Dejetos Humanos: jogue-os para longe!

É uma questão de tecnologia. Resolver os problemas do cotidiano de uma forma inovadora. E para onde quer que se olhe, constata-se que as soluções são antiquadas e dispendiosas.

As grandes cidades são aglomerados que se formaram espontaneamente, uma espécie de habitat secundário dos agrupamentos humanos que se congregam como uma forma de garantia de sobrevivência de indivíduos amedrontados. Espera-se, ali, obter uma vida de cooperação e de solidariedade. Há serviços públicos, abastecimento de águas, esgotos, luz, combustíveis, moradia, transportes, igrejas, hospitais, fóruns, feiras, teatros, escolas, polícia e cemitérios. Tudo para que a vida seja vivida com dignidade pelos cidadãos. Ser humano é ser cidadão, é ter cidadania.

E esse aglomerado engole tudo a sua volta. Vastas quantidades de alimentos e energia são dirigidas a ele, que devolve o seu lixo rico. E seus dejetos. E o que fazemos com os dejetos é, simplesmente, joga-los para longe, para algum lugar onde os olhos não alcancem e os narizes não cheirem. Metano, um dos gases do efeito estufa, é o que será produzido por eles. Tal solução, tecnologicamente, é a mesma que se usava em Roma antiga. Cloacas correndo a céu aberto, em muitos bairros. Sofisticadas estações de tratamento de esgoto, em cidade do mundo desenvolvido. Muita energia é gasta, mas, principalmente, muita água é contaminada por dejetos orgânicos, colibacilos e os mais diversos cistos de verminoses, viroses, zoonoses.

Será que já atingimos a perfeição na solução do manejo de dejetos humanos com essa política de jogar as sujeiras para debaixo do tapete? Ou o tapete já não tem mais condições de absorver todas as porcarias que geramos?

Mas será que haveria outra forma de lidar com os dejetos?

As tradicionais e milenares usinas de biodigestores representam a mais óbvia solução, quanto a dejetos humanos, captando e produzindo o metano que será utilizado como energia. Continua havendo a produção de gases residuais, o dióxido de carbono, em lugar do metano. Mas o balanço é positivo, pois há a geração de energia útil, menos contaminação aleatória de água, o que reduzirá a ocorrência de doenças e um resíduo sólido de adubo orgânico.

Mais além de soluções tradicionais, um esforço de imaginação é capaz de vislumbrar novas tecnologias a partir da constatação de que estamos trabalhando em direção contrária à que a natureza engendrou para lidar com os resíduos alimentares. Se passássemos a continuar o trabalho do intestino grosso, nunca jogaríamos água aos dejetos para manda-los para longe. Com isso estamos contaminando quinze ou vinte litros de água cada vez em que vamos ao banheiro. A solução natural seria retirar a água dos dejetos, transforma-los num resíduo de volume mínimo e seco que caberia num pequeno saco a ser entregue ao lixeiro. Pois o trabalho do intestino grosso é, exatamente, retirar a água do bolo fecal. E nós, os inteligentes, estamos devolvendo a água ao final do processo.

Então, a privada do futuro será um eletrodoméstico, uma espécie de forno do micro-ondas, que acabará de secar as fezes, reduzindo-a a um pó inofensivo. É claro que a urina deverá ter outra destinação. Mas urina é uréia, um bom adubo nitrogenado.

A questão é desenvolver a tecnologia, procurar as soluções do século 21, abandonar os costumes antiquados.Gostaria eu de ter tempo e recursos para fazer o projeto da privada do século.