Janelas da Alma

Tenho vivenciado emoções e sentimentos tão contraditórios, paradoxos tão contrários à razão, que eu mesmo não consigo explicar. Nas últimas manhãs, ao acordar, mesmo antes de abrir os olhos, ainda em pensamentos, idealizo a cena de estar abrindo as janelas do meu quarto, bem de vagar, enquanto sinto a claridade da manhã que chega, e o calor do sol tocando o meu rosto... Aí faço uma prece silenciosa pedindo que o dia seja ao menos doce, tranquilo, harmonioso, e produtivo. Que eu não precise me abrigar em nada que, espero ainda estar por vir, só para me livrar dos meus medos, para fingir que minhas dores passam despercebidas, ou para me abrigar da melancolia que, furtiva, espreita todos os meus movimentos. Nesse momento, sou tantos em um só, que mal consigo identificar quem realmente eu sou, assim também, são tantas as encruzilhadas, caminhos tortuosos, atalhos obscuros, vielas que conduzem simplesmente a lugar algum. Muita calma nessa hora, e discernimento para fazer a escolha certa. É tão difícil saber por aonde ir, avaliar nossas necessidades, o que verdadeiramente nos faltas, pois sempre achamos que o que nos falta é justamente aquilo tudo que nos faz sentir bem, sem sequer avaliar se o que nos falta, é o que realmente precisamos, pois o que nos é conveniente é sempre bem vindo.

Sempre tentamos agarrar com unhas e dentes a vida que acreditamos merecer, entretanto, dia após dia, rezamos por uma vida mais interessante: sem o medo bruto de envelhecer, sem hora pra ir nem pra voltar, sem regras pré-definidas, vestindo apenas o confortável, sem rumo, sem rastro, sem deixar e nem levar saudades, mudar a cada minuto, se apaixonar loucamente e se apaixonar e se apaixonar por cada pequeno detalhe da vida, e por si mesmo. Deixar a ficção na tela do cinema e recriar a nossa verdadeira história, o que legitimamente somos não o que outros querem que sejamos. Sei que uma parte de mim incita aversão; provoca repulsa; e pode até inspirar indignação, mas deixa estar, aceito numa boa não ser perfeito.

Afinal tal perfeição inexiste no universo, não há ninguém que eu entenda efetivamente, nem ninguém que possa explicar de modo absoluto a essência do que sou.

Erminio Rezende
Enviado por Erminio Rezende em 07/08/2013
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