TROVA. ESBOÇO DE ENSAIO.
O que é TROVA?
Que força tem a TROVA no universo poético?
A TROVA tem fôrma literária rígida?
Um pouquinho sobre a história da TROVA e sobre a UBT.
O que é UBT? Quais seus contactos no Estado da Bahia?
QUER SER TROVADOR E PARTICIPAR DAS ATIVIDADES DA UBT-BAHIA?.
No Brasil, a TROVA é um apreciado, cultivado e cultuado gênero poético, graças ao poder-força que lhe deram os trovadores RODOLFHO COELHO CAVALCANTI, aloagoano-baiano, e LUIZ OTÁVIO, carioca, por serem adoradores, amantes, cultuadores, estimuladores, aperfeiçoadores e divulgadores dos diversos gêneros TROVADORESCOS cultivados no Brasil.
Há mais de cinqüenta anos, talvez em 1955, RODOLFHO COELHO CAVACANTI, alagoano-baiano, fundou, foi o primeiro presidente e consolidou o GRÊMIO BRASILEIRO DE TROVADORES (G.B.T.), em Salvador, Bahia, unindo e estimulado TROVADORES DA QUADRA SETESSILÁBICA (que hoje chamamos simplesmente de TROVA), CODELISTAS, VIOLEIROS, CANTADORES, REPENTISTAS, MARTELISTAS (OU MATELEIROS) E GALOPEIROS.
LUIZ OTÁVIO, depois de ser aclamado vencedor, juntamente com J. G. DE ARAUJO JORGE, num concurso de Trovas promovido pela Casa da Bahia no Rio de Janeiro, e de visitar Salvador, de Salvador partiu com a autorização de RODOLFHO para fundar e assumir a Presidência da Região Sul-Centro-Oeste - uma Seção-filial do GRÊMIO BRASILEIRO DE TROVADORES, com sede no Rio de Janeiro, entre 1958 e 1960.
O GRÊMIO BRASILEIRO DE TROVADORES, presidido por RODOLFHO, continuou agrupando, estimulando e divulgando, além de TROVADORES, OS CODELISTAS, VIOLEIROS, CANTADORES, REPENTISTAS, MARTELISTAS (OU MATELEIROS) E GALOPEIROS.
LUIZ OTÁVIO e seus companheiros trovadores do Sul e do Centro-Oeste tendiam mais para cultuar, aperfeiçoar e divulgar somente a TROVA SETESSILÁBICA.
Essa diferença, e mais outras discordâncias e entraves surgidos entre as atuações e os comandos de RODOLFHO e de LUIZ, em suas abrangências respectivamente, geraram e formataram discórdias e desavenças, que resultaram na separação, em definitivo, deles, com suas presidências regionais, suas atividades, seus objetivos propostos e, respetivamente, por suas confreiras e confrades.
Ainda houve uma tentativa de reconciliação entre eles (e suas facções regionais), concretizada em um encontro entre ambos, no ano de 1975, na Rodoviária de Santos, São Paulo, como registra a Trovadora e Escritora CAROLINA RAMOS, em seu riquíssimo livro A TROVA – RAIZES E FLORESCIMENTO, UBT, 2013.
Mas, em carta dirigida a LUIZ, RODOLFHO PROCLAMA, depois dessa última tentava de reirmanização, concreta, categórica, altivamente, os trovadores RODOLFHO E LUIZ OTÁVIO, e suas atuações, comandos e objetivos, os dois núcleos de trovadores, com seus respectivos GRÊMIOS, em definitivo, não mais se uniram.
O documento-selo desse fato, é uma Carta de RODOLFHO dirigida a LUIZ OTÁVIO, em que também ESSENCIA A TROVA, TRAÇA SUA LINHA-LIMITE e PRECISA, E A DEFINE COM PRECISÃO, o que é a TROVA SETESSILÁBICA :
Eis o texto: “Mataram o G.B.T., o que, de certo ponto, foi ótimo, porque NASCEU a U.B.T., a GENUÍNA ENTIDADE DOS TROVADORES DA TROVA”. CAROLINA RAMOS, IDEM, IDEM.
A TROVA SETISSILÁBICA, que, a princípio, se conformava em ter uma única rima (rima simples), abrilhantou-se, constituindo-se com mais perfeição para estatuir-se e entronar-se no universo poético brasileiro como TROVA, exigiu rima dupla para si.
Hoje, na precisa definição de RODOLFHO, somente é Trovador genuíno e exclusivo, o que trova TROVA.
