"Essesamores.com.br"
 
Neste final de semana assisti a um trecho de um filme argentino, o qual já conhecia: “Medianeras”, de Gustavo Taretto. Uma história de amor nos tempos atuais e que fala da geração moderna que evita relacionamentos, presos na internet. Troquei de canal em busca de outro título inédito e me peguei inadvertidamente refletindo sobre uma das vertentes que resultaram da criação das redes sociais, salas de bate papos e outros meios que permitem cada vez mais a “socialização” entre os seres humanos sem que nenhum deles precise levantar de suas cadeiras, a não ser para o “fatídico (ops!)” encontro com a sua alma gêmea perfeita... Imaculada!

Na era dos mais absurdos assassinatos contra nossa gramática (kER TC? / O KE VC TÁ FAZENDO? e algumas outras preciosidades que beiram o inominável) o “tentar conhecer” foi resumido exatamente a uma receita de bolo (que não pode, de maneira alguma, degringolar) ou a uma espécie de “compre pronto e sob medida”, sem a mais remota possibilidade do “produto” ser entregue com defeito, pois o fator TROCA não é admitido, nesse caso, pelo próprio consumidor. Sim. Com o advento internet, o trabalho para se encontrar o príncipe encantado ou a Cinderela+Amélia+mulher qualquer fruta, se resumiu às qualidades, SOMENTE, que uma pessoa está procurando em outra, e no plural, pois os adjetivos exigidos desfilam em uma lista digna de pedidos ao Papai Noel, ou utilizando uma metáfora mais realista, praticamente não se busca mais um (a) possível parceiro (a), mas sim um profissional capacitado para preencher um cargo na diretoria de uma empresa multinacional.

O “tentar conhecer”, que citei no início do parágrafo anterior, vinculado ao olho no olho, no contato ao vivo e a cores, se deliciando na aventura de buscar semelhanças e afinidades em uma pessoa que poderia, sim, se tornar a razão de seu afeto, e que só a convivência REAL traria essa certeza, se perdeu há tempos, dando lugar e se resumindo a dois substantivos considerados imprescindíveis na caça ao tesouro de um relacionamento dentro do nosso século: o imediatismo e a intolerância. Elaborar uma situação, construir expectativas e desejar estar com uma pessoa pelo o que ela realmente é, e não pela referência de suas afirmações e seus depoimentos realizados diante de uma tela de computador, agora, tornou-se um faz-de-conta, uma história que se tornou lenda através dos anos, daquele mesmo tipo de histórias passadas de geração a geração. Claro que esses “caçadores” modernos procuram se distanciar e NEGAR, veementes, os rótulos de FRIOS e INSENSÍVEIS, mas não perdem tempo em buscar o próximo da fila (se a conversa durar 10 minutos já é uma vitória) após culpar o (a) pretendente da vez por não ter conseguido preencher as lacunas de suas carências ou do (a) pobre coitado (a) não ter sido capaz de preencher suas mais supérfluas necessidades, reclamando e se auto proclamando O INCOMPREENDIDO, mas não conseguindo enxergar que o grande culpado é ele mesmo, pois ao jogar e empurrar deliberadamente sobre alguém _ que nem sequer teve a oportunidade de dizer a que veio _ suas frustrações e desejos que beiram a utopia, ele se auto proclama, sim, mas em silêncio, um covarde no mundo dos sentimentos reais.


por F.J. Siqueira

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f j siqueira
Enviado por f j siqueira em 13/05/2014
Reeditado em 06/05/2015
Código do texto: T4804510
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