DISSIPANDO SOMBRAS

CENTRO ESPÍRITA PAULO DE TARSO

DISSIPANDO SOMBRAS

PEÇA TEATRAL DE 3 ATOS

Psicografia / Fernando Barbalho (médium) – autor desconhecido

01/06/1996

PEÇA MEDIÚNICA APRESENTADA INICIALMENTE NO CENTRO ESPÍRITA PAULO DE TARSO – IPIRANGA – RECIFE - PE

 

DISSIPANDO SOMBRAS

Personagens:

FAMÍLIA

I. Chico (pai)

II. Laura (mãe)

III. Nêmeses (filha mais velha)

IV. Elpídio (filho mais velho)

V. Minerva (filha mais nova)

VI. Demétrio (filho mais novo)

SENTIMENTOS

I. Amor

II. Concórdia

III. Harmonia

IV. Vaidade

V. Orgulho

VI. Egoísmo

EQUIPE CENOGRÁFICA:

Contra regra

Operador de som e luz

Maquiador

Diretor

TOTAL DA EQUIPE

16 Pessoas

Ato I - Cena I

SALA DE ESTAR

Luz branca na cena.

Sala de estar com um sofá, uma mesa de centro e um abajur. Uma sala simples. Laura está sentada fazendo tricô. Música de fundo “Esquinas”.

Entra Chico e tira o paletó, colocando-o sobre o sofá. Música com a chegada de Chico: “Bat Masterson”.

Chico senta-se ao lado de Laura. Está com ar preocupado. A música pára.

 Chico - Já não sei o que fazer. O Paulo continua aprontando na empresa e eu vou ter que “entregá-lo”, não posso deixar ele me desrespeitar. Afinal sou seu superior...

 Laura - Fazer o que meu bem? Cada um sabe de si e quem procura sempre acha.

Estão conversando quando entra Nêmeses jogando a bolsa na mesa de centro e liga o som em alto volume (música “Olho d’água”) senta-se ignorando a presença dos pais e prepara-se para “curtir” a música. Os pais não tomam nenhuma atitude ficando estáticos.

Entra Elpídio e grita:

 Elpídio – Abaixa esta porcaria! Estou estudando!

 Chico (com ar contemporizador) – Vai filha... Abaixa...

Laura levanta-se triste e vai para a cozinha, saindo de cena.

 Nêmeses – Já vai começar tudo de novo! Que inferno! – Desliga o som e sai.

 Elpídio (em tom de desculpas) – Papai, não quis criar confusão... Apenas preciso estudar o curso é puxado...

 Chico (com um sorriso e dando um tapinha no ombro do filho) - Tudo bem filhote... Tudo bem.

Chico também sai de cena, indo para a cozinha.

Elpídio fica sozinho lendo. Sala escura. Luz azul nele. Música “Wonderful Wolrd” com Louis Armstrong. A luz apaga-se.

Egoísmo que estava escondido a um canto da sala, aparece esfregando as mãos. Luz vermelha em egoísmo. Música de fundo: “Slave dream”

 Egoísmo – É hoje que eu me solto. “Cada um sabe de si” não é Dona Laura? (frisa sarcasticamente a frase) é hoje! Tá prá mim. “Cada um sabe de si” (Fala com sarcasmo). Enquanto Egoísmo dança em um lado da sala, a música toma conta do ambiente.

Orgulho, que também estava a um canto da sala, aproxima-se sorrateiro. (Música “YA BA YA”) Luz amarela e vermelha em orgulho.

 Orgulho – O que o amigo está tramando? Cabe mais um?

 Egoísmo – Desde que me ajude... Sempre cabe mais um. “Cada um sabe de si”, caro Orgulho. (dá uma risada sarcástica)

 Orgulho (todo faceiro) – ‘Xá comigo!

Nêmeses volta à sala. Volta a luz branca. Apagam-se as luzes de Orgulho e Egoísmo.

 Nêmeses – Olha Elpídio esta tua mania de santo ainda vai te ferrar. Mesmo assim estou disposta a ficar “numa boa”, afinal você nem sempre sabe o que diz...

 Elpídio (exaltado) – Não sei o que digo!? Ora a mocinha esquece que estudo exatamente para saber o que digo? Faço Direito. DI-REI-TO! É bom não esquecer! (luz vermelha quando repete a palavra DIREITO)

 Nêmeses (sarcástica) – Tá bom Doutor! Avisa a mamãe que dei uma saída para respirar ar puro!

