DESILUSÃO MASCULINA

AVISO: CONTEÚDO MACHISTA. LEITURA NÃO RECOMENDADA PARA MULHERES.

“Como pode uma dama me rejeitar?” Esta é a pergunta que vários cavalheiros que se têm em alta conta fazem a si mesmos. Normalmente bonitos, inteligentes, gentis, extrovertidos e levemente ousados, tais tipos poderiam ser alcunhados como perfeitos espécimes da masculinidade humana. No entanto, mesmo esses distintos cavalheiros, que podem ou reunir todas as qualidades acima descritas equilibradamente ou apresentar uma delas em destaque, estão sujeitos à rejeição. Sempre elegantes e perfumados, esses gentlemen jamais compreenderão o porquê de terem sido rechaçados pela bela moça ou mesmo trocados por outro infinitamente menos atraente, pelo menos aos jactantes olhos de um legítimo honnête homme.

O inexpugnável panorama parece emprestado de um plot de animação japonesa: amistoso e cômico no começo, dramático no clímax e quase sempre trágico na conclusão. Sempre disposto a um bom papo, o fino galã aborda a garota educadamente. Os primeiros contatos são os melhores possíveis. A jovem parece divertir-se muito com um bonito e eloquente exemplar do sexo oposto. A conversa, afinal de contas, não tem absolutamente nada de mais. Ambos apenas saciam as curiosidades mais básicas: onde trabalha, estuda, mora, com quem vive, lazer, músicas favoritas, religião, política, sociedade, esporte, relacionamentos passados e mesmo o porquê de ter criado uma conta em determinado website, no caso de um namoro virtual.

Eis que a primeira conversa cessa. O lorde, do alto de todo o seu refinamento, afirma à dama que adorou conversar com ela, que a considerou inteligente, agradável ou mesmo bonita, o que é um elogio frequentemente óbvio, ainda que mulher nenhuma se canse dele. A mulher, taciturnamente dissimulada pela própria natureza, impreterivelmente diz o mesmo, para alegria do ingênuo macho de viúva-negra . Ambos retribuem os elogios e fazem votos de boa-noite, tarde ou dia e juram aguardar o próximo contato. O toque de ousadia do homem o faz requisitar o telefone dela. Ah, ela e o telefone dela! É como a canoa e o rio, é a corda e a caçamba! Não tem erro, não dá outra, vai dar samba! Pelo menos é desse jeito que, lamentavelmente, nos comportamos. Mas o tempo é o senhor da razão. O distinto cavalheiro é constantemente disponível a novas e jubilosas conversas, preferencialmente regadas a sutis galanteios. Mas a mulher, sempre vil, obscura, sibilina e dialética, passa a repeli-lo inexplicavelmente. A sutileza é indefectível. Fugas repentinas do mensageiro instantâneo virtual, mensagens ignoradas, telefonemas não atendidos, encontros procrastinados. O polido lorde, do alto de sua fleuma, não consegue acreditar. Ele jura que não cometeu nenhuma idiossincrasia contra a sorumbática mulher. No cúmulo de, mesmo sob tais condições, não faltar com as normas de conduta e respeito, em vez de questionar o repentino desinteresse da garota, o nobilíssimo monseiur prefere questionar seu próprio comportamento. “Mas o que fiz de errado?” “Será que eu disse algo que ela não gostou?” “Ah, já sei, acho que foi o...” “Quando eu ligar para ela de novo, ela será fria, seca, indiferente.” “Não quererá conversar comigo.” “Só vai me ouvir falar, sem interagir verdadeiramente”. E então o nosso pobre moço começa a inventar profecias falsas de Nostradamus. O início do processo é semelhante a uma árvore jovem e frondosa. Mas a motosserra feminina tratou de derrubar o promissor carvalho plantado pelo homem. A nossa autoestima é fortemente assomada por um piparote. É uma pena Machado de Assis não mais estar entre nós para incluir tal desilusão nas suas Memórias Póstumas de Brás Cubas. No entanto, para narrar essa inglória saga com o tom de dramaticidade que ela merece, talvez precisássemos de um Dostoievski. Coincidência ou não, o romancista russo escreveu um livro cujo título encaixar-se-ia como uma luva para nós: “O Idiota”.

Homens de bom caráter e de comportamento ilibado, por favor, adotem para vós este meu apelo: não façamos tudo o que elas querem. Somos gentis, cordatos, educados, amistosos e humildes. Muitas vezes, para nada. Existem mulheres que não merecem tamanha devoção. Estas são somente para uma diversão momentânea. Uma breve aventura, nada mais. Contudo, para levar uma moça a sério, pensem muito bem. Calculemos o estrago que aqueles intempestivos “mares vermelhos” podem provocar em nossos minúsculos riachos antes de apresentá-las às nossas mães, que obviamente são também muito difíceis de agradar. E certamente, com frieza no raciocínio e autoestima em seu devido lugar, saberemos fazer do que um dia consideramos derrota como mais um capítulo educativo do grosso e complexo livro da vida.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 23/12/2011
Código do texto: T3403162
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