Tudo igual e de novo - Um pretenso ensaio sobre a contradição humana.

Prólogo

Imaginemos o seguinte diálogo entre um entrevistador e um criminoso:

- Você reconhece que cometeu um erro? – pergunta o entrevistador sem criatividade.

- Sim. – responde o criminoso monossilábico.

- E se você pudesse voltar atrás? – insiste o entrevistador.

Pausa curta para pensar, eis que o bandido responde sem titubear:

- Faria tudo igual e de novo.

Note que o discurso acima citado é absolutamente comum. Hodiernamente recorrente em jornais, revistas e sites. Todavia, a ideia de condição que floresce do diálogo, está presente na atmosfera que nos envolve e não se restringe aos meios de comunicação elencados. É tão normal que não causa maior espanto, é possível até reconhecer um padrão.

Em um exercício pouco ousado, troque o entrevistado por um perdedor sem graça de um reality show. Ou, por um general derrotado, sentado em sua cadeira de balanço, observando de seu exilio a imensidão do mar. Vá além e imagine em seu lugar um politico radical e idealista em seu leito de morte, um empresário falido, ou, até mesmo um pai ausente. A semelhança entre eles estará justamente na homogeneidade de suas respostas.

Como asseverou Alexander Pope “um homem nunca deve sentir vergonha de admitir que errou, o que é apenas dizer, noutros termos, que hoje ele é mais inteligente do que era ontem.” Ora, sendo assim, qual seria o motivo pelo qual reconhecemos nosso erro, mas, dada a oportunidade – impossível pelas leis do tempo – de corrigirmos esse mesmo erro, inflamos nosso peito e dizemos: Faria tudo igual e de novo.

Insensatez, estupidez, ausência de inteligência.

Uns diriam que essa abordagem é muito simplista, outros acusariam de ser por demasiada cartesiana, os mais irritados não temeriam em classificá-la como leviana. Mas, a realidade é que a sua pretensão intrínseca é compreender que a contradição está intimamente ligada à natureza humana. Ela respira e pulsa tão intensamente quanto seus agentes.

Necessário se faz advertir que a referida contradição, não é aquela racional que se disfarça por um propósito, conhecida como hipocrisia. Não. A contradição tema é aquela que brota do âmago humano com a naturalidade de uma mentira. Composta por duas valências, razão e emoção, porém, nunca por razão e razão.

Ps: Escrevo essas linha e as que ainda estão por vir com a certeza do erro, entretanto, inteiramente certo de que se tivesse que escrever novamente, faria tudo igual e de novo.