Sobre argumentos e pedradas

Somos um povo ignorante, de modo que não sabemos argumentar; assim, a imensa maioria argumenta como se estivesse "tacando pedrada"; explicarei:

A argumentação racional pressupõe um encadeamento lógico do discurso; nela as sentenças se encaixam como peças em um quebra-cabeças, formando um tecido compacto de frases logicamente conectadas umas às outras; estando assim coesas, demover uma das sentenças implicará demover o todo.

As pedradas, ao contrário, são atiradas a esmo, sem coesão.

Os que não sabem argumentar atiram sentenças dispersas como se fossem pedradas, na expectativa de que alguma delas cole. Esses, de fato, não costumam acreditar na lógica da argumentação; creem mais na intensidade com que as palavras são proferidas. Acreditam que as palavras ganhem credibilidade quando pronunciadas aos gritos, assim como as pedradas ganham contundência quando atiradas com mais força.

Para esses, não existe discussão racional; questões verbais não passam de disputas de poder: não existindo a lógica "vencerá" o mais poderoso, o que dispara as pedradas em maior quantidade e intensidade.

Entre os apedrejadores verbais encontram-se os relativistas, detentores de uma curiosa técnica de apedrejamento verbal que consiste em sacar do bolso, sempre que julgam adequado, e apenas nesses momentos, o argumento avassalador e definitivo: tudo é relativo, nenhum argumento é mais forte que outro, todos os pontos de vista são igualmente válidos, nenhum deles se impõe logicamente, não existe uma lógica com a qual se possa medir e avaliar argumentos.

Essa técnica dissimulada de apedrejamento verbal costuma ser usada, por exemplo, pelos fascistas para confundir seus antagonistas. Fingindo argumentar em nome da tolerância, defendem a equivalência de todos os pontos de vista opostos, postulando, sempre que julguem conveniente, e só nesses casos, a equidade de todas as argumentações. Os relativistas costumam sacar esse trunfo, essa carta guardada na manga, quando já esgotaram todos os seus argumentos racionais, restando apenas o desejo egoísta de perseverar na defesa de qualquer ponto insustentável. Não possuindo nenhum argumento, lançam mão do relativismo; fingem tornar-se tolerantes, denunciando a suposta arrogância de seja lá quem tenha ousado cercear seu desejo.

Aliás, fascismo e irracionalidade andam sempre juntos; os fascistas costumam saber que a racionalidade é a única maneira de combater o poder; o uso da força só o faz trocar de mãos, a razão o constrange. A razão expõe o desejo egoísta do fascista, sua vontade de poder. Sabedores desse fato (sentem na carne o cerceamento de suas vontades), confundem os ignorantes invertendo as posições, fingindo-se tolerantes e "denunciando" a intransigência dos argumentos racionais; têm conseguido.

É fato: a razão é intransigente; a lógica é definitiva e inescapável, mas não é maliciosa nem egoísta. A correção na argumentação suscita sempre a mesma conclusão inexorável, independente do desejo do fascista, razão pela qual ele a execra.

Ao fascista convém a ignorância e as pedradas; contra ele, contra o poder, cabe usar a lógica.

Quanto ao relativismo, se defendido honestamente, implica toda e qualquer conclusão, o sim e o não.