Nêmeses sai. Elpídio volta a ler. Apaga-se a luz vermelha. Volta a música Wonderful Wolrd, com luz azul.

Vaidade que também estava em um canto aparece (luz vermelha. Música Whish me luk)

 Vaidade (imitando Elpídio) – Faço Direito, é bom não esquecer! Ora, ora. O santinho está bobeando... (Torce as mãos e dança na sala)

Aparecem Orgulho e Egoísmo (Luzes: vermelho, amarelo e verde, bruxuleantes)

 Orgulho (Com gestos exageradamente solenes em direção a Vaidade) – Bela Vaidade. Também veio ao encontro? Seja bem vinda.

 Vaidade (Com zombaria e exageros) – Vim aqui gastar um pouco de minha beleza. E vocês, não me digam que nesta casa tem espaço para além de mim, para o Orgulho e o famoso Egoísmo?

 Egoísmo (Com uma mesura exagerada) – Sempre cabe mais um. Afinal cada um sabe de si...

 Orgulho (também com mesura e frisando as palavras) – E sempre alguém é superior...

Apagam-se as luzes de cena.

Ato I - Cena 2

SALA DE JANTAR

Uma mesa com duas cadeiras, um bule de café, asçucareiro e duas xícaras.

 Laura (sentada à mesa com uma xícara de café nas mãos e ar desolado) – Estes meninos... Sei não... Não sei a quem “puxaram”, estão sempre arengando. (Toma um gole de café, pensativa)

 Egoísmo (aparecendo na cozinha e falando ao ouvido de Laura) – Cada um sabe de si...

 Laura (Parecendo lembrar-se de algo, pára a xícara no ar e balançando a cabeça) – Afinal, cada um sabe de si. (Volta tomar o café).

 Chico (que está sentado à mesa lendo um jornal e com a xícara em uma das mãos) – Que foi que você falou?

 Laura (irritada) – Nada!

 Chico – Ah sim! Pensei ter ouvido você falar: “cada um sabe de si”, minha velha, isto está virando um cacoete...

 Laura (com a “cara fechada” de irritação) – Lá vem tu de novo! Será que só quem fala correto é tu?

 Chico (com ar superior, sem abaixar o jornal – Luz vermelha em Chico) – Muitos falam certo, mas duvido falarem melhor do que eu. Podem falar tão bem quanto!

 Orgulho (falando junto ao ouvido de Chico) – O que sei é fruto de minha inteligência – Cena envolvida na luz vermelha.

 Chico (abaixando o jornal) – e tem mais: o que sei é fruto de minha inteligência!

Apagam-se as luzes.

Ato I - Cena 3

SALA DE ESTAR

Elpídio continua lendo seu livro. Entra Demétrio choroso (Luz vermelha em Demétrio – Música “Com olhos Vermelhos”)

 Elpídio (solícito) – Que houve Demétrio? Está triste por alguma coisa?

 Demétrio (agora envergonhado) – Foi nada não... (pega o Celular e começa e jogar um “game”)

Entra Minerva. Luz azul. Música “Automatic Lover”.

 Minerva – Ah o molenga já chegou! Que vergonha seu Demétrio... Fugir feito um mariquinhas... Meu irmão... (Neste momento Orgulho se aproxima e fala ao ouvido de Minerva)

 Orgulho – Homem que é home não foge!

 Minerva – Homem que é home não foge!

Elpídio levanta os olhos do livro. Apaga-se a luz vermelha. Volta luz branca.

 Elpídio – Afinal o que houve Demétrio?

 Minerva (falando antes de Demétrio) – O frouxo brigou e apanhou na escola!

 Elpídio (largando o livro no sofá) – Que briga foi essa, Demétrio?

 Minerva (bastante irritada) – Vai Demétrio fala para o papai (frisando bem a palavra papai)

Minerva sai de cena e vai para o quarto.

 Elpídio (autoritário) – Vai Demétrio, fala!

 Demétrio (com raiva) – Nada demais. Apenas chamaram ela de “canela de sabiá”, ela bateu no menino e acabou sobrando prá mim.

Demétrio sai de cena com raiva e vai para o quarto.

Concórdia está presente (música primavera de Vivaldi) Elpídio pressente sua presença.

 Elpídio (incrédulo) – Só me falta agora ver fantasma!

FIM DO 1º ATO

Ato II – Cena I

SALA DE ESTAR

Elpídio está lendo. Concórdia, Harmonia e Amor aparecem sem que sejam vistos. Estão tristes. (luz azul no trio)

 Amor – Irmãos. Chegou a hora. Teremos que ajudar nossos amigos.

