Reformas
Para que as pessoas mudem, é necessário que elas assim o queiram; para que compreendam, é preciso que estejam preparadas para isso. Nenhuma flor desabrocha antes do tempo, por que sabe que o tempo certo é aquele em que seu botão estiver pronto a abrir-se, e não há nada no mundo mais sábio e perfeito que a natureza.
Querer forçar uma compreensão é o mesmo que tentar - em vão! - ensinar cálculos matemáticos complexos a uma criança pré-escolar. Além de infrutífero, será uma agressão por parte daquele que sabe, e soube em seu próprio tempo, sem conseguir respeitar o do outro.
Por mais que se diga que o advento das modernas tecnologias, aliada ao desenvolvimento do capitalismo e globalização transformou o mundo em uma grande “aldeia”, ele em nada se assemelha a uma.
As pessoas estão cada vez mais voltadas para dentro de si mesmas, entrechocando-se diariamente com milhões de desconhecidos – seus semelhantes – nas grandes metrópoles, sem os ver ou saber de suas dores ou sofrimentos, não só por que não andem estes a reparti-los, mas principalmente pela falta de ouvidos dispostos a escutá-los.
Tudo vira um produto do capital. Tudo vira moeda de troca por bens perecíveis. Até mesmo aqueles que não deveriam tornar-se bens de consumo – nós mesmos, os relacionamentos, a própria escuta especializada da psicologia – acabam por subverter-se aos ditames do consumo desenfreado, do querer sem o concurso do desejo, que se torna assim esvaziado de sentido.
O homem moderno acumula riquezas que não lhe trarão mais que novos dissabores em mantê-las e guardá-las (ou vigiá-las, constantemente, de invasões externas) por que não possui mais ideais pelos quais lutar. Se não se sabe para onde se quer ir, qualquer caminho serve – mas isso não significa que alguns não sejam muito mais difíceis e tortuosos que outros.
Tentar encontrar o desejo cindido, extraviado, fragmentado, manipulado, mercantilizado, deveria ser a missão que move aqueles que propõem conhecer e (re) visitar os recônditos de si mesmos para, ao encontrá-lo, poder soltar-se das amarras imaginárias que nós mesmos construímos para amordaçar os fantasmas que em nos habitam. Só assim (talvez) um pouco da pretensa felicidade poderá ser um dia alcançada.