Por Um Sentido Na Existência II

Por Um Sentido na Existência II

Estive aqui, sentado ao sol, num dia frio de outono, a contemplar a natureza ao meu redor, e indagar sobre o sentido de existir.

Analisei, primeiramente, uma pequena planta, que desconheço o nome e as propriedades, não sei que males e benefícios exatos pode me trazer. Esta planta está ali, existindo. Existe, ouso eu dizer, porque a reconheço como tal, como existência.

Reconheço a planta como existente e, no entanto, posso deduzir que entre a minha existência e a da pequena planta há um abismo de diferenças.

A planta se apresenta como uma existência de possibilidades definidas. Ela cresce, executa suas funções próprias, e morre. Apenas isso. Não vejo eu, por mais que reflita a respeito, uma situação na qual a planta, por si mesma, mude sua existência. Se for possível fazer a fotossíntese, essa o fará, não podendo, a meu ver, optar por parar de realizá-la.

Vejo, portanto, que a planta, apesar de interagir com o ambiente que a cerca, não é capaz de mudá-lo. Talvez por incapacidade “física”, ou talvez pó lhe faltar a “vontade”.

Isso torna a minha existência, em relação à existência da planta, uma existência extremamente diferente, pois sou um ser dotado de vontade, e vontade essa que me leva a mudar e mudar o meio que me cerca a todo instante.

É neste momento, então, que vejo um cachorro a passar pela rua. Começo a refletir sobre a existência do cachorro. Ele também está ali, também é um ser que existe. Como a planta, ele também interage com o meio que o cerca, mas ao contrário desta, ele pode mudá-lo com suas ações. Eis, portanto, um diferencial entre a planta e o cachorro e eu: a capacidade de agir por vontade.

A existência do cachorro, portanto, se sobressai sobre a da planta na capacidade de ação de um sobre o outro. Isto me iguala, de certa forma, ao cachorro.

Mas mesmo assim, ainda sinto uma diferença entre ele e eu. Ambos existimos, interagimos com o meio e o mudamos com nossas ações. Mas neste ponto, morrem as semelhanças, por assim dizer, porque eu, ao contrário do cachorro, posso transformar a natureza em “ferramenta” à minha existência, enquanto o cachorro, fundamentalmente, a muda apenas por instinto.

Talvez, alguns digam, a diferença substancial entre a minha existência enquanto ser humano seja o fato de eu possuir razão. Mas ouso eu pensar um pouco mais além.

Em minha concepção, os animais também são dotados de razão. Mas não uma razão como a minha ou a sua, mas sim uma razão própria à sua condição física e suas possibilidades em relação ao mundo.

Mas agora, portanto, chegamos novamente a um outro problema: o que torna a minha existência diferente dos demais animais? Talvez a resposta se encontre em um filósofo existencialista cristão, chamado Gabriel Marcel.

Segundo Marcel, há dois tipos de ser: o ser-objeto e o ser-existente. O que os difere é uma coisa bem simples: o fato de nós, seres humanos, sermos dotados de uma alma, o que nos torna seres encarnados.

Enquanto tudo no mundo existe como um ser-objeto, sendo apenas seus “corpos”, o homem vai além. O homem é também seu corpo, mas não se reduz a ele, sendo também sua alma, ou melhor, sendo um ser encarnado, um ser-existente.

Mas este pensamento, um pensamento cristão, entra em conflito com o pensamento de Sartre, este um pensamento ateu. Portanto, qual o pensamento correto? Aquele que me apresenta como sendo pura liberdade, sem a existência de um Deus ou outro ser superior, de origem atéia, apontado por Sartre? Ou o pensamento que me apresenta como um ser encarnado, dotado de alma, como uma criação divina, dotado de liberdade pelo Deus-Criador, de origem cristã, apresentado por Marcel?

Ou, talvez ainda, um terceiro pensamento, que ainda haveria eu ou outro filósofo de refletir, que possa unir ou ignorar ambos?

A busca por um sentido na existência continua, visto que ainda há muitas dúvidas acerca do meu Ser.

Eduardo Setzer Henrique
Enviado por Eduardo Setzer Henrique em 11/05/2007
Reeditado em 30/05/2007
Código do texto: T483610