De onde eu vim?  Quem eu sou?  Para onde eu vou?




O exame criterioso de três perguntas consideradas básicas na análise do sentido da vida nos fornece alguns caminhos para a compreensão lógica do assunto. Essas perguntas são: de onde eu vim? Quem eu sou? e para onde eu vou?

Para respondê-las, dentro de um grau mínimo de coerência, serão estabelecidos alguns limites, são eles:

01) A análise será feita sob o ponto de vista concreto, material e positivo querendo dizer com isso que não serão admitidas explicações que não partam da imediata e clara resposta à indagações formuladas.

02) Será dada prioridade ao método dedutivo onde uma premissa está ligada a outra e ambas deverão apresentar coerência para validação das respostas;

03) Embora seja o objetivo chegar a conclusões claras, não necessariamente definitivas, será dada por satisfatória a conclusão quando ela ao menos apontar uma direção de aprofundamento;

04) Não serão reconhecidas como satisfatórias explicações que tenham por base uma autoridade doutrinária sem a necessária satisfação lógica de questões tidas como fundamentais.

De onde eu vim?

No plano da vida cotidiana essa pergunta aponta necessariamente para a existência de pontos dentro de um trajeto. Estou num dado lugar, ali cheguei em algum momento e para isso precisava estar em outro lugar anteriormente.

Deslocando-se essas observações para o plano existencial podemos estabelecer o seguinte paralelo, estou num dado lugar, ou seja existo, estou vivo, ocupo um lugar no mundo. Nessa linha de raciocínio é necessário admitir que num dado momento eu aqui não estava, ou seja, não existia, posto que não existo desde sempre.

Esse ponto preciso em que admitimos que passamos a existir é em nossa reflexão o ponto alfa, corresponde ao momento de nosso nascimento, ou melhor, de nosso surgimento enquanto ser integral.

Uma vez concebido, o nascimento com vida marca o início de uma vida plena que se desenvolverá até o seu término, ou seja, com a morte.

Esse período caracterizado entre a concepção e a morte é designado por vida.

Sob a ótica da vida física material a pergunta de onde eu vim só faz sentido dentro do ponto de vista biológico.

O corpo do ser que é concebido e nasce tem uma origem, é um efeito com uma causa. Há um histórico, seus genitores, sua genealogia, o meio-ambiente onde foi gerado e outros tantos que de uma forma ou de outra possam influenciar a biologia do ser nascente.

Nessa ótica é necessário também admitir que o ser humano nasce condicionado pela características de sua espécie e, em linhas gerais , essas características se mantêm.

Pelo que foi dito, então é possível através de uma averiguação pretérita levantar-se biologicamente os fatores responsáveis pela configuração de um determinado ser humano, porque possui esta ou aquela característica, doença ou malformação congênita.

Não há espaço para irracionalidades neste plano de análise, as leis de causa e efeito tudo explicam, a despeito de eventualmente não serem conhecidas num dado momento, ainda assim permencem responsáveis pelo efeito.

Mas vejamos o mesmo assunto por outra ótica, uma vez nascido o ser humano, sua experiência existencial única traz outras indagações que, sob hipótese alguma, são explicadas tão somente pela biologia.

A título de exemplo podemos falar dos sentimentos, de pensamentos, de fobias, de perversões, de aptidões, de níveis intelectuais diferenciados, da afabilidade, da insensibilidade moral, da inteligência e assim por diante.

Neste ponto faz-se necessário admitir que o ser humano, paralelamente à sua configuração biológica, traz uma configuração psíquica, um modo de relacionar-se com a existência, próprio de sua percepção.

Se fatores biológicos são herdados inegavelmente, de que forma poderíamos afirmar que fatores psíquicos também o são.

Deste ponto em diante só é possível prosseguir nessa linha de raciocínio se for superada uma visão sobre causa e efeito que pode ser melhor visualizada na seguinte questão;

Os pais de um assassino podem ser responsabilizados pelos crimes do filho? Sabemos que se os pais não tivessem concebido o filho este jamais teria cometido crime algum. Isso autoriza a condenação dos pais? Quem responde que sim adota uma postura que impede reflexões mais profundas e filia-se a uma visao de mundo há muito ultrapassada pela ciência.

