A Bíblia sabia da redondeza da Terra, antes mesmo da ciência -  a pá de cal sobre o argumento
(Por Ivo S. G. Reis)

Salve São Google! Salve a internet, os livros, as bibliotecas físicas ou virtuais de todo o mundo, as técnicas de pesquisa bibliográfica, a tecnologia, os modernos métodos de investigação científica, as modernas técnicas de pesquisa histórica, a crítica textual, a filologia, os dicionários impressos e os virtuais dinâmicos, a análise documental, a pesquisa historiográfica, a arqueologia, a cosmologia, a fotografia, os vídeos, as revistas e jornais, a TV, a comunicação por satélites e em tempo real, o jornalismo investigativo e histórico, as ciências e suas experiências, leis, teses e teorias.

Salve a liberdade de expressão e a divulgação do conhecimento! Salve, enfim, o pesquisador autodidata, que se beneficia de tudo isso e pode romper o véu da ignorância, não mais limitado, sequer, pelas barreiras linguísticas. Esse pesquisador independente, hoje, pode chegar onde antes jamais supunha chegar. Pode, inclusive, dependendo da qualidade e acerto das suas pesquisas, oferecer novas informações e/ou debater com os especialistas das mais diversas áreas do conhecimento humano.
 
A era pré-internética

Lembro-me do tempo em que não havia internet, quando desejoso de pesquisar sobre religião, matemática, filosofia e outros assuntos do meu interesse, fui levado a transformar-me em “rato de sebos e bibliotecas”. Nos sebos, ainda rapazote, gastava quase todo o meu minguado salário e conhecia os principais da cidade. Nas bibliotecas, passava dias inteiros (quando podia) ou das 18:00 às 22 horas, consultando e copiando textos de dezenas de livros, até ficar com calos e bolhas nos dedos. Na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, tive de fazer cadastro, preencher formulários e fazer entrevista, tudo para obter permissão da Direção para consultar a Seção de Obras Raras, que era - e acho que ainda é – onde ficavam, além das chamadas “obras raras”, os livros controversos e mais polêmicos sobre religião, justamente os menos acessíveis e os que mais queria ler.

A explicação que me deram era que esses livros tinham de ficar protegidos, fora do alcance do leitor comum, porque cristãos fanáticos rasgavam suas páginas, rabiscavam e escreviam impropérios nos trechos dos quais discordavam. Organizei uma lista de 165 livros, de onde fazia, à mão, clipagens de textos, referências, citações, sinopses e resumos, cuidadosamente anotados em três grossos cadernos de duzentas páginas. Mas uma coisa as cópias anotadas não resolviam: as imagens e ilustrações. Essas ficavam mesmo de fora. Trabalhos de faculdade? Só mesmo enfiando a cara nos livros impressos. Ilustrações? Desenhos toscos, à mão livre.

Trabalhar de dia e cursar faculdade à noite, com essas dificuldades, era um ato heroico. Só podia ser levado a cabo com muita dedicação, determinação e sacrifício. Pesquisas particulares e o exercício do autodidatismo incorriam nas mesmas dificuldades. Trabalhos e defesas de tese tinham de ser criativos e originais, datilografados. Um erro num trabalho de três vias, representava três apagamentos, com cuidado para não furar o papel. Era ou isso ou usar tinta corretiva branca e escrever por cima. Ah, como eu sofria, um verdadeiro sacrifício! Muitos dos que estão lendo este ensaio ainda devem se lembrar disso. Na era pré-internética não existia informação virtual, não existiam editores de imagens, não existia o usadíssimo “control C mais control V”. Se alguém quisesse saber mais, tinha de ir aos livros, à mídia impressa ou aos museus e bibliotecas. Abster-se de pesquisas trabalhosas e profundas, naqueles tempos, era compreensível e justificável.
 
