Filosofia Da Arte

INTRODUÇÃO

A arte é algo que existe antes mesmo de ser denominada tal, as pinturas rupestres demonstram o que falo, são representações de um povo, de uma cultura e suas respectivas “singularizações”, são uma exterioridade intrínseca. Um povo que não tinha um conceito de arte, nem do belo, eram apenas exteriorizações de uma gente, suas vidas cotidianas. Não quero dizer com isso que suas expressões devam ser consideradas como arte, porque afinal, estou tentando buscar a definição de tal, se é que existe, mas estou apenas tentando dizer que a busca por uma identidade, a necessidade de colocar os sentimentos pra fora, o expressar-se como forma de singularizarão, de costumes retratados por um povo, sempre esteve presente no universo. É também notável a presença da música antes mesmo de sua apreciação como tal. Nos clamores de povos escravos pela sua libertação, no bater de tambores nas festas das tribos. Mas também não quero dizer com isso, que a arte seja esta livre expressão, desprovida de estilismos e conceitos, mas também por que não?

Na obra de Nietzsche, “O nascimento da tragédia”, ele fala de Apolo e Dionísio, o primeiro como ordem e sobriedade e o segundo como embriaguez e caos, e dá sua opinião em relação a música, principalmente em relação a música de Wagner, dizendo que a música, claro que aqui falando a da sua época, perdera seu aspecto dionisíaco em detrimento do apolíneo. Nietzsche não via esta mudança que a música de Wagner provocou com bons olhos e mesmo este sendo seu grande amigo Nietzsche faz críticas ferrenhas a sua nova música, que o filósofo vai comparar, e com toda a razão em minha opinião, ao nacionalismo alemão.

O que pretendo mostrar neste diário é as variantes dos aspectos estéticos, bem como as concepções do que seria a criação me focando principalmente na música, desde o nacionalismo, “fin du siécle”, ao impressionismo de Debussy e expressionismo de Schoenberg, só para citar alguns exemplos. Claro que explorarei a arte em geral, e o que foi e o que é considerado arte como um todo.

ARGUMENTO

O tempo é dividido pelos estudiosos em quatro partes: Clássico, Medieval, Modernidade e contemporaneidade. Notemos que o período clássico é bastante influenciador pra os próximos períodos por suas características, principalmente artística e de descobrimento das ciências que terão grande impacto no futuro. Pelo menos a idéia do Belo pelos gregos, a admiração pela physis, o valor da ordem e da beleza serviu de inspiração para todos os artistas posteriores. É no classicismo que surge o conceito de Sophia(sabedoria), por volta do século v a.c., e posteriormente a filosofia é objeto mais nobre de se conhecer e estudar, fazendo desta época centro da racionalidade, e não poderia ser diferente na arte da época e nas obras que eram produzidas,quero dizer, com a efervescência produzida pela filosofia e o encantamento pelos ensinamentos de ordem política e religiosa. A arte em sua maioria reverberava o momento de sua época. Com isso era comum ver esculturas, quadros, quase sempre representando um homem musculoso ou os líderes como figuras de deuses, arte esta que se devia, principalmente pelo poder do estado na população. Então, podemos observar, que a arte clássica na Grécia é conseqüência da idéia do estado e da filosofia da época.

O que acontece na Grécia, que influencia parte da Sicília e se espalha pela Europa, esta forma de fazer arte valorizando a beleza, a admiração, a perfeição como base para as obras é uma interiorização, a retirada de idéias de um mundo inteligível de que falava Platão, e colocadas na objetivação de suas expressões artísticas não foi o mesmo acontecimento da arte no medievo. O que antes era interiorização e subjetivismo, dá lugar a contemplação e exterioridade, agora sendo voltada, a arte, a um único objetivo, que é a mostração do divino e com isso a opressão da igreja com tudo que não fosse voltado aos dogmas católicos. Talvez tenha me equivocado ao falar de arte neste período histórico, já que não havia expressões próprias e sim representações de um objeto para outro, o que eu poderia chamar de “arte, enganadora arte!”. Mas poderíamos dizer que existiram artesões, pois só na modernidade há um renascimento e cria-se a idéia de gênio, mas no medievo há tamanha opressão que era a própria igreja que definia o que seria arte ou não.

