Somos o que aprendemos a aprender

Uns aprendem a crer, ter fé, outros aprendem a duvidar. A grande maioria ignora a possibilidade de duvidar. Tem para si que as verdades são imutáveis, são hoje e serão sempre. Nesse cotidiano embate, entre os que crêem e os que duvidam, os últimos estão em desvantagem. O simples fato de que a maioria compartilha das verdades dominantes serve como referendo de que noutro lado, os que duvidam e, portanto questionam, estão errados, equivocados, desviados dos caminhos elegidos para a humanidade.

Precisamos, pois, avaliar. Computar como e por quem se deu a evolução do conhecimento humano. Buscar observar se estes que fizeram a roda da vida girar o fizeram com o apoio nos domínios das verdades estabelecidas ou ao seu tempo recriaram as verdades, duvidando das existentes.

Cresci aprendendo a duvidar.

Não há uma verdade só, única. O que existem são verdades possíveis. Admiradas e questionadas equilibram-se na balança de um acordo. De tempos em tempos, construindo avanços e retrocessos, essa balança pende. E deste movimento se ampliam os horizontes, sepultam-se verdades, e a humanidade apreensiva avança, por outro sorridente, retrocede aplaudindo a criação.

Cresci aprendendo a duvidar. Duvido do estabelecido. Duvido do inovado. E com isso sofro. Por sofrer talvez não tenha evoluido.

Quem me dera poder abraçar as certezas da vida e assim me aconchegar. Ter fé simplesmente.

Mas tenho consciência de que se hoje estou aqui é porque outros me antecederam. Sou portanto síntese de uma caminhada. Que nunca foi só. Assim, a adoração ao fogo é a pedra devem ser embrionárias, como o medo, que não me abandona. Por outro, ante a solidão, fácil é a saudade de um corpo que se move.

Nessa luta cotidiana entre duvidar e crer, seguimos. Com interrogações maiores, olhando para a lua cheia, durante a noite, com o nariz em uma flor de maçanilha e os olhos ligeiros afagando desesperos.

Criando e recriando verdades.

Cresci aprendendo a duvidar, assim juntei gravetos, minha contribuição a esta fornalha gigante, que é o conhecimento humano.