Sobre alegria e tristeza

Há explicações biológicas, dadas as reações do corpo, em momentos de alegria. Enzimas tais e quais são liberadas, aumentando a sensação de bem estar. Sem condições nem vontade de entrar nesses termos técnicos, o fato é que todos buscam a presença gostosa da alegria.

A Bíblia menciona algumas situações em que, Deus ordenou que fossem celebradas festas; a Páscoa, alusiva à libertação da escravidão egípcia; as Primícias, em face ao início da colheita; o Pentecostes, festejando a colheita, os Tabernáculos, em memória à provisão de Deus durante a peregrinação no deserto, o Purim, alusivo ao livramento na Pérsia, nos dias da rainha Ester...

O que as citadas festas tinham em comum era o motivo de uma situação alvissareira, que, rememorada gerava alegria.

Em nossos dias, já não carecemos motivos específicos, e todo fim de semana, é tempo de “balada”, pois a galera quer festejar. Mas, abstraídas a promiscuidade e a bebedeira provavelmente a turma iria dormir, pois, restaria cansaço apenas.

Claro que, após uma semana de trabalho o lazer se impõe, bem como o descanso; mas, desconfio que o cansaço se acumule após as noitadas de tais “baladeiros”.

Toda semana o carro de som anuncia as festas da “The Power” uma casa noturna que existe cá; sempre tem um motivo para comemorar. “A noite da minissaia”; “a festa do quero mais”, “a festa dos descolados”; e outras tantas baboseiras semelhantes, quando, sexo e bebida apenas, são buscados, o resto é fumaça.

Mas, acredito que essa alegria artificial, dissoluta, não seja nada benéfica, antes, mera droga que se inocula de tempo em tempo, desconhecendo a alegria verdadeira.

Essa, não raro, se acomoda às coisas simples, e até nos surpreende quando a não buscamos.

E mesmo a buscando, pode ser roubado como o irônico fato

na tragédia de Santa Maria, onde parece que havia uma comemoração com motivo, e a tristeza se intrometeu e estragou tudo.

Então, mesmo buscando alegria, apenas, não é certo que a encontraremos sempre. No Jogo do Grêmio contra a LDU, por ocasião de um gol, o momento mais alegre para a torcida, oito pessoas se feriram na comemoração caindo no fosso; de novo, a tristeza estragando a festa da alegria.

O fato é que, nesse mundo dual, de verdade e mentira, luz e trevas, vida e morte, Deus e diabo, somo forçados ao convívio com alegrias e tristezas.

Diz o adágio popular que, “quem ri por último ri melhor”. A ideia é que a ordem dos fatores, nesse caso, altera o produto. Nessa bipolaridade sensorial de termos que conviver com ambas, sempre é melhor que a tristeza venha antes, pois, após emprestar sua têmpera à alma, como sempre faz, trazendo os benefícios de sua “medicina”; “A tristeza do rosto faz melhor o coração” Ecl 7;3; sai de cena, dando lugar à alegria verdadeira, cujo motivo principal, será o gozo de estar livre das razões que entristeciam.

Jesus, em seu momento crucial, literalmente, quando ia para a cruz, disse aos seus discípulos que seria assim com eles; “Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” Jo 16; 20 a 22

Então, nada de errado em se buscar alegria, mas, quando o seu motor é artificial, pode ser efêmera como um fogo de artifício, que ilumina os céus por um segundo, depois some, deixando o ônus de seu custo apenas.

Sendo, porém, a alegria uma posse relativa, se pode encontrá-la nos lugares ou situações mais impensadas; se a noite da tristeza se abater sobre nós, ousemos manter a sobriedade e integridade, pois, Deus, que nos criou sabe nossas dores e necessidades e proverá, na hora certa, o contraponto da alegria veraz, para saúde de nossa alma.

“...no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Sal 30; 5