos das praças, das minhas praças.

Queria-te muito, muito.

Um dia viestes.

E tua exuberância encobriu minhas reações.

Foste direta, porém suave, e havia você, havia você para mim,

e nada havia em mim,

fui fraco,

esmoreci,

vi-me vencido pela contumácia da resignação,

toda feita de desconhecimentos, pobre de progressos.

Tive medo de tua grandeza, pus-me abaixo de tudo e todos,

tive medo e fugi.

Tivesse fugido para dentro de mim, não sei, dei de encontro com o escuro...

Vi-me fraco, desprovido de personalidade,

para depois ver-me intacto mas inútil,

já manchado e marcado que te falei,

assombrava-me o purgatório,

depreciei-me ali,

era minha penitência, lembra ?

Nossas eiras estavam desconformes. Que revés, que infortúnio, que pena.

Teobaldo Mesquita

Teobaldo Mesquita
Enviado por Teobaldo Mesquita em 30/11/2006
Código do texto: T305478