 Concórdia – Ajudar? Como irmão Amor? Eles não querem saber de mim e eu não posso impor-me...

 Amor – Certamente irmã Concórdia, haveremos de conseguir. A irmã Harmonia irá ajudar-nos na tarefa que se avizinha...

 Harmonia – O que estiver ao meu alcance farei. Afinal gostaria de ficar entre nossos amigos...

Todos estão tristes, mas não desanimados. Amor e Concórdia saem de cena (Luz azul)

Harmonia fica por trás de Elpídio e aplica-lhe um passe (música Pour Elise)

Elpídio (despertando de um transe) vira-se e vê Harmonia. Fica extasiado. Apaga-se a luz azul. Volta a luz branca. Encerra-se a música de fundo.

 Harmonia – Elpídio é chegada a hora. Não há mais tempo...

 Elpídio – Quem é você? O que quer? Que conversa é esta?

 Harmonia (sorridente) – Uma pergunta por vez. Eu sou Harmonia. Gostaria de estar sempre em seus corações e o momento disto acontecer está chegando...

 Elpídio – Você é um anjo?...

 Harmonia – Digamos que sim... Sou mais um sentimento que você tem guardado em você e que precisa deixar sair mais vezes.

 Elpídio (falando de si para si) – Um anjo... Quem diria... Um anjo. (voltando-se para Harmonia, agora todo cerimonioso)

 Elpídio – Anjo Harmonia, que posso fazer para ajudar? Como posso fazer algo?...

 Harmonia (sorridente) – Fácil. Ore em família. Tome do Evangelho, reúna a família. Leia e medite. Já é um bom começo. Lembre-se: eu estou sempre por perto!

Entra Demétrio com um “tablet” nas mãos entretido com um jogo. Senta ao lado do irmão com estardalhaço. Vibrando com o jogo.

 Demétrio – Toma... Vai... Tome... Eia. Viu Elpídio? Tô um fera!

Entram em cena Orgulho e Vaidade (Luzes vermelha e amarela)

 Vaidade (falando ao ouvido de Demétrio) – Sou o maior! Simplesmente o melhor!

 Demétrio - Sou o maior! Simplesmente o melhor! (voltando a jogar).

 Orgulho (falando ao ouvido de Elpídio) – Melhor nada! Você tem lá condição de ser melhor em alguma coisa!

 Elpídio – Ótimo! Realmente você é muito bom!

Apagam-se as luzes coloridas neste momento.

 Orgulho (virando-se estupefato para Vaidade) – Não entendi!

 Vaidade – Nem eu!

Luz azul. Harmonia que assistiu a tudo sorri para Elpídio. Só ele a vê. Demétrio continua jogando.

Harmonia afasta-se da cena. Luz branca. Orgulho e vaidade continuam gesticulando. Não entendem o que está acontecendo. Elpídio volta a ler com um sorriso.

Entra Nêmeses.

 Vaidade (luz vermelha. Torcendo as mãos) – Xá comigo. Essa não me escapa.

Vaidade vai até Nêmeses, que sentou no sofá e fala-lhe ao ouvido. Sempre retorcendo as mãos.

 Vaidade – Como minhas unhas estão feias!

 Nêmeses - Como minhas unhas estão feias!

 Vaidade – Meu cabelo então. Está uma palha!

 Nêmeses - Meu cabelo então. Está uma palha!

 Vaidade – Estou parecendo a malamanhada da Minerva!

 Nêmeses - Estou parecendo a malamanhada da Minerva!

 Elpídio – Que foi? Está falando sozinha?

 Nêmeses - É estou! Por quê? Algum problema?

 Elpídio – Desarme-se minha irmã... Não falei por mal... (contemporizador)

 Egoísmo entrando em cena (Luz amarela) (Ao ouvido de Nêmeses) – Faça como eu e só cuide de sua vida!

 Nêmeses - Faça como eu e só cuide de sua vida!

Nêmeses sai da sala irritada.

Egoísmo, feliz, fala com Orgulho e Vaidade esfregando as mãos com gestos grandiosos e um grande sorriso no rosto.

 Egoísmo – como é irmãos, já conseguiram bagunçar o coreto?

 Orgulho (irritado) – Que nada. Esse aí (aponta para Elpídio que durante todo o tempo esteve lendo ou com o livro nas mãos) parece imune aos meus encantos. Parece um carola...