Porém, a modernidade chega como uma bala de canhão, destruindo o pensamento medieval e trazendo consigo todas aquelas idéias renascentistas e de valorização do homem (antropocentrismo). Em relação a música, a modernidade trouxe sonoridades novas, agrupamentos rítmicos nunca antes testados e sua influência até os dias contemporâneos, pois é até impensável se fazer uma música sem recorrer as tendências deixadas pelos músicos antecessores.

Claro que a arte da música tem passado desde o século anterior (modernidade por uma convulsão violenta. Por toda parte a variedade de estilos que se apresentam como música tem deixado as platéias, críticos e músicos de um lado entusiasmados e de outro, pasmos ante a quebra de tradição musical. Mas já se tornou obvio, de uns tempos pra cá, mesmo para o ouvinte apático, que a arte da música vem passando por um período de mudança revolucionária. Embora esse rompimento com o passado tenha começado há mais de cem anos, ainda há pessoas que não se recuperaram do choque. A música vem evoluindo, mas elas permanecem as mesmas. Não obstante, sabem, no íntimo, que a evolução na música, como em todas as artes, é inevitável. Afinal, porque deveria eu, vivendo num tempo como o nosso, escrever música que refletisse outra época? Assim fazendo, estamos simplesmente seguindo o exemplo de revolucionários como Beethoven e Wagner. Também eles buscaram novas possibilidades de expressão musical, e as encontraram. É fato que toda a história da música é uma história de contínua transformação. Nunca existiu um só grande compositor que deixasse a música exatamente como a encontrou. Isso aconteceu com Debussy e Stravinsky. Portanto, só nos resta concluir que o período de transformação pelo qual a música passou na modernidade e, não com tanta intensidade, mas tem passado nos dias atuais é, ao contrário do que muita gente acredita, um período inevitável, parte da grande tradição da música através dos tempos.

PERDI O BONDE E A ESPERANÇA

VOLTO PÁLIDO PARA CASA

A RUA É INÚTIL E NENHUM AUTO

PASSARIA SOBRE MEU CORPO

VOU SUBIR A LADEIRA LENTA

EM QUE OS CAMINHOS SE FUNDEM.

TOS ELES CONDUZEM AO PRINCÍPIO

DO DRAMA E DA FLORA

NÃO SEI SE ESTOU SOFRENDO

OU SE É ALGUÉM QUE SE DIVERTE

PORQUE NÃO? NA NOITE ESCASSA

COM UM INSOLÚVEL FLAUTIM.

ENTRETANTO HÁ MUITO TEMPO

NÓS GRITAMOS: SIM! AO ETERNO

(Soneto da perdida esperança, Drummond)

As palavras Sophia e Sophós eram muito usadas pelos gregos antigos em diferentes contextos, como por exemplo o de “saber-fazer” . Este saber-fazer seria, talvez, o que a própria expressão nos diz, um saber fazer em tudo e que serviria também para as artes e bem presente nos poemas como por exemplo em Hesíodo:

“Feliz é quem as musas amam, doce de sua boca flui a voz. Se com angústia no ânimo recém-ferido alguém aflito mirra o coração e se o cantor servo das Musas hineia a glória dos antigos e os venturosos Deuses que têm o Olimpo, logo esquece os pesares e de nenhuma aflição se lembra, já os desviaram os dons das Deusas.”

