Educador & Ator ; Professor & Empreendedor

Educador & Ator ; Professor & Empreendedor

Ensaio, a procura da primeira palavra para iniciar um novo dia – todas as vezes que toca o sinal - uma rotina que realizo há vinte e dois anos, continuo sempre com a mesma pergunta – serão as três famosas batidas de Moliere ou o sinal do recreio ? Pergunta que consigo responder, silenciosamente, a cada 50 minutos, funciona como um compasso em cadeia, um ensaio diário de troca de papeis, de jogo de cena e de olhares perdidos no futuro. Fabrico palavras e entre as linhas de uma nova linguagem vou reconstruindo os textos de cada dia, dia após dia entro em cena, acreditando no meu papel de educador que jamais confundo com um poeta fingidor, que me perdoe Fernando Pessoa, mais preciso atacar de ator para abrir a cena e transformar essa aula de Literatura em um palco iluminado mexendo com esse comboio de corda que é o coração do adolescente. Misturo razão e emoção, História e a Arte, apelo para o presente e conto, como uma historinha medieval as cantigas belas do passado e canto bem alto, para não deixar nenhum aluno dormir em sala, aquilo que de lá podemos usar cá.

Parece fácil – uma aula de Língua Portuguesa e Literatura – ou um espetáculo de saberes e trocas de conhecimentos. Espetáculo, sim , o seu palco menor, a peça que faltava na sua e na vida de todos aqueles alunos.

Nesse meu prólogo apresentei a virtude maior de estar nessa batalha da educação brasileira – esse salão árido de analfabetos de gravata com desejos e vontades que sempre ficam entre paredes e despachos – estar na arena acreditando que esse é o meu lugar, que aqui, no Ensino Médio, aprendo com os adolescentes uma lição nova todos os dias.

Avalio, nesse ensaio em três atos, a convergência entre Educador & Ator ; Professor & Empreendedor percebo que essa é a palavra da vez, convergência, acolhi como minha, mais escutei de uma MESTRA nos corredores da escola, ela ali, pertinho da escada, contando-me sobre a importância dessa palavra ...quando cheguei em casa corri ao dicionário e lá dizia assim : “ tender ou dirigir-se,concorrer, afluir e por fim ao mesmo ponto...” Era isso que faltava para escrever esse ensaio a PALAVRA e veio assim , em dia de aula , no corredor da escola.

Escolhi minha vivência em sala de aula para apresentar ao público e em forma de prosa aquilo que é dramático por excelência.

1º ATO – Virtudes

Acreditando que esse pequeno palco que escolhi é iluminado e que saber trocar conhecimento é uma virtude, podemos deixar de tanto jogo de palavras e encarar essa convergência como uma saída para um ensino que precisa de uma atuação mais vibrante. Estar envolvido com jovens ávidos de descobertas e desejosos de exemplos é um prazer e não um dever. Todos esses saberes diversos da adolescência precisam ser trocados dentro da sala – que nos dias de hoje, deixou de ser a de estar das casas de família e virou uma sala de aula – e o nosso dever de casa é reler esses tempos modernos com uma ideologia muito mais aplicativa e real do que aquela pregada por Cazuza. Uma ideologia da prática, uma marca na palavra , um discurso ético e digno de conhecimento e informação.

A maior virtude está na dignidade da sua prática educacional e não no conteúdo que angariou nos bancos da Universidade, esse foi importantíssimo para a construção do seu saber e não daquele que você teria que despertar no outro, é então nessa hora que o educador precisa decorar seu papel e virar ator da sua própria peça – fazer dela uma obra viva – com um conteúdo crítico – pronto para ser discutido e quem sabe encenado por algum daqueles ali, ainda sem muita perspectiva de vida, ainda sem muita razão, mais cheio de emoção, borbulhando emoção e desejo, então é nele nossa cola , é nela que está o nosso ECO.