 Vaidade (desolada) – E a mim então! E olhe que ele é um cara bonito... Mas não consigo fazê-lo se ver assim... Desse jeito vou perder minha vaga...

Entra em cena Concórdia (luz azul – música de fundo Concerto nº 2 Bach) Orgulho, Vaidade e Egoísmo não conseguem ver, mas escutam a música de Concórdia e parecem gostar.

 Concórdia (falando aos três que a escutam) – Irmãos a hora da colheita se aproxima...

 Orgulho (virando-se para vaidade) – Falou?...

 Vaidade (já apreensivo) – Eu não...

 Concórdia – Conhecerei a verdade e a verdade vos libertará!

 Egoísmo (apavorado) – Pessoal! Vamos embora que isso é coisa de anjo!

FIM DO 2º ATO

Ato III – Cena I

SALA DE JANTAR – Todos ao redor da mesa – Sentimentos positivos atrás dos personagens. Amor atrás de Chico. Sentimentos negativos espalhados na sala. Preparam-se para fazer o Evangelho no lar.

 Elpídio – Papai, por favor, faça a prece inicial.

 Chico (meio sem jeito) – Só sei rezar o Pai Nosso...

 Elpídio (sorridente) – Acho que serve. Vamos lá...

Luz azul na cena. Chico (concentrado) faz a oração do Pai Nosso.

Orgulho, Vaidade e Egoísmo, que se encontram perambulando pela sala, olham para os lados assustados. Após a prece faz-se silencio. Todos estão concentrados. (Música de fundo: Primavera de Vivaldi).

 Orgulho (luz vermelha na cena) falando ao ouvido de Chico – Você é o chefe da família, não deixe seu filho comandar!

Chico não se meche. Continua concentrado na música.

 Egoísmo (luz amarela na cena) falando ao ouvido de Laura – Aproveite a chance e peça aos anjos o aumento do salário de Chico.

Laura não se mexe, como Chico.

 Vaidade (luz verde na cena) falando ao ouvido de Nêmeses – Seus cabelos estão uma desgraça. Vamos arrumá-los.

Nêmeses não se mexe, como os pais.

Orgulho assustado chama os outros dois. Apaga-se a luz verde. Acende-se a luz azul.

 Orgulho (assustado) – Camaradas o negócio tá feio. Vamos embora!

Todos tentam sair e não encontram a porta, entram em pânico. Harmonia e Concórdia que estavam em volta à mesa, aproximam-se deles e estendem as mãos em passe magnético. Os três muito assustados começam a se acalmar aos poucos e ficam a um canto da sala, sempre sob os cuidados de Harmonia e Concórdia. Durante toda a cena permanece a música de Vivaldi, sendo substituída na fala de Amor pela música Ouverture Turnhause de Wagner

 Amor aspirando o ar feliz e estendendo as mãos em passe fala com voz potente e suave – Que a paz do cordeiro esteja entre nós (apaga-se a luz azul, acende-se a luz branca).

Vaidade, Orgulho e Egoísmo estão encolhidos a um canto recebendo o passe de Harmonia e Concórdia.

 Elpídio (saindo da concentração e falando em tom solene) – Se papai permitir vou ler um texto do Evangelho.

 Chico (com um aceno de cabeça) – Claro filho. Pode ler.

Elpídio lê o texto do Evangelho Segundo o Espiritismo no Capítulo XI, item 12. Enquanto Elpídio lê, Egoísmo e Orgulho parecem alheios a tudo, com olhares abobados ao derredor. Vaidade permanece quieta e com o olhar distante.

 Elpídio (com ar solene após a leitura) – Família! Vamos meditar sobre o que lemos. (Todos baixam as cabeças contritas)

Amor (Luz azul na cena) tira da roupa um pergaminho e começa a ler (leitura no Capítulo XI, item 13 do Evangelho Segundo o Espiritismo). Durante a leitura com a música de fundo “Abertura de 1812” de Tchaikovsky, Vaidade, Egoísmo e Orgulho despem-se de suas túnicas exageradas e limpam seus rostos de maquiagens carregadas. Sorriem, abraçam-se uns aos outros e dançam felizes e espantados. Enquanto isso Amor, Harmonia e Concórdia dão passes em direção à platéia. No final da música, quando os canhões e os sinos começam, cai sobre todo o recinto uma chuva de prata e pétalas perfumadas (no palco e na platéia).

A peça deve encerrar-se nos tiros de canhão e sinos da Abertura de 1812.

FIM