Nesse poema já podemos notar a idéia fundamental da antiguidade, que era o valor psicagógico do discurso e da importância da habilidade oratória. Se na antiguidade existia uma valorização do discurso, da razão e do belo, em contrapartida a contemporaneidade traz a visceralidade, quebra de tradição e mostração de temas comuns, não só a uma elite privilegiada, mas a toda sociedade. Esta quebra de paradigmas, em especial a que ocorreu com a música do século xx, com um enfoque mais objetivo i impessoal, e a busca por um ideal mais universal, deu a música um gradativo afastamento da tradição musical germânica que reinava no século xix. Claro que considerável proporção da música ouvida hoje, foi criada no século passado, e sua maior parte provém de países de língua alemã, por isso, nada de realmente novo tinha sido possível em música até que se formasse uma reação contra essa tradição.

Tudo isso que acabei de falar é algo distante do mundo grego, do herói astuto, do “cosmos” grego de ordem e diligência. Essa transformação que mencionei da música moderna, no ideal expressivo da nova música foi a princípio quase que inteiramente obscurecida por um certo número de surpreendentes inovações introduzidas, mais ou menos na mesma época, em nosso vocabulário musical. Falo dos acordes dissonantes e ritmos complexos que, na mente de muitas pessoas, são sinônimos de música moderna. Mas convém não se deixar impressionar por esses novos elementos musicais, pois eles são meras marcas superficiais da música moderna. Durante a metade do século passado a nova música foi constituída básica e exatamente dos mesmos elementos da música antiga. É desnecessário dizer que ela tem melodia, forma, ritmo e harmonia como os tem a música comum. Mas cada um desses elementos foi ampliado e enriquecido. Tais modificações tornam por vezes a nova música difícil de compreender a quem não a tem ouvido bastante. Numa palavra, música moderna é em essência a expressão, em termos de uma linguagem musical, enriquecida de um novo espírito de objetividade, sintonizado com nosso tempo.

“Existe, por acaso, um princípio anímico subjacente a criação? Ponto obscuro, um item da gênese e das fontes que implica numa investigação psicológica frequentemente falaz(...) Entra-se no território do factício. A matéria prima transformada pela fantasia ou a fantasia se transformando, por sua vez, numa conversão à realidade(...) Os dois planos são plausíveis e lícitos.”

(Leônidas Câmara)

Uma das primeiras teorias sobre a criação, que passou a despertar grande interesse foi a afirmação de Aristóteles de que a tragédia “suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções.” Para Aristóteles os homens têm sede de emoções violentas e a arte as satisfaz porque purifica as paixões, as enobrece e as harmoniza. Para ele, o medo e a piedade são as paixões predominantes na arte trágica.

A tendência de estender essa purificação também ao escritor é conhecida, o que nos põe já na questão psicológica do autor. Dessa forma esta ação criadora seria também libertadora como fala Goethe depois de ter escrito “As memórias do jovem Werther:

“Com esta composição (...) havia me libertado daquele estado tempestuoso e apaixonado ao qual havia sido arrastado violentamente por culpas próprias e alheias.”

Já “Flaubert, aconselhava que se mergulhasse profundamente na literatura como única maneira de suportar a vida. Eu poderia dizer que a arte em geral é uma forma de amenizar as dores do mundo, que até sendo platônico, de idéias e sonhos transfenomenais.

O leitor seria libertado de emoções que já levaria consigo ou de emoções provocadas durante a leitura, ou os dois aspectos seriam, simultaneamente, verdadeiros?

A afirmação de Aristóteles ensejou diversas interpretações: a catarse foi considerada ora como refúgio, ora como compensação, ora como evasão, ora como êxtase, etc. É desta forma que procede o professor Raúl Casgnino ao responder à pergunta “o que é a literatura? Sendo a poesia uma fuga, uma evasão da vida, restaria saber porque a existência não satisfaz. Como a identificação como o conflito de uma personagem ou como um estado de ânimo configurado no poema completaria a existência? Podemos dizer que as ilusões e os projetos que todo indivíduo abriga podem ser vividos antecipadamente na literatura? Mas, de que forma a personagem da ficção, torna-se um meio para tirar momentaneamente o indivíduo de um meio ambiente que lhe desagrada? Uma alternativa é a que sugere Ernst Fischer:

