Ensaios com Montaigne - Por que abrir uma nova porta?

“Estamos bem ou mal no mundo segundo o que pensamos [...] Não basta ver a coisa, importa como vê-la”. (MONTAIGNE, ENSAIOS, O bem e mal só o são, as mais das vezes, pela ideia que deles temos)

Há cerca de mais ou menos três anos estava eu, no dia de uma prova de estética estudando de última hora, com a missão de não só ler mais de 300 páginas em menos de quatro horas, mas também de digerir o que estava escrito a fim de aprender o que não havia sequer pensado em sala de aula. A sensação era como se eu tivesse sido lançando em uma arena junto com um leão e fosse obrigado a lutar pela minha sobrevivência. Tinha tirado 2 ou 3 na primeira prova, e precisava tirar uns 7 nesta prova. Daí o sofrimento, que perdurou até eu receber a nota: 7. Sorte? Merecimento? Até hoje eu não sei. Só sei que o meu descaso pelo estudo se devia a ideias cristalizadas que eu conservava sobre tal prática desde a infância.

Embora tenha passado por esse trauma inúmeras vezes, tendo chegado até o ponto de ser arrastado, só abandonei a corrente que me mantinha prezo à ideia de que ler, refletir, experimentar o conhecimento não com a memória mas com a consciência trazia uma dor insuportável, quando me encontrei na aula de filosofia com Dostoiévski, Freud, Nietzsche, Luiz Felipe Pondé. Desse primeiro encontro um novo mundo para mim se abriu e por lá encontrei: Montaigne, Sêneca, Erasmo, Shopenhauer, Sartre, Rousseau, Van Gogh, Leandro Chevitarese, Sócrates, Bernini, Paulo Ghiraldelli, Fernando Pessoa, Virginia Woolf, Lima Bach, João Pereira Coutinho, Francisco Bosco, Alain de Botton, André Martins Baudelaire, Goethe, Leandro Karnal, Ludovico Einaudi, David Garrett, Claudio Monteverdi, Vivaldi, Bach, Sol Gabetta, Roberto Machado, Proust, Cioran, Bergson, Jung, Márcia Tiburi, Salvador Dali, Michel Onfray, Hannah Arendt, Contardo Calligaris, dentre outros. Por que a partir desse encontro passei amar o saber? Por que descobri que o sofrimento em si não estava em nenhum lugar a não ser na minha cabeça?

“Se você abre uma porta, você pode ou não entrar em uma nova sala. Você pode não entrar e ficar observando a vida. Mas se você vence a dúvida, o temor, e entra, dá um grande passo: nesta sala vive-se ! Mas, também, tem um preço... São inúmeras outras portas que você descobre. Às vezes curte-se mil e uma. O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta. A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos. Os erros podem ser transformados em acertos quando com eles se aprende. Não existe a segurança do acerto eterno. A vida é generosa, a cada sala que se vive, descobre-se tantas outras portas. E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas. Mas a vida também pode ser dura e severa. Se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente. É a repetição perante a criação, é a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores, é a estagnação da vida... Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens!”.