Tender mais para uma instituição de saberes e não de conteúdos pregados em planos belíssimos que ficam escondidos em objetivos metodológicos – rasgar os planos e criar novos textos, como peças de um jogo de xadrez – isso mesmo, são dois lados que até por maturidade estão opostos mais não contrários e a ação deve ser com emoção para surgir uma única vitória – a da informação. Dirigir essa emoção e provocar desejo de saber.

Como?

Com verdade e conhecimento.

Com respeito e informação.

Com cuidado e carinho.

Como um educador que atua nesse pequeno palco e emociona o público com seus próprios textos.

2º ATO – Problemas

Os problemas existem e precisamos apresentá-los para podermos conviver com todos eles , ficar tapando o sol com a peneira , causa a cegueira da ignorância e a longo prazo vai apagando a luz no fundo do poço.

Listar todos eles, que covardia!

Nossa peça vai ficar lenta, distante, repetitiva e no mínimo, igual aos outros textos.

Esse ato vai arrastar nosso ensaio e precisaremos bater os textos diversas vezes. Nem tudo deve ser só prazer, conhecer a realidade faz dela uma realidade melhor e mais sadia.

Então, assim, como uma resolução matemática, vamos equacionar as palavras e abrir a cortina desse segundo ato.

Para minimizar o problema vou apenar atrelar esse ato ao personagem professor.

Professor, hoje sinônimo de problema, tanto para a família quanto para sociedade. Poucos hoje escolhem fazer faculdade de Química, Física, li uma reportagem que para Geografia algumas Universidades públicas estavam com vagas ociosas.

Disciplinas que precisam ainda de formadores para formar novas gerações, saber que conhecimento e a troca de saberes foi morrendo com a chegada da modernidade. Nem modelos de Mestres conseguimos formar nesses 40 anos de tentativa de uma geração de rebeldes, anos rebeldes. Lá os Mestres eram nossos ídolos, escritores, professores, poetas que fizeram história e despertaram multidões para leituras de textos, rodas de músicas, encenação de peças, filmes caseiros e outros desejos de juventude.

E agora, José ?

Dois mil chegou, a juventude ralou, a violência surgiu, o poder cresceu e o professor sumiu.

Problemas, todos revelados.

O Ensino Médio é um problema de ordem nacional que permeia a infância e a maturidade, aquele momento de conflito e indefinição. Agora, precisamos, matematicamente, resolver esse problema; número negativos mais números positivos, lembrei : “menos com menos dá mais e mais com menos dá menos”; não, na adição é diferente da subtração...que confusão !

Esse problema caminha junto com a humanidade e precisa ser encarado como uma mudança de prática educacional.É a convergência das proposta pedagógicas, a relação de aprendizagem no Ensino Médio deve ser como um balcão de informação para nortear esse conteúdo aprendido, e não ainda apreendido, pois nessa fase da vida onde, sem nenhum rumo de aplicabilidade, mais com muitos desejos de conquista, o saber precisa ser trocado pelo conhecer e pelo querer fazer. O professor deve ser um “problematizador”. Deve provocar, precisa dispor, necessita interagir. Deve agir como SER HUMANO, tecnológico e social, ético e SER CIDADÃO. É nessa hora que o papel do professor retoma seu lugar de destaque, ele é único na sala de aula que pode valorizar cada palavra e fazer valer o peso da troca de conhecimento e despertar o Ensino Médio que já está recheado de desejo.

Esse binômio de reflexão aluno-professor gera argumentação e conseqüentemente aprendizagem.

3º ATO –Sugestões

Derradeiro e conclusivo é nele que vai ficar a mensagem do autor, o público vai fazer o boca a boca e, é aqui também, que se espera “gran finale”.

Pois bem, como sugerir um novo final para o mesmo texto de todos os dias, cada dia o público é diferente, cada segundo do texto, uma nova emoção.

Personagens misturam-se e formam um único espaço – o espaço do empreender.

