Neofatalismo

A crença num destino pré-determinado, ante o qual não temos escolhas, permeava a cultura grega antiga; esse modo de pensar dos helenos, influenciou romanos, hebreus, o alemão Nietzsche, e chegou aos nossos dias. A questão básica é: Somos agentes de nossos destinos, ou, meros pacientes? Noutras palavras: Somos reflexo de nossos escolhas, ou, já estava escrito como seríamos?

Na tragédia, “Édipo, o Rei”, o oráculo de Delfos previu que o menino mataria seu próprio pai; então, para evitar um destino tão cruel, ele fugiu para Corinto, e criou-se sem sequer conhecer seu genitor, temendo tal catástrofe. Entretanto, já adulto, teve um desentendimento com um estranho durante uma viagem, com o qual brigou; a luta resultou na morte de seu opositor; só bem mais tarde ele veio saber, que, aquele que matara era seu próprio pai. Assim, nada valeu tentar evitar o parricídio profetizado pois, ao fugir, acabou facilitando as coisas, e, cumpriu a sina sem saber. Essa forma de crer era comum entre os gregos.

No meio teológico há séculos duas correntes disputam; os ditos Arminianos, que creem no arbítrio como prerrogativa dos salvos, e os Calvinistas, que acreditam que Deus já predestinou quais serão salvos. Ele faria Sua graça irresistível a esses eleitos, enquanto soaria desprezível aos demais. Com o devido respeito aos que pensam assim, acho que feriria a justiça, que Deus tanto ama.

Por ocasião do massacre de Newtown em Connecticut, alguns “cientistas” pretendem estudar os genes do assassino, Adam Lanza, para descobrir, se possível, os genes da maldade. Então, se ele já trazia essa “carga genética”, estava fadado a isso, não teve escolha; era mero peão, nas “mãos de Deus?”

Apreciei noutro espaço que, se a maldade tiver causas biológicas, deixa de ser maldade, e se converte em enfermidade. Desse modo, uma vez confirmado isso, teremos que implodir nossos equivocados presídios, e construir mais hospitais.

Interessante que esses que creem no determinismo genético, ou no fatalismo providencial, aplicam sua “crença” apenas no âmbito moral, espiritual. Nas coisas práticas da vida, são bem arbitrários, afinal, estudam, preparam-se para serem médicos, psicólogos, engenheiros. Fazem uma escolha e perseveram nela, trabalham, acreditando nas consequências dessa escolha; mas, por questão de coerência, não careceriam nada disso; poderiam se “jogar nas cordas” afinal, seriam um dia, aquilo que nasceram para ser, independente de suas escolhas.

Claro que trazemos alguns dons inatos, mas, nosso existenciário, educação, e formação moral, são placas confiáveis que indicam, onde a vereda da vida nos vai levar.

Afinal, se eles estiverem certos, nem mesmo o pleito entre arbitrários e fatalistas fará sentido; pois, uns nasceram fadados a crer de um modo, outros de outro.

Na verdade o fatalismo é muito conveniente à má índole, pois, transfere à divindade, à providência, destino, acaso, a conta pelos estragos das escolhas desastrosas.

Por isso muitos, mesmo “não tendo escolha”, escolhem crer assim. Soa menos humilhante morrer do câncer da indiferença, que submeter-se ao ridículo exame de toque, em suas consciências.

“O fatalismo é sempre uma doença do pensamento ou uma fraqueza da vontade.” Paolo Mantegazza