Preocupação atual um

Como o homem perdeu a confiança nos seus sentimentos como referência de direção para sua própria vida?

Perdeu mesmo esse senso ou será que é uma miopidez minha diante daquilo que não posso compreender e, por isso não posso generalizar?

Constantemente ouço através dos meios de comunicação queixas falando da violência, às vezes com mortes, contra os filhos pequenos de mulheres, duplamente, desesperadas: pela morte de seus pequenos e por ter sido um ato cometido por pessoas que foram vistas por elas – as mães, como pessoas de confiança e que acreditaram ser possíveis figuras de amor e proteção para elas e suas crianças: amigos, namorados, segundos esposos e, muitas vezes até mesmo pais. Talvez sofram por se sentirem responsáveis pela a escolha que fizeram, por terem aproximado essa pessoas dos seus filhos.

Diz-se do ser humano, que ele é sensível, que na evolução biológica chegaram ao estágio mais elevado, a matéria viva consciente. Das mulheres, diz-se ainda, que trazem consigo, algo da caçadora, que um dia foram as orientar como fêmeas na escolha do macho capacitado a ser provedor da sua prole. Natureza e cultura em um mesmo indivíduo a concorrer para uma vida melhor, seria de se supor.

Dessa matéria viva consciente muito rendeu em benefício de uma vida de qualidade e, nessa esteira da qualidade chegou aos muitos exageros – a vida ficou asséptica. Uma experiência vital esquivada de todo e qualquer conflito.

Os conflitos de geração foram evitados com os pais transformando – se em amigos dos filhos. Como os filhos aprenderão a serem pais se, nos seus próprios pais, tiveram somente, amigos. Convém ainda lembrar que amigo vai junto até aonde a amizade não seja ferida.

Os conflitos de colocação de regras sociais, ainda tomam muito tempo das partes, especialmente, das famílias, mas predomina um acordo solitário, expresso mais ou menos assim: eu sou uma pessoa, você é outra e no respeito a essas alteridades, convive-se até aonde e aonde cada um suporta e a relação recolhe-se para uma relação de amigos, onde se cai também até onde relação não vira conflito a ser resolvido – o conflito se individualizou e, cada um, fique com o seu. Como saber o que é família, com tudo de bom e ruim que possa comportar, para o faro para escolha do parceiro da família funcionar e para colocar as energias a disposição das resoluções dos conflitos humanos, que muitas vezes são para desmontar o velho e criar o novo, como é compreendido na filosofia japonesa.

Como o indivíduo poderá se autorregular, meio a moda antiga “mais vale só do que mal acompanhado” que não é somente resignação, conformação – coisas muito mal vistas na cultura atual, mas pode ser maturidade, “capacidade de retardar prazer” para ao abrir mão do gozo imediato, intenso, porque imaturo ensejar, realmente, o prazer, que demora, mas quando vem, inclui o gozo – orgasmo da experiência, seja ela qual for, evita a dor e garante a continuidade prazerosa do sentir que fez bem feito que auto-afirmativa do indivíduo e, por isso realizadora da experiência do Eu.

Humana e portadora de todos esses devires dos meus semelhantes, intuitivamente, sinto que em busca dessa vida asséptica, na qual não há espaço para as pequenas mazelas cotidianas e pelo número exorbitante desses trágicos acontecimentos, criaram-se mazelas maiores, que não é possível explicá-las somente por critérios políticos e sociológicos, que recebem o nome de violência, às vezes adjetivada, violência urbana, mas que deixam escapar algo que não dá para nomear, pois que o bem e o mal, a contradição faz parte do elemento humano e, qualquer coisa dessa natureza, dele há de se esperar. Não é o fato, por si só, que monstruoso produz dor e revolta.

Mas, é o nível de incidências, o requite de crueldade, ou a simples falta de cuidado, como se aquela criança, não contasse de forma alguma, simplesmente parece não ser notada, simplesmente é esquecida e morre sufocada, desidratada, como muitas vezes é noticiado. Nesses casos, a criança para nem ser, se quer um incômodo. Simplesmente não conta para todos que deveriam fazer parte da sua rede de proteção.

Algo de antropológico, que por isso seja qualquer coisa de transcendental há de participar dessa loucura coletiva. O pleno individual não pode ser a explicação mais plausível, conforme os debates midiáticos, vestidos e uma solidariedade à figura mãe sofredora e de uma revolta contra o monstro violento, (nos) tentem fazer parecer.

Que homem é esse? Para não dizer muita coisa, nunca foi um pai, nem teve perfil pra ser, pois dentro das condições em que se estabeleceram as interações nas quais a criança foi concebida, muitas vezes, é uma tragédia anunciada do que o preparo da paternidade, assim como fazem os pássaros, preparando seus ninhos, para terem seus filhotes na primavera.

E, essa mulher, a mim como mulher o que mais me toca, em que elo da história humana perdeu sua intuição de fêmea, que protege a cria? Por que a importante interação de gênero tomou lugar da interação da espécie – por que na realização uma não estava incluída a outra que lhe é decorrente?

Perguntas para as quais não se encontra respostas, definitivas, mas precisam ser feitas, especialmente, para nós mesmos para atentarmos se não estamos reforçando essa corrente de “anomia”, na qual se vive uma vida sem perceber-se o que se está vivendo.

Vida asséptica, vida cômoda, vida preenchida de coisas que não reforçam o viver nem o vivente. Vida de gozo, mas não de prazer – anti-vida.

Francisca de Assis Rocha Alves
Enviado por Francisca de Assis Rocha Alves em 07/06/2013
Código do texto: T4329893
Classificação de conteúdo: seguro