A graça de quem só sabe esperar.

A lágrima doce que percorre a face, perde-se no vazio, e toca o chão.

O nada em seu caminho, e um mundo à frente.

Quase sempre nos perdemos em meio a divagações e questionamentos sem fundamento nenhum.

É que muitas vezes não sabemos sonhar.

A mesma roupa, o mesmo penteado, os mesmos passos.

E ela caminha.

O amanha inseguro e um pingente sobre o peito, é tudo o que ela precisa pra viver.

Nunca fora exigente mesmo.

E o pingente, é seu amuleto, um relicário sem fechadura, onde ela esconde toda sua dor e incerteza.

Porque ela já nem consegue acreditar.

Dia após dia, novos passos, e um destino incerto, é sua rotina diária e vivida.

E hoje, apenas hoje, ela sente um pouco de cansaço, mas não se permite parar.

Na verdade ela já está bem acostumada a sentir casaco, e até gosta, porque estar cansada é sair um pouco da rotina.

É que nem sempre podemos ser nós mesmos.

A vida nem sempre é feita sobe medida, e como um ceifeiro de uma terra desgovernada, não sabemos o que esperar da colheita, só podemos mesmo é esperar a hora certa, e colher o fruto que nos cabe. Porque lá no fundo, a natureza só nós dá aquilo que merecemos.

Ela espera.

Então, quando o cansaço vem, o que não é sempre, ela permite e da vazão ao sentimento. E ele, o tal cansaço, a vai inundando pouco a pouco. Às vezes começa dos pés em progressão vertical até alcançar quadril, ombros, nuca e cabeça, outras vezes, ele segue o caminho inverso, mas nesse caso, sempre começando do ombro, quadril, panturrilha e, por ultimo, os olhos, que pesam e se fecham. Nesses casos o sono vem.

Mas não é para dormir que ela se deixa tomar pelo casaco, ela não precisa dormir, não é disso que ela sente falta. É da monotonia que ela está afadigada, e sentir cansaço por mais louco que possa parecer, é sua fuga da realidade, seu escape de um mundo todo construído contra ela.

Outra lágrima cai.

Quando está cansada, e de olhos fechados, ela se perde num lugar todo dela, construído por ela e para ela. Onde ela pode se refugiar. É um lugar inacessível, o mais profundo de si mesmo,o mais longe onde ela já pode chegar, mas é também o seu todo.

Ele se permite o repouso.

Porque lá no fundo ela é puro casaco.

E ela acorda.

O descanso da fadiga, só acaba com o despertar das pálpebras, que se abrem e a resgatam para a vida.

E ela experimenta a plenitude de ser.

Então o punho direito alcança o talismã oval acomodado contra seu peito, e ela reza.

Ela busca no desconhecido um pouco de fé.

Porque a fé também é construída pouco a pouco, assim como a coragem, a esperança e o hoje.

Ela agora sonha.

E pede mesmo, fervorosamente, porque fé só pode vir de fora pra dentro.

Então ela colhe toda essa fé, e inspira no relicário confiança.

A mão esquerda enxuga a face, ainda um pouco molhada, e alguns novos passos em direção ao norte.

Ela já não espera.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 06/04/2012
Reeditado em 06/04/2012
Código do texto: T3598471