A TENTAÇÃO DO HOBBIT

A TENTAÇÃO DO HOBBIT

{(Texto extraído do livro SENHOR DOS ANÉIS,

do autor J. R. R. TOLKIEN, página 953)}

SAM percebeu muito claramente como seria sem esperança a sua tentativa de arrastar sob aquelas paredes de muitos olhos e passar pelo portão vigilante. E, mesmo que conseguisse, não poderia avançar muito na estrada vigiada: nem mesmo as sombras negras, que pairavam nas profundezas onde o brilho vermelho não alcançava, poderiam protegê-lo por muito tempo dos ORCS e de seus olhos noturnos. Mas, mesmo que a estrada não oferecesse esperanças, sua tarefa agora era muito pior; não se tratava de evitar o portão e escapar, mas de entra por ele, sozinho.

Seu pensamento voltou-se para o anel, mas ali não havia consolo, só terror e perigo. Logo que conseguira avistar a montanha da perdição, queimando na distância, SAM percebeu uma mudança no seu fardo. À medida que se aproximava das fornalhas onde, nas profundezas do tempo, o anel fora forjado e moldado, seu poder crescia e ficava mais cruel, não podendo ser controlado a não ser que houvesse uma vontade poderosa. E no momento que SAM parara ali, mesmo sem usar o anel, tendo-o apenas pendurado no pescoço, ele próprio se sentiu maior, como se estivesse vestindo uma enorme sombra distorcida de si mesmo, uma ameaça enorme e ominosa parada sobre as muralhas de Mordor. O Hobbit sentia que de agora em diante só tinha duas escolhas: abster-se do anel, embora isso pudesse torturá-lo, ou reivindicá-lo; desafiando o poder que se sentava em seu escuro domínio além do vale das sombras. O anel já o tentava, devorando sua vontade de raciocínio. Fantasias loucas despertavam em sua mente, e ele via SAMWISE, o forte, herói do seu tempo, caminhando a passos largos com uma espada flamejante através da terra escurecida; e exércitos se arrebanhando a um chamado seu, no momento em que marchava para derrotar Barad-dûr. E então todas as nuvens se dissipavam, e o sol branco brilhava, e a uma ordem sua o vale de Gorgoroth se transformava em jardim de flores e árvores que davam frutos. Ele só tinha que colocar o anel e reivindicar a sua posse, e tudo isso podia acontecer.

Naquela hora de provação, foi o amor por seu mestre que o ajudou a manter-se firma; mas também, no fundo do seu ser, ainda vivia independente seu senso simples de Hobbit: sabia em seu coração que não era grande o suficiente para carregar tal fardo, mesmo que aquelas visões não fosse apenas uma mera ilusão para atraiçoá-lo. O pequeno jardim de um jardineiro livre era tudo o que desejava e de que precisava, não um jardim expandindo em um reino; queria trabalhar com as próprias mãos, e não ter as mãos dos outros para comandar.

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 14/07/2012
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