Uma explicação para o efeito de placebo

Uma estranha constatação surpreende os cientistas ha décadas: o placebo tem efeito!

Pode-se avaliar a eficácia de um novo remédio, comparando-se o efeito de um tratamento que faça uso da nova medicação, com outro que não inclua a administração da nova droga aos pacientes.

A forma usual de avaliação de uma nova droga consiste em aplicá-la a um grupo de pacientes, aplicando ao outro grupo, um placebo. "Placebo" é uma substancia inócua, como uma gota d'água, ou uma pitada de farinha, administrada aos pacientes apenas com o intuito de permitir a comparação entre um tratamento que inclua o remédio a ser testado, com o mesmo tratamento sem o remédio, com o propósito de avaliar a eficiência da medicação.

Surpreendentemente, percebeu-se que o placebo, sistematicamente, tinha um efeito! Quero dizer, pacientes que tomavam algo inócuo, como uma gota d'água, consistentemente, mostravam-se mais saudáveis após esse “tratamento”.

A primeira explicação racional para o resultado consistiu na evocação de algum efeito psicológico; de algum modo, os pacientes sujeitos ao tratamento com placebo sentiam uma maior atenção dos médicos, talvez, obtendo, por essa razão, uma melhora maior que a dos pacientes tratados sem a inclusão do placebo. A explicação se revelou incorreta quando se percebeu que não apenas pessoas, mas também animais e plantas, respondiam melhor aos tratamentos com placebo que a tratamentos sem ele. Assim, por muito tempo o efeito placebo vem intrigando os pesquisadores.

Creio ter descoberto a explicação para o fenômeno.

A explicação me veio à mente assistindo um documentário na TV, no qual um médico testava um tratamento homeopático (a homeopatia se assemelha muitíssimo ao placebo). O médico cético pretendia desmascarar os tratamentos homeopáticos. Para isso, dividiu os pacientes em dois grupos, um dos quais recebia a "medicação correta" prescrita pelos homeopatas, enquanto o outro grupo recebia apenas placebo.

O resultado do laboratório, para minha surpresa, estabelecia que um dos grupos tinha tido uma melhora significativa sobre o outro; ou seja, a avaliação do laboratório asseverava que um dos tratamentos, de fato, tinha efeito significativo; restava saber se o grupo que havia tomado a medicação, ou se o outro.

A essa altura, um forte nervosismo acometeu o médico avaliador, tomado pelo forte receio de que suas convicções viessem a ser abaladas, e que o tratamento homeopático tivesse, de fato, efeito benéfico sobre os pacientes. Para seu alívio, o grupo sistematicamente beneficiado pelo tratamento foi o que havia tomado placebo.

Esse resultado satisfez e aliviou o médico, que expôs em seguida suas conclusões, e sua descrença, então comprovada, em relação à homeopatia. Para minha surpresa, no entanto, ele não tentou explicar, e nem ao menos comentou o resultado significativo: o grupo que tomara placebo tinha tido melhoras significativas!

Seria muito absurdo imaginar alguma espécie de metaplacebo que justificasse a melhora significativa do grupo.

Uma outra razão, no entanto, me veio à mente.

Usualmente, separam-se os pacientes em dois grupos, o que toma a medicação e o outro, chamado grupo de controle, que toma apenas placebo.

O avaliador, um laboratório, costuma receber "dois pacotes": um grupo e outro grupo.

O avaliador sabe que o seu cliente deseja encontrar um resultado positivo. Resultados negativos costumam ser decepcionantes, todos querem confirmar suas suspeitas e obter novos medicamentos mais eficazes.

Para satisfazer seus clientes, bastará entregar os dois grupos de amostras separadamente, a avaliadores diferentes, talvez. Cada pessoa tem seus próprios procedimentos que costumam alterar ligeiramente as análises. Como todas as análises efetuadas por um mesmo avaliador sofrem a mesma distorção, ao se comparar duas avaliações feitas pelo mesmo avaliador tem-se um resultado correto já que as distorções de uma análise são neutralizadas pelas distorções de outra.

Quando se comparam análises efetuadas por avaliadores distintos, no entanto, pode-se ter avaliações consistentemente diferentes. Mesmo que os dois avaliadores ajam corretamente, e que as distorções que introduzem nas medidas sejam pequenas, sendo diferentes uma da outra, talvez influenciem no resultado.

O resultado dessas diferenças pode ser uma alteração significativa entre a avaliação dos dois grupos; ora, isso é exatamente o que desejam os clientes do laboratório.

Bem, para satisfazer seus clientes, o laboratório pode dar esse empurrãozínho.

Isso sugere que a justificativa do efeito de placebo seja a desonestidade.

Se isso é verdade, um refinamento do teste pode dificultar a manifestação desse efeito: cada uma das amostras deve ser marcada com um código e todas elas embaralhadas, de maneira que o avaliador não saiba nem ao menos quais das amostras pertence a cada grupo.

Suspeito que essa precaução desvende, e minimize fortemente, o efeito de placebo.