Geração sem vergonha

“... tu tens a fronte de uma prostituta, e não queres ter vergonha.” Jr 3; 3 Deus falou a Israel mediante o profeta, como se fosse um marido traído; usou uma analogia vergonhosa contra quem, disse, já não tinha vergonha.

Todavia, um apelo ao brio, ante quem já não o possui labora no vazio. Isso foi expresso de certa forma, nos registros de Salomão; “Como o espinho que entra na mão do bêbado, assim é o provérbio na boca dos tolos.” Prov 26; 9 A atenção que a dor do espinho chamaria, perde-se no torpor da embriaguês. De igual modo, o chamamento ao decoro, a quem não o conhece.

Mas, o que é exatamente, a vergonha? “Pudor; pejo; opróbrio. Rubor das faces, causado pelo pejo. Timidez; embaraço; acanhamento. Receio de desonra”. ( Priberam )

Embora o primeiro exemplo seja de Adão fugindo do Criador após desobedecer, geralmente, a vergonha se verifica nas relações sociais.

No “Banquete” onde os gregos debatiam o amor, um disse que, atos tidos como normais ante outras pessoas, causariam vergonha ante a pessoa amada. Se isso é vero, parece que a vergonha tem sua veia no desejo de agradar, ser aceito, preservando uma postura tida por digna. Desejo que será maior quanto maior a afeição por nossa plateia. Maculado isso, a vergonha aparece.

A mim parece que não é uma coisa inata; antes, que se aprende. Conheci uma “família” onde os pais eram traficantes de drogas, e brigavam o tempo todo ante os filhos, usando termos de baixo calão, chulos; os filhos faziam o mesmo desde pequeninos, sem pejo algum. Aprenderam aquilo como normal.

Numa sociedade como a nossa, onde as beldades disputam o tamanho da bunda, e, usam artifícios para “vencer”, quem teria a nudez como vergonhoso, por exemplo? Quando as músicas além de serem de gosto duvidoso, no prisma musical, ainda são pornográficas em suas mensagens, quem se incomodaria com a pornografia? Onde a cara de pau e a sem-vergonhice são “canonizadas” como “jeitinho brasileiro”, quem se ocuparia ainda do pudor de dar um “jeitinho”?

Hoje, as pessoas morrem de medo de não serem politicamente corretas, nem que, para isso soneguem a consciência, Deus, ou, o que for. Deus usou, então, a prostituta como exemplo de sem vergonha; mas, como uma metáfora para demonstrar a prostituição espiritual da Nação.

Hoje, a mídia está eivada de putas e filhos da puta, espiritualmente falando; e, ao invés de serem apupados e rejeitados por obscenos, estão cercados de seguidores, que, assim como nosso Governo, vêm na prostituição uma “profissão”.

Lembro antigos gibis de bruxas, onde elas se “elogiavam” chamando-se de maléficas, horrorosas, etc. Pois, era precisamente o que pretendiam ser.

Os fundamentos da boa educação se perderam há muito nesse império do direito sem dever que nos tornamos. Parece vergonhoso um pai corrigir um filho para moldar-lhe o caráter, olha o ECA! Ele se tornar um marginal, soa normal. "A punição dos pais honra - a punição do verdugo envergonha." ( M. de Cervantes ) O poeta hispânico pensava diverso, pois.

Nessa época, as pessoas acham belo ser promíscuo, “pegador”; teve um comercial, aliás, onde três amigos rememoram a “balada”; um “pegou” a “anjinha”; outro, a “diabinha”, e por último, o que “pegou” o “Dragão” que era a mais bela. Aí uma voz sugere: “Nada como um upgrade!” Como viver ainda a vergonha nesse meio?

"Não é vergonhoso ao homem sucumbir à dor, mas sim sucumbir ao prazer." (Blaise Pascal) Citar uma frase dessas na maioria dos ambientes sociais, me causaria vergonha, dada a inversão de valores.

Vivemos atualmente num “congresso de bruxas”, onde é chique ser sarada, siliconada, pegador, malandro, irreverente, infernal, cara de pau... o último dos Moicanos que inda tiver valores como decência, pudor, probidade, moral, bons costumes, etc, se ousar se expor como é, cairá no ridículo.

A vergonha no endereço errado, aliás, foi detectada já nos dias de Ruy Barbosa, em sua célebre frase: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."

Isaías, por sua vez, lamentou a sorte de uma geração assim; “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!” Is 5; 20