“Se não fosse da natureza do homem o não ser ele mais que um indivíduo, tal desejo (o de unir o seu “eu” limitado com uma existência “social”) seria absurdo e imcompreensível.O desejo do homem de se desenvolver e completar indica que ele é mais do que um indivíduo. Sente que só pode atingir a plenitude se se apoderar das experiências alheias (...) A arte é o meio indispensável para essa união do indivíduo com o todo (...), defendendo o distanciamento dos efeitos diretos da obra sugere que a arte deve agir, antes, intelectualmente do que emotivamente; Assim o espectador terá condições de compreender as deficiências da realidade e tentar corrigi-las. Diz Brecht:

“(...) o espectador virá ao teatro para divertir-se assistindo às suas próprias atribuições (...) para sofrer os impactos das suas transformações (...) (de modo que) seja levado a pensar no curso da peça (...) – não era assim que devia ser (...) precisa deixar de Sr assim (...)”

O ATO DE CRIAÇÃO

Uma das grandes problemáticas da arte é entender o ato de criação. O que é criar? Talvez essa seja a pergunta que leva a resposta chave de dizer o que é arte. Nos dicionários o criar é explicado como tirar do “nada”, claro que é algo, mas pegando um embargo aristotélico, eu poderia dizer que esse nada possui certa substância de nada e uma certa unidade em relação ao que é sensível. Por exemplo, um quadro é formado de tela e pigmentos. Mas a tela a ser pintada e os pigmentos não se fazem notar, ficam nada, quando o quadro está presente. Não vemos o material: pigmentos, vemos intensidade de cores, luzes, sombras; não vemos o material: tela, vemos um espaço pictório, oque é diferente nas coisas fabricadas, como geladeira, TV, rádio, carro,etc.

Se levarmos em consideração o campo físico-matemático teremos dois fatos:

1. Não é criação- o problema existe como tal e seus elementos como tal não se colocam na equação que se arma segundo determinados princípios conhecidos de antemão, usando os materiais do problema.

2. Sim é criação científica- um problema não é dado previamente. O cientista o arma a partir de observações que se apagam por si mesmas, uma vez armado o problema, se colocando dentro de uma generalidade.

De qualquer maneira não fica-nos claro o que é criar. Seria necessária uma pesquisa aprofundada. O que pelo menos para mim, que sou músico e que componho, tanto poemas e poesias como música, é que a criação se dá através da experiência e do uso da técnica para expressar a subjetividade e a sensibilidade que estão no interior, exteriorizando isso tudo através da criação que é um processo autônomo e ao mesmo tempo de interelação com o mundo, é o ser no mundo.

Foi a partir da renascença que a valorização do artista como tal começa a ser percebida, o ato de criação é a forma mais sublime de arte e o valor dado a obra, que antes era total e exclusivamente voltado ao belo da obra em si, a partir dessa época é posta a atenção para os artistas e o processo de criação, tanto é, que suas obras passam a ser assinadas com seus nomes.

Para Freud, “o artista é, basicamente, um introvertido, em virtude da dificuldade que sente em adaptar-se a realidade em decorrência dos seus fortes impulsos.” Não podendo satisfazer diretamente as suas exigências, realiza-se no mundo da fantasia, o que para Freud, aproxima-o dos que tem pertubações mentais. Dessa forma, a salvação do artista, porém, é inegável, já que encontra, como afirma Freud, um caminho de regresso à realidade em virtude de certa flexibilidade que permite o seu distanciamento dela sem perder, contudo, o contato de forma absoluta.

A posição de Freud lembra as concepções do romantismo, já que nessa fase que se origina a idéia de arte como fuga da realidade, por conta da crença na rejeição da realidade como pré-condição e impulso para criação poética.

A verdade é que as abordagens de Freud revolucionaram os métodos acadêmicos, se destacando o que constitui o aspecto mais original da sua teoria da arte: a sublimação, que em suas palavras é o “desvio de um impulso do seu objetivo direto, mas censurável, para uma satisfação indireta mas socialmente aceitável. Enquanto na neurose o “ego” é, no conflito com o “id”, derrotado, na sublimação ocorre, contudo, a vitória do “ego”, que, em conjunto com o “id”, sobrepõe-se ao “superego”.

