A HERANÇA NEFASTA DA DITADURA

Dos 21 anos do regime militar, imposto ao país pelas forças conservadoras, as alterações mais nefastas produzidas neste período e que deixaram marcas profundas em nossa sociedade são as referentes ao processo de desmobilização político-partidária, com reflexos visíveis até a atualidade, haja vista o nível sofrível de nossos congressistas, e o desmantelamento da postura aguerrida e destemidamente crítica de nossa imprensa. A ditadura passou, mas deixou um legado desastroso.

Uma questão que “curiosamente” a grande imprensa brasileira insiste em não ver é o inconveniente anacrônico da manutenção do alistamento militar obrigatório, com as devidas punições estatais aos jovens que não o fizerem (além de prejudicar a inserção dos rapazes menores de 18 anos no mercado de trabalho). Todavia, apesar dos anos de incomum apatia dos diversos veículos de comunicação, um jornal carioca publicou recentemente uma matéria em que denuncia a forma humilhante em que são tratados os jovens na fila do alistamento militar, expostos ao relento e ao perigo da madrugada na rua e a uma espera de até nove horas para serem atendidos.

Este periódico faz história ao romper com o silêncio conivente sobre essa questão, pois este sempre foi um assunto veladamente ignorado pela mídia nacional durante todo esse período, de retomada dos valores democráticos, comportamento este explicado não apenas pelo adestramento autoritariamente imposto aos jornalistas nos anos de chumbo pelo aparato repressor do regime, mas principalmente, na atualidade, pelo poder de persuasão, ou melhor, de cooptação das verbas publicitárias do ministério da defesa. Recebe mais quem incomoda menos. Enquanto isso nossos jovens continuam sendo vítimas de toda sorte de desrespeito nas juntas militares, apenas para continuar satisfazendo a um capricho torpe da caserna. Essa realidade só mudará a partir da mudança de postura da própria sociedade, de sua capacidade de reivindicar avanços. Este é um bom tema para um caloroso debate nos veículos independentes de comunicação e também nas redes sociais.

Hugo Heringer
Enviado por Hugo Heringer em 08/03/2013
Reeditado em 15/08/2014
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