O amor no divã

“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5; 8

Uma coisa muito propalada e pouco entendida é o amor. A maioria das pessoas trata como moeda de troca; algo que se dá em face à justa contrapartida. Contudo, no exemplo do Santo, acima, ele deu o primeiro passo por amor, em direção a quem não tinha a mínima condição de retribuir; “sendo nós ainda pecadores”.

Ontem deparei pela enésima vez com a frase que ilustra esse “amor” mercantil que muitos vivem. “Que Deus te dê em dobro tudo o que me desejares.” Noutras palavras: Deseje-me o bem, senão, ai de ti. No fundo desejei que o autor conhecesse melhor ao amor de Deus, não pra receber o dobro, ainda que seria ótimo, mas, para que entendesse mesmo que tardiamente, em quê consiste o vero amor.

Amar aos belos do cinema, às feras dos esportes e da música não é amor; mera idolatria. À medida que o talento desses produz o que gostamos, no fundo, amamos nós mesmos.

O salvador censurou à troca de afetos e desafiou os Seus a algo melhor. “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam; orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” Mat 5; 43 a 48 Infelizmente, muitos “cristãos” saúdam do seu jeito, com seu sotaque eclesiástico, aos irmãos e ignoram aos que não são do rebanho, que vergonha!

Nos rudimentos da Obra de Deus na Terra, quando a manutenção da vida dependia de guerras, odiar aos inimigos era um “doping” necessário, ainda que, deveriam tratar dignamente eventuais presos. Mas, na Plenitude dos tempos, após a vinda de Cristo, tais coisas perderam vigência. A simples menção do novo torna obsoleto, o antigo. “Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar.” Heb 8; 13

A mesma idolatria que cultua aos grandes do mundo se pode expressar em nosso meio, na igreja, quando o ídolo são os dons espirituais, por exemplo. “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. Ainda que tivesse o dom de profecia e conhecesse todos os mistérios, toda a ciência; ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.” I Cor 13; 1 e 2 Paulo minimizou a relevância de dons; de línguas, profecia, fé… tornando-os frágeis se seu motor não for o amor.

Estava havendo disputas na igreja, mau exercício dos dons. Ele deu diretrizes pormenorizadas e sintetizou: Dons são bênçãos; o amor é a excelência. Disse do seu jeito, claro! “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente.” 12. 31 Assim, ele condicionou o uso de todos os dons ao amor.

Após fez uma descrição insuperável do sentimento: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” vs 4 a 7

A Lei da Nova Aliança foi reduzida a dois mandamentos; na verdade, um; amor. Dois alvos distintos. “…Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mat 22; 37, 39 e 40

Claro que essa redução não induz a um simplismo como se bastasse dizer: Eu amo. Precisa ser demonstrado. “Se me amais, guardai os meus mandamentos.” Jo 14; 15 Essa contrapartida, a fidelidade podemos oferecer a Deus. Senão, seguirá nos amando, mas, punirá. Como um cônjuge deixa outro infiel e se divorcia, pois a justiça tem reclames que sufocam o amor.