Já para Jung, o processo de criação artística é um problema transcendental e que está para além de qualquer exame psicológico ou filosófico. Para ele o artista se divide no momento da criação, em dois pólos, o pessoal e o impessoal.

A MÚSICA

É difícil datar o começo da música, se é que existe tal pretensão. Mas o que se sabe é que sua grande alavancada se deu no período clássico e suas repercussões são sentidas até hoje, principalmente da música alemã.

É interessante notar que, tanto nas artes como na filosofia, os alemães foram os que exerceram maior influência no ocidente, seja pelo racionalismo nacionalista ou pelo idealismo patriota. Fica bem claro a intenção germânica de uma unificação, de um nacionalismo e de um único povo e não seria diferente na música, onde Wagner é um dos principais expoentes deste nacional alemão.

Parece-me que a música na Europa dos séculos XVII, XVIII e XIX tinha uma relação quase que intrínseca com o povo, a sociedade e com a necessidade de falar algo em forma de acordes. Não sei se pelo caráter idealista da Alemanha, ou pelas correntes libertárias na França, ou pela retomada de valores renascentistas a música desse período expressa a voz de um povo e de uma autoafimação musical e social embebidas de criticidade e quebra da estética em vigor. Contudo, fica difícil uma abordagem de caráter musical vanguardista no Brasil? Penso que não.

A vanguarda seria impossível no mundo grego ou renascentista, não porque nestes estágios a civilização estaria atrasada, mas porque a idéia de invenção não teria resposta imediata no estágio social destes períodos. Na pretensão de que a arte pode ir além do estágio social, superando pela inventiva o que o real processo econômico não poderia suscitar, muitos segmentos de vanguarda cederam a uma irreal hipótese de trabalho, tanto mais irreal quanto passaram a ignorar sua própria situação na sociedade brasileira. Se a invenção vai à frente da sociedade, cabe à sociedade segui-la, ainda que isso seja impossível. Podemos ver um avanço no nacionalismo brasileiro quanto a ampliação do espaço sonoro como objeto de arte ou de simples inquirição, muito além dos parâmetros do artístico, foi apenas algumas das contribuições que compositores como Gilberto Mendes trouxeram à música brasileira.

Claro que não há nada que possa ser contrário a vanguarda musical brasileira dos anos cinquenta nos termos de suas próprias propostas de renovação. Mas a análise ou a falta de tal à propósito da sociedade brasileira pesa sobre a vanguarda, na mesma medida em que os nacionalistas se recusaram a considerar a questão do universal.

A questão ideológica que definiu a vanguarda, entretanto, não toldou o trabalho dos seus músicos. Haveria, certamente, que atentar para este aspecto: no nacionalismo a visão otimista de uma nacionalidade que se confunde com o industrialismo, com os objetivos nacionais, não impediu que a música brasileira tivesse seus bons compositores. Por serem servientes de algumas ilusões, nem por isso toda a sua música foi uma ilusão. O mesmo vale para a vanguarda. E não que as coisas não tenham a ver entre si, a ideologia ufanista, a ideologia do poder com a música e vice-versa.

A definição de Rousseau do que seria a música, como arte que busca o belo através dos sons, não define muita coisa e deixa em aberto exatamente o aspecto em que a poética é, afinal, essa dimensão indeterminada e, ao mesmo tempo, muito precisa na sua relação com um tempo que é próprio da música, mas numa mesma medida, próprio do tempo dos homens e do mundo.