A informação impressa, digital e virtual nos dias atuais

No passado, depois de 1930 e até o final da década de 1980, o telégrafo, o telefone, o rádio e a TV representaram um grande avanço nas comunicações. Mas ainda não resolviam o problema dos pesquisadores independentes, porque o acesso à informação digital e virtual ainda não estava amplamente disponível. No final de 1995, com a internet já consolidada, surgem os primeiros mecanismos de pesquisa, com a empresa Alta Vista. Em 2.0000 o Google, recém-lançado, torna-se popular. Pronto! A partir do início deste século, acaba-se a era pré-internética e os polímatas, autodidatas e pesquisadores independentes ampliam suas possibilidades e o seu campo de atuação. Informações sigilosamente guardadas agora se tornam públicas e os processos de publicação e consulta a livros agilizam-se e ficam facilitados
.
Os reflexos da internet no acervo das informações religiosas

As religiões e mormente as cristãs, sabemos, sempre mantiveram a sua expansão e domínio (dentre outras causas) autointulando-se guardiãs e intérpretes das verdades reveladas por seus supostos deuses. As chamadas “religiões do livro” reservavam a interpretação dos seus “livros sagrados” aos seus sacerdotes, tendo a ICAR chegado ao cúmulo de afirmar em 2009, com Bento XVI, que “ apenas a Igreja Católica pode interpretar ‘autênticamente’ a Bíblia”. Essa declaração foi dada num encontro com cerca de 400 estudantes, professores e funcionários no Pontifício Instituto Bíblico. Segundo o papa, é da igreja, nos seus organismos institucionais, a palavra decisiva na interpretação da Escritura. Esse entendimento vem desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), que estabeleceu que tudo o que se refere à interpretação das Escrituras está, em última análise, sujeito ao julgamento da Igreja, que realiza o seu “mandato divino” e o ministério de “interpretar a palavra de Deus” (???). Até o século XX, quando a ICAR “sentava em cima das informações”, isso talvez fosse válido, mas hoje?!

Recentemente, em 2013, o Papa Francisco, em seu primeiro discurso no Comitê da Bíblia do Vaticano, também ratificou essa diretriz, declarando que “a Igreja Católica é a única entidade habilitada a interpretar corretamente as Escrituras Sagradas”. Os protestantes, obviamente, repudiaram tais declarações, porque já no século XVI a reforma protestante, inciada por Martinho Lutero, preconizava o rompimento com a Igreja Católica e o direito de qualquer um interpretar as Escrituras. Disso Lutero depois se arrependeu porque deu margem ao surgimento das denominaçoes evangélicas e seus pastores leigos; mas já era tarde. Os malefícios vêm de lá até os nossos dias, com igrejas evangélicas surgindo a cada esquina de bairro. Portanto, os sacerdotes evangélicos também têm a sua parcela de culpa, porque interpretam a Bíblia ao seu bel-prazer, passando para os fiéis conceitos equivocados ou intencionalmente deturpados, para mantê-los cativos às mentiras bíblicas.

O lado bom é que não foram só os protestantes que repudiaram o entendimento da ICAR. Pesquisadores e historiadores, agora com muito mais razão, não concordam com essa visão e provavelmente a Igreja vai ter de ceder, como já mostra sinais de que o fará, eis que o seu acervo de informações, que tanto poder lhe garantira, está deixando de ser uma caixa preta ou, para falar em linguagem mitológica, uma “Caixa de Pandora” (não confundir com “Operação Caixa de Pandora”, da Polícia Federal, em 2009, para investigar políticos corruptos). Agora, a Bíblia começa, enfim, a ser desnudada e desmistificada, estando o conhecimento de tudo que a envolveu e envolve, ao alcance de qualquer um.
 
Como usar a informação e as novas técnicas investigativas para desmistificar e desmitificar a Bíblia?

