Como acabamos por propor assertivas no mínimo incompletas

Como acabamos por propor assertivas no mínimo incompletas, como verdadeiras, apenas porque justificam nossas crenças e nosso interesse

Como podemos utilizar argumentos aparentemente verdadeiros e fieis para fazer provas mentirosas (com erro é claro). Canso de ler assertivas falaciosas, postadas por pessoas sérias, sem interesse em mentir, apenas com preguiça de pensar, e de se certificar quanto a lógica, a completude ou a veracidade da afirmação. Muitas vezes, apenas por extrair do contexto uma assertiva que é verdadeira, mas que incompleta.

Eu costumo brincar, por mera provocação, que uma assertiva verdadeira como “ficou comprovado estatisticamente que na maioria absoluta das cidades que possuem maior número de igrejas (mesmo de várias religiões), é maior também o número de crimes e de assassinatos”. A assertiva pura, é verdadeira, e pode induzir, erradamente, que maior número de igrejas implica em maior número de crimes, simplesmente pela falácia de se crer erradamente, e sem lógica alguma, que se “a” implica “b”, e por alguma razão “b” implica em “c”, tendemos a imediatamente, e erradamente, supor que “a” implica “c”, o que é mera indução e não uma dedução. Mesmo sendo ateu, seria um despautério de minha parte supor que maior número de igrejas implica diretamente em maior número de crimes, isto não faz sentido, até mesmo para quem como eu não vê nada de especial nas igrejas. Onde está o erro então? Simples, “a” não implica diretamente em “c”, estatisticamente cidades que possuem maior número de igrejas, e de várias religiões, tendem a possuir maior número absoluto de pessoas (maior população fixa e em trânsito), e este maior número de pessoas juntas é que leva ao maior número de crimes, e não o maior número de igrejas.

É chato, ver pessoas inteligentes, mas que na ânsia de defender uma teoria qualquer, de defender uma posição, pegarem assertivas que podem ser verdadeiras em si, mas que não implicam diretamente em comprovação, pois que no mínimo são incompletas, e algumas vezes chegam mesmo a meras induções injustas ou mentirosas.

Nesta mesma linha, gosto de outros dois “paradoxos”, que não são paradoxos em verdade, pois que são mentirosos, mas que induzem a serem verdadeiros.
O primeiro é uma prova matemática de que 1 seja igual a 2. Por ser simples, envolvendo apenas matemática básica, acaba parecendo verdadeira, mas comete-se um erro crasso na prova, que a torna inválida, vamos a ela por curiosidade:
A = B ==> A.A = A.B
Então: A2 (A ao quadrado) = A.B
Se subtrair dos dois lados o mesmo valor, a igualdade não se altera
A2 (A ao quadrado) – B2 (B ao quadrado) = AB – B2 (B ao quadrado)
Podemos “decompor”
(A + B) (A-B) = B (A-B)
Simplificando (dividindo ambos os lados pelo mesmo valor não se altera a igualdade) dividiremos então por “A – B”, e teremos
A+B = B
Como A = B (pressuposição inicial) posso substituir A por B
B + B = B
2B = B
Posso de novo dividir ambos os lados pelo mesmo valor, neste caso B
2 = 1

Prova errada. Todos sabemos que 2 não pode ser igual a 1, mas que para leigos ou distraídos pode parecer uma prova verdadeira, e colocará em dúvida, para alguns, até mesmo a verdade da matemática. Mas como disse, é uma prova falha, pois que ferimos brutalmente a matemática, apesar de parecer que tudo o que foi feito é pura matemática, neste caso o erro foi dividir por (A-B), que implica, por ser A=B, em uma divisão por ZERO, o que é impossível, levando esta prova de aparentemente verdadeira e uma falácia matemática. Mas muitos cometemos no dia a dia erro semelhante a não aprofundarmos nossa análise em assertivas e “provas” apresentadas.

Outra que adoro, que no início, apesar de claramente ferir a realidade, me parecia realmente um paradoxo, até perceber algo sutil mas de vital impacto na teorização, era uma situação levantada ainda na Grécia antiga:
Uma lebre, se largar atrás de uma tartaruga, nunca conseguirá passar à sua frente. Estranho? Vamos a descrição.
Uma lebre por mais rápida que seja, se largar junto com uma tartaruga (junto no tempo), mas digamos 10 metros atrás da tartaruga, e se supormos que a tartaruga, por mais lenta que seja, esteja sempre a “correr” (nunca parada) sempre se manterá a frente da lebre. A “lógica” incompleta é a seguinte. Sempre que a lebre chegar ao local que a tartaruga estava, a tartaruga já estará um pouco mais a frente, pois que ela nunca estará parada, e de novo quando a lebre chegar agora ao novo local da tartaruga, esta estará de novo um pouco mais a frente, e assim sucessivamente, sempre que a lebre, a qualquer tempo, chegar ao local em que a tartaruga estava, esta já terá andado um pouco mais. Desta forma a lebre nunca deveria passar a tartaruga. É claro que fere abertamente a realidade, mas parece “logicamente e filosoficamente “ correto a sequência de pensamento. Onde está então o erro, ou a incompletude da argumentação, é simples depois que se entende a maquinação desta prova, percebe-se estamos fazendo juntamente com a experiência, sem falarmos nada a respeito, fazendo o tempo entre cada ciclo de passagem tender a zero, cada vez mais a lebre estará mais próxima da tartaruga, e assim de forma acelerada fazemos o tempo a cada ciclo tender a zero, o que na prática não acontece, pois que o tempo mensurado se manterá em unidades temporais ocorrendo na mesmo “velocidade”, e de novo, como esta indução, que nos leva a deixar de fora uma variável vital para o experimento, nós acabamos no dia a dia a deixar de fora muitas variáveis que inviabilizam nossas provas, e acabamos postando assertivas que me chocam o pensamento, pela maldade não intencional muitas vezes, pela incompletude do escopo apresentado como prova da assertiva, ou como ignorância mesmo.
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 23/11/2014
Reeditado em 23/11/2014
Código do texto: T5045739
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