Em um país de pobreza e miséria, corrupção e baixo nível cultural, não parece relevante para muitos falar de uma vanguarda da música nacional. Mas para os músicos como: Guerra Peixe (violinista), Eunice Catunda (pianista), Claudio Santoro (violinista), Koellreuter (regente e flautista) e o próprio Gilberto Mendes, o ufanismo brasileiro se dá através da música e suas mais belas expressões. Não citei os músicos mais conhecidos por achar que a música não foi composta, aqui no Brasil, apenas por Villa-Lobos, mas por uma carrada de profissionais muitas vezes anônimos e que fizeram esta arte maravilhosa. Mas como saber se, o que fizeram, era realmente arte? Deverá a estética preocupar-se com esta problemática? Para responder a estas perguntas, vamos fazer uma breve história da música.

Os arqueólogos encontraram uns pedaços de ossos, não muito bem intactos e que podem ter sido os primeiros instrumentos musicais da humanidade. O que se sabe é que, a mais de três mil anos já se fazia música no Egito dos faraós, o que se obsrva através das pinturas com pessoas tocando flauta, harpa ,tambores e muitos outros instrumentos.

Já na Grécia a música sempre esteve presente ligada aos deuses, entre eles havia o protetor de tal arte: ele chamava-se Apolo, e além da extraordinária beleza física, possuía a habilidade de tocar maravilhosamente todos os instrumentos musicais, mas um dia, um tal de Mársias falou que era um flautista muito melhor que Apolo, e este ficou tão furioso que lhe arrancou o coro, diz a lenda.

Podemos notar que na Grécia antiga a arte estava muito ligada ao divino e a ordem, consequentemente o belo era o tema central dos artistas.

Na idade média, praticamente não existiu arte e a música do período era traçada conforme o gosto clerical e as concepções da religião em poder. Mesmo com a opressão e as imposições feitas pela igreja, dessa época saíram belas formas artísticas, muitas delas compostas por artistas que serviam a igreja.

Na música este período é um dos mais sombrios para quem exerceu o ofício e de certa forma frustou a criatividade de toda uma época. A proibição de acordes que, na mentalidade dos beatos da igreja, eram do demônio, como o “trítono”, os acordes diminutos, pois eram esses, formados com a tônica do acorde, a terça menor do acorde e a quinta bemol ou diminuta, e em uma época onde a visão do cosmos e de Deus criador estava tão arraigada no povo, na música não poderia haver algo diminuto, menor, que desse uma idéia de quebra do uno. Por esse motivo, as músicas tocadas na igreja eram em tons maiores e sempre voltavam para o tom primeiro. Uma música do medievo geralmente dá uma sensação no ouvinte de grandeza, de unificação, de poder, analisando esteticamente a música produzida nesse período é de caráter simbólico e representativo, diferente do fim da modernidade, onde o expressionismo é o ponto principal da música.

Na renascença, a criação musical passou a ser mais livre e seus artistas, agora não faziam a música para a igreja, mas para o povo, a música era caráter unificador, de diálogo e de libertação. Se na idade média o uso da razão era o fator principal, já na renascença a sensibilidade, que acompanhada da razão, fizeram uma balança, é desta junção que surge a concepção de gênio, a visceralidade e subjetividade musical, com a razão e a técnica de um artesão.

O domínio da técnica passou a ser buscada com maior vigor, não para usá-la como um artesão, mas para expressar o seu interior, a sua subjetividade, com perfeição e com sensibilidade, fazendo da musicalidade desta época, sinônimo de evolução e libertação de seus artistas. O fator ideológico e político da época mencionada se contrasta com sua música e sua arte em geral e constrói o homem com o nome de seu tempo: renascido!

Poucas são as pessoas e os próprios músicos que se dão conta de como estamos musicalmente dominados pela tradição romântica do século XIX. Considerável proporção da música ouvida hoje em dia foi criada naquele século, e sua maior parte provém de países de língua Alemã. Nada de realmente novo foi possível em música até que se formasse uma reação contra essa tradição. Daí que a história da música moderna pode ser considerada como a história do gradativo afastamento da tradição musical germânica do século passado.

O romantismo alemão era altamente subjetivo e pessoal na expressão de suas emoções, já o compositor do século XX buscava um ideal mais universal, tendendo a ser mais objetivo e impessoal em sua música.