No magistral Ensaio TROVADORES MEDIEVAIS E O AMOR CORTÊS, publicado no número 551, páginas 4/6, de junho deste 2014, O DOUTOR E POFESSOR JOSÉ D’ASSUNÇÃO BARROS encanta trovadores e amantes da poesia-trova, e eleva a TROVA a um trono poético extraordinário, valorizando suas variantes poéticas mais próximas, tão multiplicadas, aperfeiçoadas e cultuadas no nordeste e no centro-oeste brasileiros.
O G. B. T. fundado por RODOLFHO em Salvador, Bahia, definhou-se e extinguiu-se, após sua morte.
Mas, em 16 de abril de 1969, com a presença de LUIZ OTÁVIO, foi fundada a Seção da UBT Soteropolitana, sob a Presidência do Professor LUIZ ROGÉRIO, que, neste ano de 2014, está a festejar seu 45º anos de vida.
A U.B.T. DE Salvador já publicou mais de uma dezena de livros de Trova, Poesia e Artigos, promove concurso interno de trovas, publica seu Jornalzinho, já no número 236 e realiza reuniões mensais em sua sede provisória, Rua da Graça, nª 338..
Um ligeiro histórico da TROVA:
Por toda a Idade Média galaico-portuguesa o vocábulo “trova” era sinônimo de “cantiga”, designando toda espécie de poema em que se produzia a aliança entre a letra e a música. Somente a partir do século XVI iniciou-se a desvinculação entre a palavra e a pauta musical.
No Brasil, em 1956, quando esse gênero poético começou a atonar entre alguns poetas populares, FRANCISCO FERNANDES registrou este conceito de Trova:
- composição poética ligeira e de caráter popular.
Também, neste mesmo ano, LUIZ OTÁVIO assim conceituou a Trova:
- composição poética de quatro versos de sete sílabas cada um, rimando pelo menos o segundo com o quarto verso e tendo o sentido completo. Era a “Trova Simples”, ou seja, Trova de uma única rima simples
Hoje, para ser considerada, aceita e consagrada como TROVA, ela, por imposição da União Brasileira de Trovadores, exige rima dupla, forma rígida, sentido completo, ritmo, melodia, precisão gramatical, fluência, espontaneidade e musicalidade.
A TROVA é composta por 04 (quatro) versos, cada um contendo 07 (sete) sílabas poéticas e com rimas entre o 1º e o 3º verso e o 2º e o 4º.
Há várias outras definições de TROVA:
- é uma gota completa e perfeita de poesia;
- é uma pérola poética (Carolina Ramos);
- é a arte de acomodar o infinito e completo poético dentro dos limites de um grão de areia (Waldir Neves).
Mas, o Mestríssimo Fernando Pessoa, um dos dois grandes poetas da Língua Portuguesa, assim iluminou e encantou a TROVA:
TROVA é um vaso de flores que o povo põe à janela de sua alma.
E LUIZ OTÁVIO, o Mestre-fonte da TROVA brasileira, registrou:
- Todo bom trovador é um bom poeta, mas, nem todo bom poeta é um bom trovador.
Efetivamente, a TROVA diz tudo de bom poético em poucas palavras.
A TROVA também é muito próxima do EPIGRAMA.
A TROVA é uma poesia pequenil como o são o HAIKAI (Japão), o RUBAI (plural RUBAYAT, velha Pérsia) e a ALDRAVIA, brasileiríssima, nascida há poucos anos no Município de Mariana, em Minas Gerais.
Para que seja considerada uma TROVA perfeita ela precisa ter qualidade e beleza em seu conteúdo, como: envolvente mensagem poética-sentimental e ideias originais de beleza e harmonia internas.