Este é o ponto onde este ensaio queria chegar. Toda a divagação anterior foi para justificar que todos que saibam ler e escrever e tenham uma cultura pelo menos mediana, podem, usando as ferramentas que o mundo moderno coloca à nossa disposição, não só “interpretar”, mas também confirmar ou contestar a Bíblia. Antes deste século isso era muito dificultoso, mas não hoje. Hoje é possível ler e comparar a Bíblia em suas diversas versões e traduções entre línguas diversas, online, inclusive em hebraico, grego e até... esperanto. Não, não se pode mais enganar ninguém, a não ser que queiramos ou nos deixemos ser enganados, por preguiça, comodismo ou qualquer outro motivo.

Tive de fazer toda esta divagação preliminar porque vou contestar conceitos bíblicos, apesar de não ser teólogo, nem biblista, nem historiador, nem sacerdote. Aliás, isto nem seria necessário porque o meu texto é um ensaio e, como tal, dispensa formalidades e até mesmo citação de fontes e bibliografia, já que se trata de um “artigo opinativo”. Contudo, como cristãos são geralmente “sensíveis” e fundamentalistas, é certo que irão tentar desqualificar este trabalho, alegando que estou dando a ele um cunho ateista e que eu não possuo qualificação teológica para escrevê-lo (talvez, se eu fosse ao menos um“pastor”…).

Aqui, o que vou fazer é contestar apenas um conceito geral cristão (a inerrância da Bíblia e que ela é a palavra inspirada de Deus), demonstrando isto colocando sob análise apenas um versículo (Isaías 40:22), que os cristãos usam como exemplo para declarar que a Bíblia não contraria a ciência e que sabia, muito antes desta, que a Terra era redonda (???).
 
Este ensaio pretende demonstrar:
- Que a Bíblia não é confiável, é anticientífica, eivada de erros, absurdidades e contradições, além de ser um livro impossível de seguir, especialmente com relação ao AT (não se falará aqui dos seus conceitos morais condenáveis, assassinatos e crueldades);
- que a visão dos antigos sobre a Terra era geocêntrica e que ela era plana, irregular e com cantos e abismos ou plana e circular, como um disco, também com abismos (águas profundas);
- que as muitas traduções em língua portuguesa (vinte e duas, sem contar versões e reimpressões) não são concordantes entre si e também não guardam correspondências com versões estrangeiras;
- que o versículo Is. 40:22 possui inúmeras traduções e que os cristãos só usam uma delas, a menos comum, para justificar a falácia do seu argumento (“a Bíblia sabia, antes da ciência que a Terra era redonda”), um verdadeiro absurdo e uma agressão à inteligência de qualquer ser humano normal. A bem da verdade, há que se dizer que nem todos os cristãos acreditam nesse absurdo, só defendido pelos fanáticos fundamentalistas que, infelizmente, são a maioria.
Para escrever este ensaio, levei exatos 45 minutos, mas para selecionar o material investigativo de apoio que já possuía, revisar, acrescentar novos, cotejar com as bíblias impressas, pesquisar dicionários hebraicos, montar uma tabela Excel, produzir e selecionar imagens ilustrativas, gastei 5 dias. Por quê, se eu poderia ter escrito um artigo curto, sem ilustrações, em menos de quarenta minutos? Porque cristãos não se convencem facilmente e sempre arrumam desculpas para justificar suas crendices e infirmar o trabalho dos opositores. Seu lema é “o cristão tem sempre razão e quem fala contra a Bíblia é porque distorce o seu sentido, não a compreende e não sabe o que diz”.
 
O versículo em Isaías 40.22 afirma mesmo que a Terra tem a forma de um globo?

Argumentos cristãos para tentar defender a Bíblia e provar a sua suposta inerrância e até (pasmem!) a sua cientificidade são todos conhecidos e sempre os mesmos. A coleção não muda; não muda porque não pode ser atualizada. Nenhum deles passa no crivo da lógica, do bom-senso, da racionalidade e da comprovação científica ou histórica. Neste ensaio, vamos desprezar os demais e nos ater apenas a este (um dos utilizados com bastante frequência): “A Bíblia conhecia e citava a esfericidade da Terra muito antes de a ciência tê-la comprovado” (???)

