A Bruxa que cosia livros e comia lagartixa com queijo de cabra

Dia desses resolvi fazer algo diferente e que resultasse em algo de útil (pra mim mesma), no caso! Acreditem ou não eu fui e fiz aquilo de útil que eu (esperava) desse resultado. .. E num é que deu!? Ao final da execução lá estava minha obra: meio torta meio, caolha e um tanto inútil - concluí!

De nada tinha adiantado meu esforço para tanto, mas nessa empreitada conheci uma mulher estranhíssima. Sua figura parecia ter saído de um museu de cera. Tinha olhos grandes, pele amarelada, e cabelo do tipo palha de aço que exibia o tom cansado do grisalho. Na ocasião, usava uma boina xadrez , calça jeans e um camisetão. E sua habilidade em costurar páginas me assombrava. Suas mãos iam juntando folhas sobrepostas , enquanto agulha e linha faziam seu bailado entre seus dedos.

Descobri mais tarde que ela morava num sótão com o fogo crepitando dentro de um pequeno caldeirão ao lado da mesa cheia de papéis abstratos misturados a ervas e incensos certamente comprados em Sallen.

Na parede, em frente à mesa, mais ou menos uns 2 metros de distância jazia uma pequena vidraça, cuja luz incidia diretamente sobre suas páginas costuradas. O restante do ambiente era sombrio como os olhos dela.

Tinha um mago como companheiro de cama e mesa. O homem aparentava seus sessenta e lá vai pedrada . Cabelos desalinhados e ligeiramente brancos, misturados a uma nuance já grisalha. Barriga proeminente e mãos de artesão. Usava óculos e lia jornais o tempo todo. Ao ouvir certos comentários do mesmo, pude perceber que era culto o suficiente para analisar Platão e Neruda.

Era realmente um casal folclórico e inusitado. Ela, a bruxa de cera ,dizia que tinha 30 anos (bem vividos) segundo ela e sua vasta oratória impressa dentro das estações do ano.

Ela gostava de folhas mortas, desprovidas de clorofila e fazia do vento seu confidente nas horas mudas da madrugada.

Descobri certa vez que odiava a luz ... Assustador? Para uma bruxa, não, quase nada. Obviamente não gostava do sol preferindo a chuva dançando na vidraça e o nublar do céu.

No sótão, ela tinha uma roca de fiar livros, estrelas de cinco pontas e toda sorte de quinquilharias profanas vindas do submundo da magia negra. O universo era sua crença e os elementos, seus deuses.

Festejava luas e suas fases e possivelmente dentro de um circulo em companhia de seu inseparável pentagrama.

Falei com ela (pessoalmente) duas vezes e foi o bastante pra eu sair correndo sem olhar pra trás. Devagar, descobrindo seu horror a crenças e dogmas. Não me admiraria se fosse iconoclasta.

No fim das contas, acenei para um até nunca mais e corri pro mundo real.

Lucinha Oliveira
Enviado por Lucinha Oliveira em 21/07/2013
Código do texto: T4397272
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