MANIFESTO PELO FEMINISMO

AVISO: CONTEÚDO FEMINISTA. LEITURA NÃO RECOMENDADA PARA HOMENS.

Este texto é uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, mas também pode ser lido como uma resposta ao ensaio “Manifesto pelo Machismo”, do mesmo autor.

Estou cada vez mais convencido de que a mulher foi criada diretamente por Deus. Nós descendemos dos macacos. A mulher sempre esteve pronta; nós levamos milênios e, ainda assim, não chegamos ao pedestal onde jazem a vagina e o seu indecifrável ponto G. A mulher é serena, delicada e sóbria; nós somos rudes, infantis e inseguros. O corpo feminino é uma perfeita obra de arte do Criador: é constituído por múltiplas curvas, reentrâncias e um rosto imberbe, angelical e cativante, o que me remete inclusive às maravilhas do período Barroco. O corpo do homem é um desagradável emaranhado de pelos, barba, agressividade e uma frágil serpente, que carrega abaixo de si o que poderiam ser os frutos que escondem nossos medos. A serpente é frequentemente associada à força masculina; mas basta que os estímulos não sejam adequados para que o vigoroso réptil transforme-se em um flácido verme. Ou seja, é uma imponência muito relativa, não acham?

Normalmente, no intuito de demonstrar alguma superioridade sobre outro homem, nós usualmente apregoamos nossa grande capacidade de conquistar várias mulheres. Mesmo que, com grande frequencia, tais decretos não passem de fanfarronice, creio que, inconscientemente, o homem praticamente assume sua posição de inferioridade. Basta raciocinarmos: um homem que conquista várias mulheres é poderoso. Mulher é poder. E um homem solitário não é nada.

Mulheres, vocês não se perguntam certas vezes como é que nós conseguimos apresentar um comportamento tão lamentável? Estou falando das famosas cantadas, meninas! Sim, aquelas frases prontas, batidas e muitas vezes grosseiras. E que nós usamos com o fortuito intuito de conquistar vocês. Infelizmente, são nesses momentos que demonstramos que a educação fornecida por, ora vejam só, nossas mães, nossas mulheres originais, parece repousar em algum canto obscuro de nossas torpes almas másculas. Podemos estar concentrados em quaisquer atividades que vocês possam imaginar, mas não adianta. Simplesmente não podemos resistir a um exemplar do belo sexo, desfilando com seu justificável ar de superioridade, bem-arrumada, cheirosa e projetada para o firmamento sobre sensuais saltos altos. Nossa alma feia, suja e malvada, traduzidas em um traje surrado, malcheiroso, encharcado de suor e poeira, dentro de um reles primata que deveria manter a postura, afronta-as com bestialidades como “caiu do céu? Pois parece um anjo”, ou ”não sabia que boneca andava”, além de “cancelem as fritas que o filé chegou”. A depender da criatividade (ou a falta desta) do ser fálico, a cantada pode ser reduzida a meros, mas não menos rudes “gostosa”, “delícia” ou o assobio, que representarei aqui com a onomatopeia “fiu-fiu”. Garotas, talvez vocês argumentem dizendo que capricham no embelezamento justamente para provocar essas situações. Sim, vocês sentem-se jactantes, e com razão. Pois são esses os momentos em que o homem admite ser pequeno, ao não conseguir demonstrar impassividade ao charme e beleza da mulher.

Mesmo o homem fino precisa ser dotado de coragem e classe para abordar adequadamente uma mulher. Por mais que nossa vontade seja transparecer uma imagem de fortaleza inexpugnável, perto de uma mulher somos só garotos, como cantou Leone. É isso que, muitas vezes, distingue um homem bom de um ruim: a sua comunicação com o sexo oposto. Nada mais. À mulher já cabe a decisão de decidir ou não pela existência de um homem; assim também o é após deixarmos os ventres femininos que nos abrigaram. Na paquera, o homem gosta de se comportar como o caçador e ver na mulher sua caça. Porém, ao perceber que é tratada como um pedaço de carne, a mulher descarta o homem como se este fosse uma tripa. E assim aprendemos que com mulheres não se brinca. Sua racionalidade não as permite retroceder. Suas atitudes são justas, e não é à toa que a Justiça é representada por uma mulher.

Pusilânime com tamanho potencial, o homem impingiu à mulher os mais variados tipos de sevícias. Para tal finalidade, o sexo masculino recorreu ao que lhe restou: sua força bruta. E, além de bruta, acrescento ser estúpida, uma vez que isso não se converteu em resistência. A mulher resiste às inimagináveis (para mim) dores do parto; nós mal sabemos suportar uma gripe. Sem saber aceitar a capacidade de crescimento do sexo feminino, o homem a impediu de estudar, manteve-a em masmorras, colocou-a em fogueiras, estuprou-na e impôs a ela o totalitarismo de um casamento em que ele fez questão da imagem de líder.

O homem viu o jogo virar. Meninas, vocês já leram ou assistiram “Lolita”? Perceberam como um senhor até então respeitável, correto, ilibado e estável ausenta-se completamente de suas faculdades mentais por conta de uma mulher ainda em formação? Ora, ora, conclui-se que o sexo masculino, autointitulado viril, valente e sagaz, pode ser totalmente desestabilizado por um único e involuntário capricho feminino.

Colegas de mesmo sexo, eu creio que a curiosidade despertada por um título tão ousado não ia deixar de fazer com que lessem o texto, talvez pensando ter sido feito por uma escritora mal-depilada e mal-amada. Talvez meus leitores de outros carnavais não acreditem que o mesmo autor de “Manifesto pelo Machismo” dê a impressão de ter voltado atrás em seus ideais. Todavia, retroceder não faz parte do meu comportamento. Eu apenas decidi mostrar o outro lado da moeda. Simples assim. É melhor eu parar por aqui. Esse ensaio foi um tapa de luva de pelica aplicado em seu próprio autor. Mas de qualquer forma, elas merecem! É o dia delas! Mas e os outros 364, são nossos?

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 08/03/2012
Reeditado em 19/03/2012
Código do texto: T3543129
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