A base desse falacioso argumento, usado tanto por católicos como protestantes, reside numa das traduções modernas de Isaias 40.22, versículo este que teria sido escrito por volta do ano 700 aC, antes de o filósofo Pitágoras, em VI aC, 200 anos depois de Isaías, ter intuído pela primeira vez que a Terra era redonda. Antes dele, o conceito comum entre os antigos era o da Terra plana e circular (o mesmo que Isaías conhecia). Eis o versículo invocado pelos cristãos:

40.22 “Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar;” (ARC)
 
É evidente que a tradução acima não é a correta porque, como se irá demonstrar, a tradução “globo da terra” é impossível, tendo sido forçada. A tradução correta do versículo, como consta da grande maioria das bíblias é:
 
     40.22 Ele é o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; é ele o que estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda, para neles habitar;
 
Como se vê, há uma grande diferença entre as palavras “globo” e “círculo”. Globo é uma figura esférica, tridimensional; “círculo” (região do plano limitada por uma curva chamada “circunferência”) é uma figura plana, bidimensional. Além do fato de a palavra hebraica não suportar a ideia de “globo”, como querem os cristãos, a maioria dos exegetas do Antigo Testamento concordam que esse termo, em Isaías 40.22, se refere ao horizonte acima da terra e não ao formato planetário. Querer dizer que círculo e globo podem ser traduções equivalentes, só sendo mesmo coisa de cristão fanático.
 
Por que a tradução “globo da Terra”, em Isaías 40.22, não pode ser considerada correta?
 
Como se sabe, ao tempo de Isaías (700 aC), a visão que os antigos, inclusive os mais cultos, tinham sobre a forma da Terra era a da “Terra plana”. A primeira referência conhecida feita à esfericidade da Terra foi do filósofo e matemático grego Pitágoras (570?-500? AEC), mais de dois séculos depois de Isaías. Não poderia o profeta ter outra visão, senão a da “Terra plana”. Mas os cristãos, é claro, vão dizer que “Deus podia”. Tudo bem, em havendo um Deus, bem que podia, mas por que, então, não corrigiu seu pupilo? Se um professor passa um ditado para um aluno, dita bola e o aluno escreve círculo, é obrigação do professor corrigir o aluno. Um profeta que não sabe escrever não pode ser porta-voz da “palavra de Deus”. O mais provável é que não houvesse nenhum deus dizendo alguma coisa e que as palavras saíram da cabeça do profeta.

As primeiras traduções do versículo Is 40.22 usavam a expressão “círculo da Terra”, preservadas até hoje na maioria das versões bíblicas. As traduções se referem ao texto em hebraico abaixo (observar a palavra חוג , em destaque):
הישׁב על־חוג הארץ וישׁביה כחגבים הנוטה כדק שׁמים וימתחם כאהל לשׁבת׃
 
Não obstante, é fato também que algumas traduções de Is 40.22 usam a expressão “globo da Terra” para traduzir o mesmo versículo. Ora, a palavra חוג (chuwg), segundo os dicionários léxicos de hebraico informam (não os religiosos), só admite três traduções: círculo, circuito e compasso. Como no hebraico antigo não existia a palavra “globo” (todo o vocabulário não passava de 8.000 verbetes), se Isaías quisesse mesmo se referir a globo, deveria ter usado a palavra equivalente mais próxima, ou seja, “esfera” (ou bola), que se grafa דור (duwr). Por que não usou? E que não se alegue que Isaías desconhecia essa palavra, uma vez que ele mesmo a referencia em 22:18 (“Certamente com violência te fará rolar, como se faz rolar uma bola num país espaçoso, ali morrerás, e ali acabarão os carros da tua glória, ó opróbrio da casa do teu Senhor “),  

Portanto, se em Is 40.22 a intenção do profeta fosse mesmo dizer que a Terra se assemelhava a uma bola ou globo ou era redonda, teria usado a palavra דור (duwr) e nenhuma polêmica existiria sobre a tradução do versículo, originada por esses conceitos:
 
·         Círculo é uma figura plana bidimensional, um polígono de infinitos vértices e infinitos lados, como um disco.
·         Esfera é uma figura tridimensional, um poliedro de infinitos vértices e infinitas faces, como uma bola.