Mais um pouco de História da TROVA no Brasil:
Em Novembro de 1965, o Grêmio Brasileiro de Trovadores, Seção da Guanabara, publicou o primeiro número do seu Jornal TROVAS E TROVADORES, onde estava expresso:
“Após a decadência do Soneto, quando, se encontrando no seu apogeu, já no universo parnasiano, quando encantava e envolvia o mundo poético brasileiro, através dos poetas OLAVO BILAC, RAIMUNDO CORREIA E ALBERTO DE OLIVEIRA, o evento da Semana de Arte Moderna, em 1922, forçou o inicio da decadência do Soneto. Tempos depois, surgiu e fortificou-se o gênero TROVA, erudita e popular. Esse movimento foi liderado por LUIZ OTÁVIO. Era uma época trepidante quando tudo parecia desenrolar-se com rapidez. E isso era favorável à TROVA, um gênero conciso, que parecia corresponder ao espírito moderno daquele momento brasileiro, não propício à concentrações em longos textos. Esses motivos já haviam levado um grupo de idealista a fundar, na cidade de Salvador, o Grêmio Brasileiro de Trovadores. Seu primeiro presidente (e líder criador e implantador) foi o alagoano-baiano RODOLFHO COELHO CAVALCANTE, (merecidamente, pelo seu construtivo trabalho em benefício das TROVA e suas variantes mais próximas, na Bahia e em todo o Nordeste). Essa idéia baiana (e nordestina), depois de concretizada, estimulou o LUIZ OTÁVIO a organizar e fundar uma seção desse Grêmio, na Guanabara”, como aponta o Boletim Nacional da UBT, nº 551, pág.09.
Como registra a MESTRA da TROVA e Escritora CAROLINA RAMOS, em seu Livro já mencionado anteriormente, fls. 35 a 38, em 1958, como vencedores de um Concurso promovido pela Casa da Bahia - LUIZ OTÁVIO E J. G. DE ARAÚJO JORGE - receberam, como prêmio, uma viagem a Salvador, de onde levaram a semente, a bênção e estímulo para fundarem uma filial do G.B.T. E LUIZ OTÁVIO deixou Salvador já nomeado PRESIDENTE DO G.B.T. PARA A REGIÃO SUL – CENTRO-OESTE.
Ao G. B. T. de Salvador, foram integrados e batizados como TROVADORES, não somente os TROVADORES PUROS, também o foram os hoje CORDELISTAS e VIOLEIROS, CANTADORES, REPENTISTAS E AFINS.
No ano de 1958, continua a Mestra CAROLINA RAMOS, “foi consolidada a fundação da SEÇÃO SUL-CENTRO-OESTE do G.B.T, como sede na cidade de Rio de Janeiro, Presidida por LUIZ OTÁVIO. E, no dia 7 de setembro deste mesmo ano, promovido pelo G.B.T. baiano, foi realizado, no Ginásio do Pacaembu, cidade de São Paulo, o II CONGRESSO DE TROVADORES E VIOLEIRO. Nesse evento, em sessão solene, foram aclamados:
- ADELMAR TAVARES, como REI DA TROVA DO BRASIL.
- LILINHA FERNANDES, como RAINHA DA TROVA DO BRASIL.
- LUIZ OTÁVIO, como PRÍNCIPE DA TROVA NO BRASIL.”
Talvez, reitera-se, pela insistência de RODOLFHO COELHO CAVALCANT Iem continuar agregando ao G.B.T. tanto PUROS TROVADORES, como CORDELISTAS, VIOLEIROS E REPENTISTAS, buscando valorizar e dinamizar estas consagradas variantes da TROVA, cultuadas e quase veneradas em todo nordeste brasileiro, e, talvez, também, pela filial presidida por LUIZ OTÁVIO ter tido a sorte de a feito crescer mais em número de membros integrantes e em dinamização mais robusta e criativamente positiva, tenham surgido as fatais discordâncias, desentendimentos e desavenças entre os Presidentes e Trovadores, Senhores RODOLFHO e LUIZ OTÁVIO, e seus respectivos apoiadores e seguidores.
Algumas Trovas:
FERNANDO PESSOA:
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor,
a dor que deveras sente.”
ADELMAR TAVARES:
"Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer!
Tão fácil depois de feita!
Tão difícil de fazer!"
LUIZ OTÁVIO:
“Prossegue a cantar... Insiste,
mesmo a sofrer e a chorar,
que, pior que um canto triste,
é uma vida sem cantar.”
JOÃO BOSCO SOARES DOS SANTOS:
“O passado que é passado
não é só tempo que passou.
O passado que é passado
é tudo que ele levou.”
SAMUEL NOGUEIRA:
“Amor de mãe não tem fim
nem na dor nem na alegria.
Se todo amor fosse assim,
o mundo melhor seria.”
JOSÉ SIQUARA DA ROCHA.
“Você foi aquela estrela
que surgiu e que brilhou.
Mas depois, só pude vê-la
na saudade que ficou.”
DOROTY MIRANDA:
“A poesia me fascina,
envolve todo o meu ser,
minha estrada, ilumina,
faz melhor o meu viver.”
ANIS MURAD:
“Maria, só por maldade,
Deixou-me a casa vazia:
dentro da casa, a Saudade
e na Saudade, Maria!”