O Todo Poderoso não pode tudo

“... Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.” Mat 19;26

O verso supra proferido por Jesus parece desmentir meu título. Parece; pois, devemos investigar melhor uma afirmação de tal monta.

Defender que “tudo” é uma palavra relativa invés de absoluta parece contrassenso. Afinal, nos reinos medievais onde o soberano concentrava todos os poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário o governo era tido como absolutista. O rei detinha poder absoluto.

Porém, se ousarmos mergulhar um pouco mais fundo veremos, que, “tudo” não é tão “tudoso” assim.

Diz a mitologia grega que Midas tinha poderes tais, que tudo que tocava virava ouro; mas, é mitologia. A Bíblia tem traz seu “Midas” já no primeiro livro. “… tudo o que fazia O Senhor prosperava em sua mão, José achou graça em seus olhos, e servia-o; ele o pôs sobre sua casa; entregou na sua mão tudo o que tinha.” Gên 39;3 e 4 Temos, pois, dois “tudos” a favor de José; ‘tudo o que fazia Deus abençoava; Potifar entregou tudo em suas mãos.

Vendo aquele justo, a mulher de Potifar decidiu que queria ser “abençoada” também com o toque de José. Óbvio que essa postura, caso ele concordasse, não teria aprovação Divina; pois, o “tudo” entregue a ele não incluía a esposa do patrão. Vemos então que, “tudo” pode ser relativo, delimitado.

Alguns deturpam afirmações desse tipo como se Deus se lhes tornasse refém ao tê-las proferido. “determinam” e “ordenam” parvoíces “amparados” por textos como: “Tudo é possível ao que crê; posso todas as coisas Naquele que me fortalece; tudo o que pedirdes ao Pai em Meu Nome Eu vos concederei.” etc.

Não são textos bíblicos? São. Todavia, a mesma Bíblia se encarrega de dissipar a espuma. “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?” Tg 4;3 e 4

Tiago equacionou o pedir mal com amizade do mundo, ou seja: buscar as mesmas coisas que o mundo busca, não segundo a novidade de vida que devemos andar depois de Cristo. Logo, o tudo que nos é proposto delimita-se às coisas prometidas por Deus, debaixo do arbítrio de Sua Soberana Vontade. Tudo o que Ele Aprovaria.

Assim, voltamos ao ponto de partida, a Soberania de Deus. Pode Ele todas as coisas ou não? Sim e não. Como assim?

Pode por não haver restrições externas; outro poder rival ou maior, nada disso. Entretanto, não pode por restrições intrínsecas ao Seu Ser, Santo. Por causa das virtudes que ama, não pode abraçar vícios.

Alguns exemplos: “Se formos infiéis, Ele Permanece fiel; não Pode negar a Si mesmo.” II Tim 2;13 “Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos;” Tt 1;2 “... não Posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene.” Is 1;13 etc. Então, vemos várias coisas que Deus não pode, sem deixar de ser O Todo-Poderoso.

Poder é força sob controle; disciplina aos limites que o próprio poder estabelece. Assim deve funcionar um sistema de governo democrático, por exemplo. Liberdade responsável, nos limites pactuados e convertidos em leis na Constituição.

Esses débeis anarquistas que saem por aí quebrando tudo e se sentindo os mais livres dos homens, detentores do poder são os mais cativos, os mais fracos de todos. Não conseguem sequer, domesticar aos instintos animais quando esses os assediam. “Como a cidade derrubada, sem muro, assim é o homem que não pode conter o seu espírito.” Prov 25; 28

Em suma: Deus pode tudo no prisma do Seu Eterno Poder; porém limita-se a não atuar em conformidade com coisas que detesta, em atenção À Sua Santidade; e desafia-nos a usarmos o poder que nos dá, para também não querermos o que não devemos; “A todos que O receberam Deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus;” Jo 1;12 Somos capacitados, Nele, a rejeitarmos coisas más como Ele Rejeita.

Tudo o que o modo de ser do mundo faz é contrário à Divina vontade; até eventuais coisas boas movidas pelo motivo errado. Assim, além das coisas certas, carecemos aprender as razões certas para fazê-las.

Somos desafiados a divorciar do mundo para casarmos com a Vontade Divina. “... apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável e perfeita Vontade de Deus.” Rom 12;1 e 2

Mesmo que tenhamos feito tudo errado, podemos mudar. “Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram e tudo se fez novo.” II Cor 5;17