A BORBOLETA

Me perco admirando o bater de assas da borboleta que invade, sem consentimento, meu quarto.

Meu mundo.

É que me apego a coisas simples, fatos corriqueiros, desprezíveis mesmo. Como se lá no fundo isso tivesse alguma importância para mim.

Talvez até tenha, mas não faço de propósito, é de um jeito torto. E isso é o que me faz ser diferente nesse mundo todo igual.

Não que seja errado ser igual. Mas eu, particularmente, gosto de ser diferente. Pouco a pouco fui me desligando de meus heróis.

Desde a infância, tenho preferência pelas coisas concretas, nada de suposições, me canso rápido das fantasias. Nunca soube mesmo sonhar acordado, e não me incomodo com este fato. Afinal, isso não é de todo tão ruim assim.

Isso é o que me faz humano.

Nem sei por que estou escrevendo essas coisas hoje... É que tinha uma borboleta preenchendo no meu mundo. E quando eu já estava me acostumando com todas essas cores, num bater de assas, ela se foi.

Nem vi ao certo, mas sei que ela partiu.

Confesso que não me assustei com a partida, estou habituado com pessoas que vem e vão.

A vida é um pouco isso também.

Talvez seja por isso mesmo que tenho certa resistência em abandonar pessoas. Ainda não aprendia a dizer adeus.

É que não gosto de me sentir só. Mas ninguém gosta, não é mesmo? E isso faz de mim apenas mais um.

A janela do meu quarto, aberta, da passagem aos raios de sol dessa tarde quente e pesada. Geralmente gosto do calor, já que pra mim é sinônimo de alegria, mas hoje não. E só não fecho a janela, por que a borboleta pode voltar.

E espero.

Fantasio um reencontro. E construo em minha mente, toda esperançosa, o abraço aconchegante depois do adeus. Não sei até que ponto, mas essa esperança me torna humano. Coisa que, com certeza, eu sou.

E cansado, me ocupo com outros afazeres, evitando olhar pra janela, diminuindo a excitação e a expectativa. Já nem espero mais pela borboleta, faz algum tempo, que sei: Ela, a borboleta, não virá.

Agora o sol começa a se por.

É quase noite, e ainda não fecho a janela.

Porque essa esperança me torna, de alguma forma, mais humano.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 25/03/2012
Reeditado em 27/03/2012
Código do texto: T3575620