Na obra do compositor clássico, a própria criação musical dá amplos sinais de ter sido concebida num espírito de objetividade. Paira sobre ela, a música, em certo ar de impessoalidade, e nela não parece existir nenhuma ênfase indevida da mensagem emocional. Para o compositor clássico era aparentemente evidente e axiomático, que os sons musicais fossem, por sua própria natureza, veículos de emoção. Não havia necessidade, portanto, de concentração sobre coisa alguma a não ser a manipulação dos materiais musicais, e manipulação empreendida com gosto refinado e habilidade de artesão.

O romântico, por outro lado, partia de uma premissa inteiramente diferente. Começava com a idéia de que sua música era sem igual, sem igual em virtude do fato de que era fundamentalmente uma expressão de suas próprias emoções pessoais. Essa atitude subjetiva colocava toda ênfase na exibição aberta e desinibida de sentimentos pessoais. E foi porque tal tipo particular de sentimento romântico era realmente novo, nunca antes ouvido em música, que o compositor do século XIX exerceu, e com toda probabilidade continua a exercer uma extraordinária influência sobre a imaginação dos amantes das música por todo o mundo.

Para o compositor romântico os sons musicais em si mesmos careciam de sentido. Só na medida em que se pudesse encontrar um sentimento por trás e acima das notas, por assim falar, é que se poderia dizer que a música tinha interesse. Nesse ponto um novo e importante componente tornou-se parte integral da música, o fator psicológico. Já não se poderia escrever música por música apenas, mas com o propósito de traduzir no ouvinte reações psicológicas. Descobriu-se, então, e, aparentemente, pela primeira vez, que a música possuía um poder mágico e evocador, um conteúdo poético além de qualquer coisa sonhada pelo compositor do século XVIII.

Com Debussy, na França, é que começa um movimento pretensioso e audaz, “abaixo Wagner”! Esse era o desejo de Debussy de desbancar essa tradição germânica, essa mania wagneriana entre os músicos. Este ícone do impressionismo queria realmente causar tumulto.

Se, de um ponto de vista estético, o impressionismo foi um mero apêndice do movimento romântico e, portanto, nenhum “afastamento” para compositores posteriores, as inovações técnicas introduzidas por Debussy foram de uma influência de enorme alcance. A coisa que mais impressionou a seus primeiros ouvintes foi a originalidade harmônica. Muito se escreveu, especialmente a princípio, sobre seus arcaísmos harmônicos, sobre o ineditismo de progressões de acordes e naturalmente, sobre a substituição do intervalo de segunda maior pela escala diatônica ordinária. Mais importante talvez que qualquer uma dessas inovações, porém menos comentado, foi seu emprego peculiar de combinações de cordas por seu valor puramente colorístico. Tudo isso, contudo, são detalhes de uma revolução mais profunda: o completo rompimento com aquele sistema de harmonia que estava paulatinamente levando a incusões pelo cromatismo durante todo o século XIX, e que agora já não podia sofrer contato com uma imaginação harmônica completamente sem entraves.

Porém, com Schoenberg, a música alemã poderia se reerguer e voltar a ser o poderio musical, claro que isso em sua própria perspectiva. A verdadeira realização de Schoenberg reside no fato de sua carreira artística incorporar e sintetizar uma crise musical fundamental. Mais que qualquer outro compositor ele levou essa crise a seu ponto culminante. Mas também descobriu meios técnicos que possibilitaram a compositores de sua geração e de gerações posteriores buscarem e encontrarem soluções.

Noto, porém, que a música da contemporaneidade possui, o que outrora foi objetivo e impessoal, um caráter subjetivo e pessoal e de alteridade e relação com o mundo.

