A função social da escola e o populismo em educação num sistema econômico e social excludente

As escolas hoje vivem uma situação insustentável. A escola é, antes de mais nada, um estabelecimento de ensino e essa perda de identidade, a perda desse objetivo primordial para o cumprimento de funções de assistência social e espaço de lazer é uma distorção grave da função social da escola e da sua importância para a construção do futuro da sociedade. Na escola, deve ter uma boa merenda, mas também devem ser construídos mais restaurantes populares para cumprir a função de garantir alimentação saudável e barata para toda a família trabalhadora, inclusive as crianças. A escola deve ser um espaço de encontro e de prazer, mas prazer não é o mesmo que diversão. A diversão é a forma de prazer alienado e imbecilizado transformado no paradigma de prazer na sociedade contemporânea pela indústria cultural. É possível ter prazer no estudo, na descoberta também e não só no entretenimento e na distração, mas o prazer não precisa ser destituído de esforço, na verdade, essa concepção de prazer passivo ou que não exija muito esforço é absolutamente reacionária. Além disso, embora devam existir quadras de esportes nas escolas (não só para recreação, mas principalmente para o desenvolvimento físico e social, além do desenvolvimento intelectual promovido pela escola) e momentos de lazer na hora do recreio e em quaisquer outros momentos que se julgue apropriado e que não prejudiquem o processo de ensino-aprendizagem que é a atividade fim da escola, no entorno da escola devem existir também praças, ciclovias e parques públicos para que as crianças, adolescentes e jovens possam aproveitar com segurança e junto de suas famílias e amigos da escola e fora dela. A disciplina na escola praticamente não existe, mas essa permissividade nas escolas e no interior das famílias contrasta com a extrema repressão por parte da polícia, que é autorizada pelo Estado e pela sociedade a agredir os jovens, a cometer abuso de autoridade, enquanto na escola qualquer suspensão é interpretada como um impedimento do jovem de estudar (o que é uma falácia, sem falar que estimula um tipo de postura tirânica e individualista, afinal, salvaguardados os direitos individuais fundamentais, os interesses da coletividade se sobrepõem aos interesses individuais e se a maioria de uma turma quer aprender, estudar, e o professor quer exercer sua função de ensinar, aquele que atrapalha esse processo deve ser punido, isso é parte do processo educativo, que tem uma tarefa civilizacional, a tarefa de impedir que as pessoas se tornem o que estão se tornando: sádicas, narcisistas e grosseiras). Enquanto o conhecimento não for valorizado, as faculdades e escolas forem encaradas como fábricas de diplomas e as escolas encaradas ainda como depósitos de crianças e jovens para que seus pais possam cuidar de suas vidas, nos seus aspectos profissional e pessoal, e depósitos de crianças pobres pelos governos, que se limitam a uma visão assistencialista da escola pública, enquanto os filhos desses mesmos governantes estudam nas melhores escolas, bastante exigentes por sinal, não há esperança de futuro. Esse estado de coisas só serve para perpetuar o abismo social entre ricos e pobres, por mais que se amplie o padrão de consumo dos pobres por meio de uma política de crédito (que também gera o seu consequente endividamento). O populismo em educação é a outra face da moeda do fascismo na segurança pública e mais um ingrediente da política elitista que perpetua a desigualdade social e a ignorância da maioria. Elevar o nível cultural da população, formar cidadãos conscientes e trabalhadores qualificados e sujeitos críticos e autônomos devem ser os objetivos de uma educação verdadeiramente libertadora.