Empreender na sala de aula, precisa virar novo, sem nenhuma semelhança ao capitalismo abutre do primeiro mundo, empreender na rotina, empreender na construção dessa relação professor-aluno, empreender uma maneira de aprender, empreender os conteúdos necessários, empreender nesse mercado atual, empreender na vida .

Em , preposição ; prender , atar , render ; será mais um jogo de palavras que vai virar a página da história da educação?

Não é apenas um jogo nem sequer uma brincadeira de criança é uma prática, uma visão de mundo, uma atuação .

Aprender é uma questão de atitude e precisamos ter mais atitude.

O aprender não se resume a aquisições feitas na idade escolar, mas se aplica a todas as etapas da vida, daí a necessidade de busca contínua de saber e o empreendedorismo educacional é o gerador dessa atitude que além de focar desejos e sonhos planeja rotina e estabelece metas.

Eureka!

Esse é o final do texto, terminei a peça.

O terceiro ato fecha assim: todos na sala de aula com as carteiras em círculos e desenhando uma melhor maneira de resolver o problema do aluno do Ensino Médio.

Será?

O empreendedorismo não é uma fórmula é uma prática que estamos construindo, todos os dias, porque para eu ensinar é preciso desejar e desejar que o outro aprenda, então ainda estamos focados nessa meta de querer aprender. Tanto professores e alunos precisam querer aprender, ou melhor emprender.

Parece que agora esse ensaio começa a parecer um espetáculo e a convergência faz sentido ator, professor, educador e empreendedor todos na trilha da conquista. Todos esses personagens buscam o aplauso, o ator o reconhecimento, o professor ,uma nota dez, e educador o processo de crescimento do aluno e o empreendedor quer tudo isso junto , ele trilha metas, estabelece caminhos, muda rotas, replaneja e sonha, mais sonha com um mapa na mão, com rumo certo, com estratégia de ação definida, e arisca sem medo de ser criticado ou discriminado, porque ele logo procura outro ponto no mapa para conquistar.

E, assim de conquista em conquista ele vai conquistando o seu lugar nesse palco da vida.

Fiz meu ensaio e dentro dele peço permissão para encerrar o texto com o MESTRE da ARTE MAIOR que já sonhava com a modernidade e mesmo mudo gritou palavras de conquista e de querer.

Tudo depende de mim!!!

Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio

marque meia-noite.

É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.

Posso reclamar porque está chovendo...

ou agradecer às águas por lavarem a poluição.

Posso ficar triste por não ter dinheiro,,,

ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.

Posso reclamar sobre minha saúde...

ou dar graças por estar vivo.

Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria... ou posso ser grato por ter nascido.

Posso reclamar por ter que ir trabalhar...

ou agradecer por ter trabalho.

Posso sentir tédio com as tarefas da casa...

ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.

Posso lamentar decepções com amigos...

ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.

Se as coisas não saíram como planejei, posso ficar feliz por ter hoje para

recomeçar.

O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.

E aqui estou eu, o escultor que pode dar a forma.

“Tudo depende só de mim”.

Charles Chaplin

A convergência agora fica mais ou menos assim: todas essas palavras nos remetem ao mesmo ponto. O ponto de partida é agora também o mesmo ponto de chegada, já ouvi isso antes, parece que foi em uma música do Milton Nascimento, não me recordo agora, sei que partiremos para uma etapa seguinte e se ainda assim, achar que não foi suficiente, sei também que esse meu ensaio, agora um espetáculo de texto, vai ser lido e relido e quem sabe entre uma página e outra , um mestre , um professor, um ator, esbarre no meu rastro de esperança e possamos juntos criar uma grande peça , uma obra de arte , onde o texto seja uno mais com diversos personagens e que todos queiram marcar na história o empreender de um sonho.

Que vai sair do papel e virar HISTÓRIA DE VERDADE.

Bia Oliveira
Enviado por Bia Oliveira em 14/04/2007
Código do texto: T448956
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