Apreço da pressa

Apesar do incremento no rigor da lei, e várias campanhas educativas, grande número de mortes em acidentes de trânsito, se verificou outra vez, nos feriados de Natal e ano novo.

Em Abdijan, na Costa do Marfim, sessenta pessoas morreram pisoteadas na saída de um estádio, onde assistiram a queima de fogos alusiva à chegada do ano novo.

Qualquer que tenha sido o evento que agitou o povo, as mortes devem-se à ânsia de deixar o local; muitas vezes fugindo de um perigo imaginário, se ocasiona outro real. Seja no trânsito, seja nesse triste incidente, sempre se encontrará entre os motivos principais, a pressa.

Se há uma coisa com a qual o ser humano lida mal, essa, é o tempo. A queima de fogos em Florianópolis começou dois minutos antes da zero hora, não sei se por acidente onde se controlava o evento, ou, por desejo de sair na frente, o fato é que soou meio estranho esse "fuso-horário" tão breve.

Entretanto, nem toda a pressa é doentia, pois, quando seu motor é a urgência, sobretudo para salvar vidas ou patrimônio, a pressa tem sentido, mérito; Tanto que, polícia, bombeiros e ambulâncias, possuem sirenes que podem “abrir caminho” em tais circunstâncias.

Mas, a maioria dos apressados faz isso para se desincumbir, e ficar à toa; como os que viajam para praia em velocidade imprudente, os que furam filas para abreviar a espera, etc. Tanto estamos com pressa, que geralmente se escreve textos concisos; se busca caminhos virtuais velozes, afinal, ninguém tem tempo a perder.

Na verdade a pressa é um fator psicológico que se tenta resolver no âmbito dos fenômenos. Quando estamos numa situação agradável, “o tempo voa”; porém, se é outra, tediosa, parece não passar. Em ambos os casos, a areia desce do mesmo modo na ampulheta; mas, a percepção é diversa, dados os estados psicológicos, diversos.

Talvez, o quadro da vida projetado sobre o pano de fundo da morte, e a filosofia hedonista, cujo fim é o prazer a qualquer custo, acossem tais apressados, que querem “curtir a vida, pois, a vida é curta”, mesmo que, ao encontro dessa “curtição” muitos colidam com a morte antes do tempo.

Sempre existe grande possibilidade de se colocar os pés pelas mãos, quando nos fazemos agentes onde deveríamos ser pacientes. O tempo é o agente cuja cadência determina o ritmo no desfile dos acontecimentos, nós somos a plateia.

Mas, ao tentarmos burlar o tempo, paz, saúde e vida, se perdem todo dia. Salomão deixou o seguinte: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Ecl 3; 1 Saul lidou mal com isso uma vez, pois, vendo a guerra se aproximar, julgou que deveria agir como sacerdote não sendo; antecipou-se a Samuel, e isso custou seu reino; Abraão, o Pai da fé também, não soube esperar pela promessa de Deus, e arranjou um filho com a escrava, ainda que por conselho de Sara, sua esposa.

Paulo discursando aos filósofos gregos situou todo ser humano numa redoma de tempo e espaço, cujo alvo seria encontra a Deus: “E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17; 26 e 27

Não que seja errado temer a morte, ou desejar ser feliz; mas, a questão da morte Deus já resolveu em Cristo, que veio para que, “... livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” Heb 2; 15

Quanto ao tempo, Nele somos guindados à eternidade; e ao prazer, à felicidade, esses estão agendados para um tempo porvir, onde, “Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” Apoc 22; 4

Infelizmente a maioria é controlada remotamente pelas teclas da mídia; pois, pessoas bem pobres, cujas habitações denunciam isso, enfeitam suas fachadas com luzes, e soltam fogos nesses dias; afinal, ser feliz é prioridade; só não sei onde está escrito que, ser feliz é fazer o que a maioria faz.

Na Costa do Marfim, a maioria correu, e pisoteou os outros... alguns segundos após desejarem felicidades no ano vindouro, contribuíram para fazer o contrário, com almas afoitas em corpos desenfreados.

Já que a dama de preto espera do outro lado da ponte, vivem mais, os que fazem a travessia "no passo do gado", como viajava Jacó; além de quê, podem observar melhor as belezas da paisagem.

Como diz a música do Almir Sater e Renato Teixeira; "Ando devagar porque já tive pressa..."

“Por que vivemos com tanta pressa, esbanjando a vida? Decidimos morrer de fome antes de sentir fome”

H. D. Thoreau