Falta de qualificação política, falha da democracia.

Os políticos brasileiros se elegem pelo voto direto, bênçãos de um sistema democrático, a tão sonhada democracia. Todavia, quando se encontram em seus postos, cargos públicos de confiança que lhes foram conferidos pelo povo, agem como se fossem senhores dos seus empregos, como alguém que estuda e passa em um concurso, sendo livre de obrigações sociais coletivas. Estes senhores deixam de praticar a democracia, que permitiria acesso livre aos seus gabinetes a qualquer cidadão, uma vez que tudo pertence ao estado, que existe, segundo regra democrática, para servir única e exclusivamente à sociedade, sem nenhuma forma de discriminação.

Há um problema de incapacidade intelectual, consequentemente administrativa. Não se pode, por exemplo, por um médico para governar um estado; este cidadão estudou por anos afio e foi motivado por vocação a ser médico e não governante de um estado ou de um país. Evocando os gregos que foram modelo teórico para este tema, seguindo a lógica da República de Platão, para se ser líder de um povo, senador ou deputado, as pessoas de qualquer classe social eram escolhidas para entrar, desde a tenra idade, para uma escola específica, com o fim de se submeter a uma avaliação de vocação e consequentemente para um longo treinamento na matéria, contudo, depois de atingirem a idade madura seriam então conduzidos ao seu primeiro cargo público, dentro de uma sequência hierárquica justa, começando pelo primeiro grau de importância.

No Brasil e em outros países as coisas são invertidas, o regime democrático, conseguido pela força do capitalismo, não presta ao povo o papel originário da semântica da palavra em questão, “democracia”, exceto pelo fato de que qualquer cabeça oca que tem dinheiro ou padrinhos pode chegar ao poder, mesmo que seja uma besta quadrada sem nenhuma instrução específica, ou mesmo estudo genérico, aquele que é dado nas escolas para qualquer pessoa sem vocação política. Estes senhores quando são colocados em altas posições, embora não conheçam a matéria para qual foram eleitos atuar, logo ganham poder para oprimir e praticam a Anarquia de cima para baixo, tudo lhes é permitido, pois gozam de privilégios que vão do abuso do poder pelo dinheiro à impunidade especial, o dito foro privilegiado.

Não podem ser enquadrados nas leis que pegam os cidadãos comuns.

É fato que todos podem constatar - há um desgoverno. Políticos ganham muito, isto é clichê, mas o fato não é o quanto ganham, e sim o quanto fazem, a violência grassa de forma cruel sobre todos ricos ou pobres, ninguém está imune a ela, e muitas vezes mesmo pessoas abastadas sofrem as consequências deste desgoverno generalizado.

Deputados que se colocam em posição contrária ao governo também não são exemplos para ser copiados, enquanto deviam usar seu cargo e poder público para servir, perdem boa parte do seu tempo em criticar aqueles que estão no poder. Isto é democrático, mas percebemos que este modelo é contraproducente. A meu ver seria mais nobre se posicionarem, mesmo que de forma contrária, para fiscalizar de maneira isenta e justa o governo, contudo exercendo um papel importante, que seria dobrar sua atenção e usar recursos públicos para indicar soluções. Mas o que se percebe é que mesmos estes senhores, com raras exceções, não estão também qualificados para o cargo que ocupam, preferem então fazer discursos e acusações em vez de produzirem solução prática para amenizar a incompetência dos que governam.

Voltando ao tema de introdução deste ensaio com relação aos políticos sem vocação, temos em Brasília soldado que tenta vigorosamente vencer este paradigma, mas não consegue, atuando em cargo importante, não sabe liderar, não sabe planejar, não sabe falar, nem se portar com nobreza diante de importantes questões a serem discutidas, age como se no quartel ainda estivesse, tenta ganhar pela força, mesmo que o sistema democrático não lhe permita usar a força física, usa a tirania do poder, aquele que lhe dá o direito de se omitir da discussão com a sociedade. Estamos pagando um preço alto por não estarmos prontos para esta bela Expressão Democrática, que existe apenas, no nosso caso, para eleger incompetentes. Imaginem senhores que faltando médico em um hospital público para fazer uma operação complexa, onde o paciente necessita da perícia de um bom cirurgião, chamassem um administrador, seja de qualquer espécie, para executar este procedimento, qual seria a chance de sucesso ou de sobrevivência do paciente?