Quando esgotarmos as fontes, como lavar as mãos?
Pressionada pelo desenvolvimento pouco sustentável, a Cascata se pronunciou:
-Muitos me chamam de queda, véu de noiva, cortina. Posso ser todas essas coisas, mas queda eu não sou. Sou pra cima, expiro, inspiro, suspiro e simbolizo a vida. Rego as pedras, as mantendo fresquinhas. Pedras que não se atiram e nem gostam de ser atiradas contra ninguém.
A pedra, como parte desse contexto e sem se omitir, também se manifestou:
-Dou meu testemunho. Ela mantém o meu musgo e ele, por sua vez, os sapos, duendes e outras criaturas, lendárias ou não. Ela é mágica e tudo nesse mundo é magia. A biografia da Cascata fala por si mesma e até a lesma é sua criação. Ela é festa, mas não festeja.
O sapo também fez questão de abrir a sua boca grande:
-Ela é a maior representação da natureza. Somos tudo isso e só um elemento se esqueceu. ÁGUA, AR, FOGO, TERRA, enquanto o quinto fracassou.
Mas faltou alguém para aguar, soprar, aquecer e semear.
Ela assanha os insetos e isso é tudo do que preciso. Estamos vivos, graças ao efeito Cascata, mas vamos continuar?
O duende, saindo da lenda e agitado como nas fábulas, entrou para protestar:
-Vamos! E chega de trá-lá-lá. Tudo isso é coisa minha. Essa diversidade todinha, faz parte de um plano, de um projeto, que inicialmente não incluía o ser humano , que chegou e sabotou a experiência. Se diz doutor, mas de curar dor, não sabe nada.
A Cascata, se sentindo de novo protegida, retomou seu discurso:
-Peraí. Eu me derramo em água e é para todos. Sou parte de um universo, onde cada um é um verso da canção. A chuva é o início e a vida o princípio. Já me fiz falar pelo Caetano e em Planeta Água, num festival, e onde você estava, filho sensacional ou sensacionalista?
A pedra, aproveitando-se da deixa:
-Depois dizem que sou eu quem quebra vidraças.
O sapo, resmungando mais do que falando, observou:
-Tenho fama de ter boca grande, mas maior é o estrago e no lago já não dá. Meus girinos, pequeninos, são atração de aquário. A nossa única chance está na nuance do duende e na sua magia, pois, depois que a geografia mapeou, pouca coisa continuou intacta.
A natureza, detentora de todo esse complexo e cheia de complexos, completou:
-Furacão não adiantou. Enviei raios, fiz soar trovões e faltaram visão, audição e razão. Vou criar o Tsunami e nenhuma alma infame, que não me respeite, vai sobreviver. Vocês hão de ver.
E o operário, sobre o trator, ficou completamente paralisado.
Todos então e juntos:
...e a Cascata, na entrada do condomínio, é só uma maquete de uma fonte, uma reprodução barata da invencionice, pois na sua idiotice, ao que nos é caro, o homem não dá valor.
Findou.