Da costela para o mundo

A mulher é um animal provocativo. Antes, fora uma essência provocável: ao sair da costela do homem, fora provocada. E assim posta à prova, dava início à sua missão de provocadora.

Provocativa porque é seu caminho no mundo; provocável porque, na condição de suscetível a uma reação, seria a única possibilidade criativa para a perpetuação da espécie, e provocadora, indubitavelmente, porque visa à manutenção daquilo que provocou.

Ao ser tentada pela serpente a provar do fruto proibido, a mulher obedecia ao mais importante mandamento do projeto divino, cuja recusa àquela tentação estagnaria peremptoriamente o desejo de tornar real e fazer evoluir o sonho de quem a criou.

Tenhamos mentalizado que a serpente, quando unida a sua cabeça ao final de sua cauda, é o símbolo daquilo que não tem começo nem fim, isto é, a eternidade. O desejo dessa perpetuação originou-se ali, ao gosto e na provocação da serpente, na originalidade da sua previsão de sucesso.

Do fruto proibido, deste podemos dizer e isentos de qualquer conotação ou indício de pecado que esta aproximação - a da mulher com o fruto - não fora senão o único recurso cabível na elaboração efetiva do paraíso nesta Terra, ainda que com todas as suas implicações futuras, positivas e negativas.

Depois de milhões de anos após a primeira mordida, a mulher continua provocadora: “provocar”, pelo latim “mandar vir, chamar”, é uma ação inalienável contra todos os modelos de solidão e distanciamento; o mais instigante verbo bitransitivo do vernáculo disponível, e de tal maneira essa incitação é inerente desde o início e compartilhada entre macho e fêmea, sem os quais não haveria espécie, que nos fica fácil compreender a dependência mútua entre fêmea e macho - essa relação de amor eterno -, pois já que é verdade o surgimento de todos os homens deste mundo a partir do ventre da mulher, é também religiosa e historicamente crível o fato de a primeira mulher ter suscitado de um homem.