Casos e descasos no reino de sua majestade, o Tuiuiú

O paraíso devia ser parecido com isso aqui

quando se idealizou o Jardim do Éden

com Adão, Eva, frutas, serpente e tudo

só não acredito que fosse tão quente assim.

Santuário onde a natureza ainda respira

e inspira o pintor, o poeta, o escritor

o artista e sua musa: a vida pura e nua

inteiramente crua, ela dorme e desperta aqui.

Adormece no sono da caça que é diurna

noturno, o predador, desperta faminto e voraz

e nesse equilíbrio natural e sagrado

outros paraísos já foram extintos

porque nós assim o quisemos.

Boa vontade alguns têm, há provas disso

nessa inspiração que se chamou PIRACEMA

mas se Jurema ou Iracema, crianças,

sentem fome e o pai é pescador, o que fazer?

Se o PANTANAL esconde o lado ilegal

e desumano do ASSENTAMENTO TAQUARAL

lamaçal e valões também existem e nessa região

onde meninos barrigudos pescam as suas refeições

sempre às margens dos rios, da vida

e isso até depois do mar, do desaguar e enquanto

a ONÇA e a ESPERANÇA não forem protegidas por lei

haverá sempre muitos contraventores

a cada vez que o estômago indagar: cadê?

Pois, entre o difícil salário, mínimo em tudo

e um valorizado couro bem tratado, lustrado

que me perdoem os ecologistas, naturalistas

mas essa história tem pelo menos quatro versões:

a do contrabandista envolvido até o pescoço,

a do animal, raro ou comum, que não quer se deixar matar,

a do homem, que sem escolas, não consegue ler campanhas

e a do político que só quer se promover

e no futuro virão os arrependimentos

e os lamentos pelo que se podia ter feito

se eleito, a plataforma, então desaba

e é pena o TUIUIÚ não ter acesso ao Congresso

e nem a ARARA poder tagarelar em prol dos bichos.

Quem dera o MACACO pudesse advogar em causa própria,

greve do PINTADO, PACÚ, DOURADO contra as redes

da pesca predatória, já proibida e não abolida

e pela vida, até a PIRANHA ser ouvida –e porquê não?

É natural que se ouça os apelos dos rios

para que se preserve seus IGARAPÉS e CAMALOTES.

É covardia a ANTA, a CAPIVARA, o PORCO DO MATO,

fugirem da ONÇA PINTADA e do homem também.

E nem todos caçam por diversão

há aqueles que não aprenderam outro ofício

caçadores de fato e por pura sobrevivência

mas há NEGLIGÊNCIA, PROPINA e MÁ FÉ também

pelas entranhas desse nosso grandioso PANTANAL.

Aí a mata vira um campo de batalha

dos animais, em extinção ou não, por seus direitos

viver ou não, eis a questão, GUARDA FLORESTAL,

matador casual ou usual, GOVERNO FEDERAL?

E há quem goste do animal em cativeiro,

matreiro o GAMBÁ protegido por seu cheiro,

o PÁSSARO engaiolado canta de tristeza

e de saudade, sem compreender o porquê

e do voar livre, para o que foi feito

antes que algum sujeito o aprisionasse

e o guardasse para o próprio prazer

de uma alma menor que o alçapão

onde a razão e o coração não se entendem nunca.

Essa maravilha se torna então uma INDÚSTRIA ILIMITADA

e nessa guerra entre o protetor e o interesseiro

nem o posseiro e nem o coureiro admiram a beleza

da cascata que para os poetas são lágrimas

que rolam pelas pedras, mas não impressionam

àqueles que não veem o que nunca vão querer ver

como os grilos e sapos, besouros e pernilongos

que a propaganda lucrativa não mostra

pois o que atrai o turista é a vista quando bonita

do PANTANAL, cartão postal, como o CRISTO REDENTOR

que abre os braços, mas nunca o jogo,

lindo, sem dúvidas, mas quanto tempo vai durar

essa doce sinfonia, de pássaros e bichos, no seu habitat?

E nesse chove-não-molha, blá...blá...blá...blá

às vezes chove, prenunciam as queimadas

condenadas pelos técnicos e sensatos

e a vida vai ficando pra depois,

apesar dos tantos CHICOS, Mendes ou não,

guerreiros PANTANEIROS, como os AMAZÔNICOS

afônicos numa luta sem tréguas

e sem vitórias, enquanto isso for B-R-A-S-I-L.

E caíram, caem e continuarão caindo

leis como se fossem escritas a lápis,

parciais demais, nominais e endereçadas

como se estivessem num leilão: QUEM DÁ MAIS?

O respeito ao homem também está em extinção!

Lamenta o seu primeiro habitante, o ÍNDIO

que sempre tratou o bicho com respeito

posto agora em segundo ou décimo plano

figura exótica, que por não ser erótica, vestiu jeans

ou abandonou a mata para virar peão

expulso do seu mundo, mal aceito no nosso

reza um PADRE-NOSSO, o padre é o pajé,

de pé na igreja, com uma mão na frente e outra atrás,

enganado mais uma vez pelo homem branco

e por um evangelho que manda ter calma, dar a outra face

mas como esperar se o tempo urge, voa, tudo voa

primeiro o índio, depois o bicho, depois o pássaro

e assim...e à toa...e de graça

vão-se enfim as GARÇAS e a GRAÇA,

desse imenso jardim.