Há que se considerar também que quando os primeiros tradutores judeus da Bíblia (certamente melhores conhecedores do hebraico bíblico do que qualquer especialista de hoje),  traduziram o termo חוּג, em nenhuma de suas traduções aparecia o conceito de globo ou terra esférica. Ao contrário, referiam-se ao arco do horizonte ou à curvatura dos céus, acima do qual Deus habitava em seu trono.

No que concerne ao significado, a palavra חוג (chuwg), por sinonímia e tendo por base a ideia da Terra plana, só poderia ter as seguintes traduções, por aproximação (além das outras duas menos usuais, “circuito” e “compasso”, a última dessas, não se encaixando ao texto ou ao conceito):
 
חוג (chuwg): círculo, arco, cúpula, abóbada, disco

Para quem desejar conferir, eis a tradução hebraica do termo, conforme o site King James Bible – Strong’s Hebrew Dictionary (http://htmlbible.com/sacrednamebiblecom/kjvstrongs/STRHEB23.htm#S2329 ):
chuwg khoogde 'chuwg' ( 2328 ); um círculo: - círculo, circuito, bússola.
2329chuwg khoogfrom 'chuwg' (2328); a circle:-- circle, circuit, compass.
 
Com efeito, as traduções  “círculo, arco, cúpula, abóbada, disco” também aparecem em algumas versões da Bíblia e não invalidam a ideia da Terra plana, podendo ser aceitas. 

Assim, o versículo Is 40.22, admitiria tão somente as seguintes traduções:
 
40.22 Ele é o que está assentado sobre (o círculo, o arco, a cúpula, a abóbada, o disco) da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; é ele o que estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda, para neles habitar;

Como se vê, ainda que por aproximação, todas as palavras grifadas são mais ou menos compatíveis com o termo original hebraico e o sentido do versículo. Mas “globo” ou “redondeza”, não há como se encaixarem. Essas traduções foram forçadas, intencionalmente distorcidas para tentar emprestar credibilidade à Bíblia e só aparecem em pouquíssimas versões, dentre as muitas existentes. Em seu socorro, os cristãos alegam que algumas versões bíblicas, tais como a Versão do Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, e a Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida traduzem “chuwg” como “globo” nessa passagem. Mas apesar das traduções erradas, são exatamente essas as que os cristãos citam, como sempre fazem em relação a outras passagens.
 
No firme propósito de tentar vender a imagem de que a Bíblia é também científica, cristãos destacam também alguns versículos que, distorcidos, mal-traduzidos e/ou interpretados, podem iludir e transmitir essa falsa visão, mas curiosamente esquecem-se de dezenas de passagens que demonstram claramente o anticientificismo da Bíblia e que ela considera (digo considera porque os conceitos não foram revistos):
 