Talvez, não sei ao certo, a estética deva se preocupar com os aspectos estilísticos e teóricos da música, deixando os estros artísticos e suas análises as mãos de seus idealizadores. Se no classicismo o belo é tema central, na música, vejo pouquíssima mudança até hoje, reparo apenas um velamento deste aspecto em detrimento de conceitos vanguardísticos culturais, espelhados em visões futuristas, de busca pelo novo e de evolução, mas que de certo, entre os artistas, não vê-se estes, negando esta visão clássica, mas apenas afirmando que não é a única. Se hoje vivemos um período de livre expressão, a arte deveria ser livre também. É dessa forma que, não negando sua historicidade, mas prefiro abandonar a estética nas garras dos filósofos, ou seja lá quem queira ministrar sobre a música hoje em dia, não digo com isso que ao filósofo não seja creditado seu valor, mas ainda sou mais músico que erudito, mais visceral que racional, ainda mias em tempos onde pouco se vê nomes como Wagner, Debussy, Bethoven, Chopin, Mozart, etc. No mundo não há mais lugar para a estética, mas a preocupação dirigi-se agora, para uma revalorização dos valores, para a retomada da vanguarda que tanto influenciou o Brasil na década de cinqüenta e a quebra de muitos preconceitos e desgarramento do tradicionalismo fundamentalista.

FILOSOFIA DA ARTE

Na filosofia tradicional, achava-se que a Natureza era fonte da arte e de sua inspiração. Porém, como até antes explanei sobre este tema, o idealismo germânico vem para desbancar este conceito e dizer que é a arte que possui primazia para com a natureza. Observo, que a contraposição que Hegel faz da arte para com a natureza, tem seu caráter em sua própria filosofia e que caracterizou toda sua vida intelectual, que é a idéia de infinito. Hegel diz, que a arte é como que nascida duas vezes do que ele chame de Espírito e sua concepção de estética é uma filosofia da arte. A concepção de infinito em Hegel, onde ele submete o finito ao infinito e este primeiro como parte do infinito, pode ser aplicada na arte, esta como sendo infinita e que se fenomenaliza no finito. Já Kant, em sua filosofia estética, nos faz perceber que, para ele, a beleza é objeto da razão e não tem nada de sensível, esta sensibilidade que também citei mais atrás com o advento do renascimento. Esta perspectiva kantiana vai influenciar e nortear boa parte dos estetas contemporâneos, com a beleza se construindo no espírito do sujeito e não fora dele, na natureza. De certa forma, essa filosofia estética kantiana, a arte passou a adquirir um caráter muito mais psicológico e científico, além de constituir uma articulação das idiossincrasias dos indivíduos em relação à mesma.

O conceito, dentre os muitos, atribuído a matéria da estética e da arte, o belo, foi e é bastante discutido entre os apreciadores e estudiosos do assunto arte. Talvez, tenha sido Platão, o que mais discutiu sobre esse tema na antiguidade clássica, definindo beleza como comunicação com o Absoluto e com um mundo sensível, que é o famoso mundo das idéias. Sua teoria sobre a reminiscência, segundo a qual nosso mundo é um espelho de um outro mundo, este último real, e que alguns de nós tem lembranças desse mundo e onde, em sua análise, a arte verdadeira estaria neste mundo de, em suas palavras, Beleza Absoluta.

O abandono do idealismo platônico, da cosmologia bipolar dos mundos e de mudança de aspectos da beleza se traduz na filosofia de Aristóteles como, nesse caso, a arte, harmonia e proporção.

Na visão de Hegel, há três formas de arte: a arte clássica, romântica e simbólica. É fundamental da filosofia de Hegel que o espírito se concretize na figura humana, a arte é infinita e só pode materializar-se no ser, a arte é o espírito infinito e superior.

O que é importante para o filósofo, em uma filosofia da arte, é ter em vista que não se pode perder o foco filosófico, dessa forma, sem perder de vista o “ser” devemos nos dirigir a uma análise estritamente estética e superficial em certo sentido, por outro modo estaremos fadados a cometer erros em julgar certos aspectos que não cabem ao esteta ou ao filósofo, mas que são aspectos essencialmente dos artistas.

Diego Drão
Enviado por Diego Drão em 16/08/2012
Código do texto: T3832752
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