Estado laico ou ateizante?

Causou certa celeuma minha modesta crônica chamada “Deus não seja louvado” onde abordo uma proposição do Ministério Público junto à Procuradoria, que pleiteia a retirada de expressão, “Deus seja louvado” das cédulas de Reais.

A maioria das apreciações foi favorável, mas, esteve longe de ser unanimidade. Abaixo um comentário discordante, com tópicos que merecem certa consideração.

“1) A menção "Deus seja louvado" transforma as cédulas de real em panfleto propagandístico de um segmento religioso. 2) As cédulas são aceitas em território nacional por força de lei (não podem ser recusadas como forma de pagamento) e são produzidas, obviamente, com recursos públicos. 3) Mesmo se os ditos 98% que afirmam acreditar em algum deus interpretassem que o dito Deus mencionado na cédula é o seu deus de devoção, não se trata de uma questão de números de adeptos, mas de ilegalidade e imoralidade.”

Disse o comentarista que tal texto torna nosso dinheiro propagandista de um segmento religioso, qual? Muçulmanos creem que Alá é Deus, Umbandistas pensam o mesmo de Oxalá, os Hindús de Ganesha, os Espíritas creem também na existência de Deus, posto que defendem meios diversos dos cristãos para chegar a Ele; Católicos e Evangélicos acreditam no Deus da Bíblia... qual segmento desses e outros tantos que creem em Deus a frase privilegia? Nenhum. O nome Deus, é genérico, podendo se enquadrar em todos os credos, exceto o ateísmo.

Portanto, é falsa a afirmação que ela faz apologia de um segmento religioso. O fato que as cédulas são produzidas com recursos públicos, não tem nenhuma relevância no caso, pois, como eu disse, 98% da população, provedora de tais recursos, não se incomoda com isso; e os dois por cento restantes usufruem benefícios também gerados pela maioria, de modo que não são lesados em nada; e é próprio da democracia que prevaleça a vontade da maioria.

Quando a constituição diz que somos um estado laico, deve ser entendido como, sem uma religião oficial, sem ligação com a igreja, com plena liberdade de culto, não ateu, ou, ateizante. De qualquer forma, poderiam os ateizantes oficiais, começar a dar bom exemplo, trabalhando nos feriados religiosos, se, amam a coerência, afinal.

Por fim, o comentarista equaciona ilegalidade e imoralidade como se fossem sinônimos. Dia desses o time do Palmeiras tentou anular um jogo que perdera para o Internacional por 2x1, pois um gol, visivelmente feito com a mão do jogador Barcos, teria sido anulado por interferência do quarto árbitro que a lei não permite.

O time paulista pleiteou a anulação do jogo, pois teria acontecido algo “ilegal”; mas, todos viram que foi uma jogada fraudulenta; o tribunal indeferiu por nove a zero, pois seria imoral demais ser “legal” então.

As licitações, como o nome sugere, existem para o Erário firmar contratos legais, e mesmo se três empresas concorrerem com “cartas marcadas” acertando a fraude de antemão, vence a menor proposta e é “legal”.

Muitos exemplos dessa estirpe podem ser alistados de modo que, o legal, não tem a ver com o moral, necessariamente. Ademais, a constituição diz em seu preâmbulo que foi lavrada “Sob a proteção de Deus”, de modo que, sendo a lei maior de nosso país, mencionar Deus nas cédulas, não constitui ilegalidade. Do ponto de vista moral, não parece que a menção de Deus cause algum dano; pois, o que seria Sua Palavra, está eivada de ensinos que, privilegiam a moral, e os bons costumes.

Outro leitor disse que era contra também, pois, foi obra do Sarney, e ele não louva a Deus, nem o dinheiro serve a esse fim. Ora, quem ler com atenção o que escrevi, encontrará lá mais ou menos isso: “Deus não é louvado com palavras, nem faladas, nem escritas, o Deus da Bíblia, pelo menos”.

Também não morro de amores pelo Sarney, tampouco o acho um exemplo de servo de Deus, não se trata disso. Ninguém lê aquilo miudinho, e se ler, não vai se converter, por isso; infelizmente. Na verdade o dinheiro no seio do dito cristianismo tem sido motivo de escândalos, não de louvores a Deus.

O que eu disse, nas linhas ou entrelinhas, é que aquilo que não tinha importância alguma ( Até porque marchamos céleres para a desmonetarização, onde o “dinheiro” será apenas virtual ) de repente virou cabo de guerra, por revanchismo de meia dúzia que pensam que são o Estado e estão por trás dessa proposição; pois, tentaram impor o aborto e o Kit gay sendo resistidos pelos religiosos.

Sabem os bem informados que é sonho de alguns lideres uma Hugochavização do Brasil com controle até da imprensa, e se possível, com um ateísmo oficial estilo Coréia do Norte ou China.

Preciso repetir algo que disse antes, pois; O Estado não é um monstro que nos tem: é um pacto que nós temos, baseado no bem comum e no interesse prioritário, da maioria. Ao menos, o estado democrático.

Tem alguns “democratas” pensando que a coisa é tipo Tele Sena, paga para mais e para menos números. Os mais votados, a maioria, governa; mas, meia dúzia de descontentes se impõe no grito e faz valer seus pleitos ainda que diversos da maioria.

Outro dia uns dez desses, derrubaram uma mascote de Copa em Porto Alegre e prevaleceu isso, não foi reerguido. Porto Alegre, tão politizada, “pagou o bilhete” com menos pontos, “democraticamente”.

Viva a liberdade de culto e de não ter culto algum! Abaixo a imposição safada de meia dúzia de cabeças “privilegiadas” que usam nossas virtudes como se fosse nosso defeito. Pensam que nossa mansidão e tolerância são sinais fraqueza.

Como seria se a maioria usasse os mesmos métodos e argumentos que eles usam? Resolver “no chute” aquilo que discordamos? Não apenas faríamos valer nossa vontade, mas vetaríamos “oficialmente” a deles. Afinal, eles não são o Estado, apenas uma vertigem desse, que pode ser corrigida na próxima eleição.

“A falta de amor próprio e amor ao próximo é ateísmo.”

Andrea Taiyoo