Ensaios com Montaigne - A mentira é mãe da ignorância?

“Em verdade, mentir é um vício odioso. Somente pela palavra é que somos homens e nos entendemos. (MONTAIGNE, ENSAIOS, Dos mentirosos)

A mentira é mãe da ignorância, inimiga nº 1 da filosofia. Viver na mentira, tê-la como verdade, como guia, é como morar na caverna de Platão. Se é o papel do filósofo investigar e tentar descobrir respostas a respeito de como podemos viver bem, sabiamente, e felizes de acordo com as leis que regem o mundo e a nós mesmos, logo, não podemos duvidar que a mentira imobiliza o acesso à realidade, à possíveis verdades, e resoluções de problemas. Não atoa os filósofos nos incitam para o cultivo das virtudes e para o desprezo dos vícios. O raciocínio é simples: a verdade nos conduz ao bem, a mentira para o mal; a verdade para o conhecimento, para a sabedoria, a mentira para a ignorância – é por isso que Sócrates dizia que o mal nada mais era do que ignorância acerca do bem, e por isso, em seus diálogos, buscava ensinar as pessoas, a partir do que elas pensavam a respeito da vida, mostrando-lhes seus equívocos, a fim de que pudessem julgar a vida, mais próximos da verdade, e, portanto, do bem.

Meditemos a respeito de como as virtudes e os vícios, são, cada um a seu modo, guiados pela verdade e pela mentira. A coragem, a humildade, a bondade não podem ser cultivados pela mentira da mesma forma que o medo, o orgulho, a maldade, o medo, a dissimulação não podem ser encontrados em um solo onde habita a verdade. Exemplos: “Aquele que deseja ser sábio, deve, em primeiro lugar, confessar a sua ignorância; “quem não deve não teme”.

Na minha experiência com a vida, o que disse a cima pode ser observado claramente. Quando mentia? Quando queria parecer aos olhos dos outros poderoso, desejável, bom, belo, honesto, construindo na cabeça das pessoas uma ideia equivocada sobre mim, mas que me era útil, e ficar numa zona confortável, onde eu não precisava me esforçar para nada, e ao mesmo tempo, através das ilusões que eu próprio criava, a minha própria caverna, fugindo da verdade, da realidade, complexidade e dificuldade da vida.

Para efeito de ilustração: certa feita, quando estudava publicidade, e era avesso ao estudo, a compromissos, imerso dos vícios, disse que cai de uma escada rolante no shopping quando estava indo sacar dinheiro para comprar de materiais para um trabalho que iria fazer em grupo no dia, para não ter que retornar e fazer o trabalho. O motivo principal que me levou a fugir e mentir depois foi o fato de eu não ter dinheiro para comprar o material no momento, e ter tido vergonha de confessar isso, visto que eu queria ser olhado pelos outro como alguém rico. Quando resolvi falar a verdade? Quando resolvi tentar amar ao meu próximo como a mim mesmo; quando resolvi me tornar amigo da sabedoria, um filósofo por assim dizer. “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”. Desejas se filiar à sabedoria? Esforce-se para de desembaraçar das sombras que se encontram, não receando as luzes e os trovões que dissipam as trevas.

A maior mentira do homem consiste em mentir que mente. O maior serviço que presta à humanidade: revelar suas mentiras. Um método prazeroso para se tornar um amigo da sabedoria: escrever Ensaios. O pior método, exigir do outro a Verdade, a única resposta certa, com ameaças de castigo, caso a resposta não seja verdadeira e esteja errada.

Por fim, gostaria de fazer mais algumas considerações a respeito do pacto do que os vícios nos levam a ter com a mentira, e que as virtudes, por sua vez, nos levam a fazer com a verdade. Veja as propagandas que passam na televisão: fique rico, compre o caso do ano, e assim será feliz. Não importa como você virá a ser rico: roubando ou mentindo – vejo nas entrelinhas. Veja o que disse o filósofo Epicuro: podemos ser felizes, nos libertando da riqueza, e dos prazeres que nos levam ao sofrimento; nunca é tarde para filosofarmos, da mesma forma que nunca é tarde para sermos felizes.

Você não ainda não conhece Epicuro? Eis uma prazerosa oportunidade de conhece-lo, no documentário: Filosofia: uma guia para a felicidade – Epicuro e a felicidade: http://www.youtube.com/watch?v=ah4z0BaYtaU&hd=1