Quem, por sua vez, desvincula as ações do filho em relação aos pais afirmando que os filhos são unidades intelectuais autônomas e, por isso, reponsáveis pelos seus próprios atos filia-se a uma corrente que distingue o aspecto moral do ser humano de seu aspecto biológico.

Não estamos querendo dizer com isso que os pais não influenciam a personalidade de seus filhos, mas sim que o livre arbítrio dá ao ser humano autonomia moral para decidir de que maneira quer agir, saindo da esfera de responsabilidade dos genitores.

Se admitimos que sob o ponto de vista psíquico e moral os seres humanos não estão necessariamente vinculados a seus predecessores, passamos a admitir o possibilidade de responsabilização pessoal de cada um sobre a própria conduta.

O que isso tudo te a ver com a pergunta de onde eu vim?

Tem tudo a ver pois se aditimos uma hereditariedade biológica, não podemos admitir uma hereditariedade psíquica.

Se não é admissível uma hereditariedade psíquica entre filhos e pais, diferentemente das causas biológicas, para a configuração de um determinado ser, que podemos tranquilamente buscar em fatores concretos, onde então podemos buscar as causas para uma determinada configuração psíquica que embasa uma personalidade.

Onde estão os antecedentes da personalidade, o que faz pessoas serem tão diferentes a despeito de terem nascido na mesma época, criado pelos mesmos pais e tido aparentemente as mesmas oportunidades.

Mas o tema da hereditariedade biológica também não está equacionado.

Perguntas do porque filhos de mesmos pais gerados sob as mesmas condições são às vezes tão diferentes, tanto do ponto de vista morfológico quando do ponto de vista da personalidade ficam sem respostas.

Por tudo o que foi dito até agora, então, a grande questão que se impõe é, porque as experiências existenciais de cada ser humano são tão diferentes.

Por que, se tantas condições biológicas são impostas antes do nascimento, alheias à vontade do ser nascente, elas não são impostas de maneira equitativa para que todos vivam uma experiência em igualdade de condições.

Se por um lado os fatores biológicos e ambientais explicam uma dada configuração corporal, eles não explicam porque determinados seres são agraciados por condições mais favoráveis do que outros.

Trataria-se de um sorteio bizarro, aqueles que têm mais sorte serão agraciados por condições mais favoráveis e os azarados por condições mais difíceis.

Quando admitimos a existência de um sorteio admitimos também a completa ausência de lógica no mundo. As coisas são assim porque são e isso, definitivamete não satisfaz uma mente mais aguçada.

Ou as causas para essas diferenças gritantes são obra de Deus, que brinca com suas criaturas, para os que admitem sua existência, ou são obra de nossos antepassados mais diretos e do ambiente ou ainda essas causas possuem uma explicação que ainda nos foge a compreensão.

Repugna a razão achar que Deus seria responsável por tamanha irracionalidade sendo em Sua concepção mais ampla o superlativo de todas as virtudes, não pode, em hipótese alguma, ser injusto.

Essas diferenças como resultado das ações de nossos antepassados até possui certa lógica, mas não explica o porque tais consequencias recaem sobre uns e não sobre outros trazendo novamente a ideia de sorteio.

Por fim para que seja admitida uma soberana justiça nas condições físicas e psíquicas herdadas por cada um é necessário que essas condições estejam relacionadas diretamente com o ser que as recebe.

Se ele não as gera, ele ao menos as merece e se ele as merece então de alguma forma fez algo antes de recebê-las e se fez algo antes de recebê-las, não  pode ter feito nesta existência.

Tais reflexões não são capazes de comprovar a pré-existência psíquica ( ou da alma) ao aparecimento do corpo físico mas, sem dúvida, colocam as coisas no devido lugar nos forçando a refletir sobre a necessidade dessa pré-existência como condição de explicação das desigualdades humanas.

De onde eu vim? Certamente que pela a maneira como eu aqui me encontro, abstraindo-se aquilo que é resultado de minhas ações presentes, um tanto do que me sobrevém, posso deduzir,  tem origem em ações pretéritas, mas a pergunta é... Onde?

Esta é a primeira parte de um ensaio que pretende tratar dos tês temas propostos no titulo. Aguardem!