EDUCAÇÃO E MUDANÇA SOCIAL

O discurso que ecoa nas escolas diz que o aluno uma vez iluminado terá seu mundo transformado. Não resta dúvida que uma mente crítica pode muito no mundo. Todavia, a vontade sendo a potência que move nossa locomotiva se intimida com um gigantesco animal; uma fera de verdade que se põe em seu caminho – a estratificação social. Parece que forças atávicas empurram cada um para sua gaveta, mesmo, tendo passado pela luz do saber.

Não precisamos fazer muito esforço para perceber que o alunado quando sai de nossas escolas poucos dão continuidade a seus estudos, e a grande maioria retorna para seus nichos sociais. A escola coopera com o processo de estratificação. Ela é cúmplice do capital econômico, e está a seu serviço – é a prima mais velha do meu tio rico. Assim, o dito que diz que a educação liberta é uma falta de verdade. A educação não liberta ninguém, pelo contrário, ela é processo de formação de reprodutores, de cidadãos que vão legitimar a exploração do outro pelo outro.

Onde aprendemos que o mundo é certo? Onde aprendemos que devem as coisas ser assim? Assim como a Igreja, uma velha meretriz do poder, a escola por meio de seus programas engajados com a sustentação do status quo vigente cumpre seu papel de alienação dos filhos da terra. Por isso eu digo: A educação não é meio de ascensão social para todos. Ela serve a alguns, e destrói a grande maioria, pois, sedimenta em seus corações as imagens necessárias para tornar a sociedade dócil e passiva ante o fenômeno de concentração de renda e terra imoral desse país.

Uma das artimanhas usadas pelos sustentadores do processo é o uso da memória. Somente a memória que contém o discurso favorável às classes dominantes é ensinada e arquivada. A memória popular não pode ser considerada tão popular. Os mestres de nosso sistema se apropriam das memórias populares para gerarem uma falsa memória, mas, que nos remeta a ordem vigente. Não podemos separar memória e ordem; a ordem dos homens. São os discursos que determinam a ordem e por trás deles está o capital financeiro.

Jamais existirá um sistema educacional que produza discurso contra si. A tendência dos homens é produzirem discursos a seu favor. A condição de prestígio social é a garantia de direito à rede de discursos. É o único meio de ser ouvido sem a truculência das ações violentas. Parece que as pessoas precisam ser ouvidas. O meio mais adequado para ensiná-las a ouvir é a escola se ela entendesse que apesar de ser alienadora ela deve produzir meios para que seus alunos produzam essa leitura de suas realidades.

A educação dialogista percebe que o ato de educar enquanto ato político é um ato alienante. Isso se deve ao fato que educar exige um modelo, ora, ninguém produzirá um modelo que mexa com as estruturas que lhes garante o prestígio e o capital. Nenhum estado educará sua sociedade para a subversão, portanto, educar é alienar o homem de sua realidade de exploração, pois, ele crerá que aquela ordem é a legítima. O dialogismo entende que apesar da alienação, a educação é fundamental para a formação da mente social e que o estado deve garantir meios para que o aprendente tenha acesso a uma educação que lhe dê as ferramentas para desvelar seu mundo e por meio de suas escolhas possa encontrar seu ideal no mundo.

Portanto, a educação em si não é meio de ascensão social. Ela é, sobretudo, o dispositivo do Estado para manutenção da Ordem, da assimetria linguística. O discurso da escola, então, nos traz a falsa ideia que construiremos um mundo melhor mais justo, no entanto, as regras permanecem as mesmas. As regras ensinadas pelo processo se internalizam no sujeito sem sua percepção. O uso da memória é ferramenta fundamental no processo de alienação do sujeito.

É fato que o sujeito é construído pela história. O próprio filosofar é influenciado pelo momento histórico. Todos disseram a partir de seu tempo, falaram de seus conflitos. O fluxo histórico justifica a dialética filosófica, e sinaliza um homem histórico temporal, sujeito a influencia dos discursos de seu tempo. Por outro lado, o homem constrói a história; ele tem a faculdade de ser histórico, de romper com as amarras de seu tempo e inaugurar outro pensar. O homem dialoga no tempo e faz história, cria outros homens e os educa segundo seu olhar temporal.

Assim, toda vez que educamos alguém estamos dizendo de nosso precário olhar para a realidade; não devemos ser arrogantes em acharmos que exista um modelo perfeito. Antes fiquemos atentos para os modelos escolhidos e quais discursos eles hospedam. A desconstrução dos discursos é premissa máxima para o educador dialogista.

A história e a memória são imposições nos processos educativos. A manipulação da memória e da história pela escola aliena o sujeito de sua história e de sua memória. A memória e a história ensinada nas escolas são a do dominador que desesperadamente fecha os olhos e os ouvidos para o que o outro tem a dizer. O dominador pensa que seu dizer é puro e que sua hegemonia não pode ser destruída. Tolas criaturas da terra! Não existe nada nesse mundo que seja puro! Tudo que existe, existe em diálogo com o outro. Portanto nada é totalmente sólido que mereça a máxima confiança e tudo se dilui na força do tempo. Antes as coisas se diluem na multidão de ditos que formam a rede linguística chamada de realidade.

Isso nos remete a visão estética da escola. Esta está muito mais afinada com o gosto de seus mentores de que com o de seus educandos. O que prova uma relação de hegemonia cultural e estética onde jamais poderia haver. Assim, alienado de seu gosto, o aluno se culpa por não gostar do gosto de seu mestre; o mesmo ocorre com o dizer, o pensar, o fazer, o ser. Sua cultura, sua História, sua fala, sua memória ficaram do lado de fora da escola.

Não pode haver mudança social de fato e de verdade se ao povo não for devolvido o que é dele. Sem uma relação simétrica de diálogo entre escola e comunidade, professor aluno, conteúdo e região, etc., não haverá educação que promova conforto social na sociedade brasileira.

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 10/09/2012
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