Ensaios com Montaigne - Por que se esconder?

“Na medida de minhas forças, procurarei evitar de nada dizer após a morte que não haja dito em vida, abertamente”. (MONTAIGNE, ENSAIOS, AS AÇÕES JULGAM-SE PELAS INTENÇÕES)

Em uma pesquisa feita com pessoas que estavam a beira da morte, a respeito do que se arrependiam de não terem feito, disseram que, dentre outras coisas, que era não terem expressado o que sentiam. Isso me faz pensar porque damos vida aos nossos sentimentos, tão raramente. Por que apenas em datas comemorativas? Quando ganhamos alguma coisa? A vida parece um deserto quando não amamos.

Dizia Nelson Rodrigues, que as pessoas que não amam odeiam quem ama. Não consigo entender por quê. Se eu não amasse nada, me contentaria, apenas em contemplar o amor alheio e escrever poesias sobre isso. Não atoa, nessa fase árida da minha vida “do pensamento no deserto”, escrevo poesias. Acho que, assim, de alguma forma consigo abraçar, ainda que a sombra, da mais prazerosa das sensações. Também é uma forma de dizer, o que no momento não posso falar a ninguém.

Pra mim, não há alegria maior do que botar para fora o que tenho para dizer. Há dois dias me vi pairando o céu, ao expressar livremente o que sabia sobre o que estava vendo. Se pudesse voltar no tempo, não restam dúvidas que aceitaria pegar o trem de volta, a fim de saborear a cada segundo o doce fruto de despejar na carne a música mais bela da alma.