- Que a Terra é plana e circular, como um disco;
- que possui cantos e abismos e que é sustentada por colunas;
- que é coberta por um círculo, abóbada ou cúpula;
- que é rodeada por oceanos, chamados de “abismos das águas profundas”;
- que é o Sol que se move ao redor da Terra e não o contrário (geocentrismo)
- que o Sol pode parar no céu por um dia, se Deus assim ordenar, como de fato ordenou e aconteceu;
- que Deus está sentado sobre um trono na abóbada da Terra;
- que o firmamento é sólido como um espelho fundido
- que não é a lei da gravidade que sustenta a Terra no espaço e sim Deus que a mantém suspensa
- que insetos possuem 4 patas;
- que o ouro enferruja;
- que o grão de trigo precisa morrer para germinar
- que o sangue do sacrifício de animais esteriliza doenças
- que ao som de 7 trombetas ( 7 sacerdotes, com 7 trombetas, no 7º dia) e o grito do povo de Josué as muralhas de Jericó foram derrubadas
- que, conforme o Gênesis 7:19-20, houve uma inundação universal que cobriu toda a Terra, inclusive os montes e as montanhas mais altas (???)
- que a Terra tem aproximadamente apenas 6.000 anos de existência
...
Paro por aqui e deixo de citar os respectivos capítulos e versículos para não tornar a leitura cansativa e não estender demais a lista. Quem desejar, basta procurar, por assuntos, em Gênesis, Provérbios, Salmos, (este é o campeão), Isaías, Daniel, Josué, Levíticos, Eclesiastes, Deuterônimos e outros, inclusive no NT, que ainda tem a visão da Terra plana, conforme se vê em Mt 4.8 e Lc 4.5.

Como as diversas versões bíblicas se diferenciam e interpretam Isaías 40.22?

Há que se falar, antes de adentrar nesse argumento, que o Brasil é reconhecido como o maior produtor de bíblias do mundo e que conforme declarado pela Sociedade Bíblica (http://www.sociedade-biblica.pt/canais_pagina.php?id_canais_new=3&id_canais_menu_new=9&id_canais_menu_sub_new=41&id_canais_menu_sub2_new=26  ) “Existem hoje em dia 22 traduções da Bíblia em língua portuguesa, sem contar com mais de uma dezena de versões e revisões que por vezes se publicam em simultâneo com o texto original. Das 22 traduções, 7 têm origem em Portugal e 15 no Brasil; 12 são traduções feitas a partir das línguas originais e 10 traduções a partir de línguas clássicas ou modernas; 15 foram preparadas por biblistas ou tradutores católicos, 6 por protestantes e apenas 1 por uma equipa interconfessional”. Esse número já foi aumentado para 24, após a citação retromencionada, e é certo que continuará subindo.

Ora, com tantas versões disponíveis (existem bíblias em 2,8 mil idiomas), grande parte delas discordantes entre si, o leitor ou consulente bíblico fica meio perdido, sem saber em qual versão confiar, e acaba aceitando a que é indicada pela denominação religiosa à qual se vincula. Mas e se a indicação for tendenciosa, como é o caso das bíblias das Testemunhas de Jeová e outras? Aí o leitor ou se rende a ela, por preguiça ou comodismo, ou vai ele mesmo pesquisar e informar-se sobre qual a versão mais confiável. O problema é que não existe Bíblia 100% correta, pois todas têm um senão. Deve-se procurar, então, a que tem menos erros ou a que está mais próxima da primeira tradução.

O que se pode afirmar é que, para efeito de estudo, as versões bíblicas em português foram divididas em 7 grandes grandes categorias, assim classificadas, da melhor para a pior, conforme o excelente trabalho do site Sola Scriptura: ( http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-Traducoes/7CategoriasBibliasPortugues-Helio.htm ):
 
