Os lunáticos

A lua cheia brilhava no céu com toda a sua extensão e beleza, sua luz prateada hipnotizava e fazia sonhar todas as pessoas que olhavam insistentemente para ela. Não era um pedaço de pedra perdido no espaço, como alguns pensavam, pelo contrário, estava viva, pulsava, tinha vontade própria, atraía os desavisado e fazia-os mergulhar em um mundo surreal e brilhante, de onde nunca mais saíam, eram os chamados lunáticos, que haviam trocado a realidade pelo encantamento da lua.

Os lunáticos viviam neste mundo, mas não eram governados por ele. Tinham um mundo próprio, viviam outra realidade, sonhavam outros sonhos. Caminhavam sobre a terra como se caminhassem nas nuvens, mergulhavam tão fundo em suas fantasias que nunca mais de lá retornavam, não havia o que se pudesse fazer por eles.

A sociedade excluía-os de seu convívio, eram incompreendidos. Não percebiam que eram inofensivos e sonhadores, queriam algo diferente da vida, queriam algo mais da realidade, da dura e fria realidade. Quem poderia culpa-los? Na verdade até que seria bom termos o poder de modifica-la a nosso gosto. Às vezes a fantasia é melhor que a realidade.

Ao bem da verdade, não era culpa exclusiva da lua, podia-se culpar também a literatura romântica e a música clássica, que penetrava em seus interiores e fazia-os insatisfeitos com a realidade. Ansiosos por mais romantismo e cavalheirismo, encantamento e poesia. Perseguiam um estilo de vida culto e instigante.

Agora estão praticamente extintos, quase não se vê mais a lua, fizeram dela um astro orbitando no espaço e nada mais. A literatura sobrevive do passado. Nada de novo é aproveitável. E a música, hoje em dia está irreconhecível, te leva aos instintos animais mais baixos e vis.

Os lunáticos, sonhadores, contestadores da realidade se foram, não existem mais, foram todos engolidos pela realidade cada vez mais fria e dura, estéril para a alma e o espírito. Será que ainda é possível recuperá-los? Será que podemos resgatá-los? Trazê-los de volta? Quem sabe a lua ajude.

Priscila Pereira
Enviado por Priscila Pereira em 18/07/2014
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