- 1. FONTE PURA, TRADUÇÃO FIEL:
ACF - Almeida Corrigida FIEL, da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil: 100% baseada no Texto Recebido (*). 100% fiel à tradução original de Almeida 1681/1753 (**). Método de tradução fiel (Equivalência-Formal). Tradutor crente, competente e fiel. Atualizadores crentes, competentes e fieis. Estilo digno, majestoso. Vocabulário atual, sem arcaísmo. Aconselho fortemente que se use somente ela. [...] ao analisarmos centenas de versos onde as modernas Bíblias alexandrinas seguiram o TC, observamos que a ACF não o segue em nenhum desses locais, por isso podemos afirmar, com altíssima plausibilidade, que a ACF é 100% TR.). [...] Mas, ao analisarmos centenas de versos onde as falsas "Almeidas" alexandrinas, modernas desviaram-se da Almeida 1681/1753, observamos que a ACF jamais deixou de ser fiel, por isso podemos afirmar, com altíssima plausibilidade, que a ACF é 100% fiel ao que saiu das mãos de João Ferreira de Almeida, portanto é a sua legítima herdeira, é a única tradução que pode honestamente usar o nome Almeida) (grifos meus)
- 2. FONTE QUASE PURA, TRADUÇÃO ACEITÁVEL:
ARC - Almeida Revista e Corrigida:
Método de tradução fiel (Equivalência-Formal), estilo digno, majestoso, mas vocabulário nem sempre atual, tem alguns arcaísmos: Era 100% TT até a edição 1894 (para Portugal). A edição 1898 (para o Brasil) talvez já introduziu 0,1% das contaminações do TC. Em 1948 foi revisada pela Sociedade Bíblica do Brasil, recém fundada, talvez já introduzindo 1,5% do TC, o que já é grave, mesmo que ainda longe das Bíblias 7% TC. Em 1956, 1968 e 1995 foi revisada pela Sociedade Bíblica do Brasil, talvez já introduzindo 1,8%, 1,9% e 2% do TC, respectivamente, o que já é muito grave, mesmo que ainda longe das Bíblias 7% TC. 
A ARC publicada pela Imprensa Bíblica Brasileira sempre se manteve menos corrompida que a da SBB. Mas, com as dificuldades financeiras da IBB e da Juerp, passou muitos anos sendo muito difícil de ser encontrada. (grifos meus)
- 3. FONTE CONTAMINADA, TRADUÇÃO MESTIÇA:
AEC - Almeida Edição Contemporânea, 96% baseado no TR, 4% no TC. Método de tradução fiel (Equivalência-Formal). Estilo digno, majestoso, vocabulário atual, sem arcaísmo.
- 4. FONTE ENVENENADA, TRADUÇÃO FROUXA:
ARA - Almeida Revista e Atualizada; e ARM - Almeida Revisada de acordo com os Melhores Textos (que título traiçoeiramente enganoso!): ambas são 100% baseadas no TC, que suprime 6000, adiciona 2000, muda 2000 das 140.000 palavras do NT!!! Muitas destas 10.000 corrupções têm terríveis implicações doutrinárias!!!. Método de tradução quase totalmente fiel (Equivalência-Formal). Estilo digno, majestoso, vocabulário atual, sem arcaísmo. Colchetes [ ] destroem a fé nos versos.
- 5. FONTE ENVENENADA, TRADUÇÃO INFIEL:
NVI - Nova Versão Internacional: 100% baseadas no TC, que suprime 6000, adiciona 2000, muda 2000 das 140.000 palavras do NT!!! Muitas destas 10.000 corrupções têm terríveis implicações doutrinárias!!!. Método de tradução infiel (Equivalência-Dinâmica, muda algumas palavras). Estilo tolerável, mas sem majestade; vocabulário atual, sem arcaísmo. Muitas notas de rodapé deleitam os eruditólatras, destroem a fé nos versos.
- 6. FONTE ENVENENADA, TRADUÇÕES PARÓDIA:
BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje; BBN - Bíblia Boa Nova; BV - Bíblia Viva; MIA - O Mais Importante é o Amor; Cartas Vivas:
Todas essas bíblias são 100% baseadas no TC, que suprime  6000, adiciona 2000,  muda 2000 das 140.000 palavras do NT!!!  Muitas destas 10.000 corrupções têm terríveis implicações doutrinárias!!!. Método de tradução extremamente infiel (Paráfrase, muda muitas palavras, muitas vezes muda o sentido do que Deus disse). Estilo intolerável, baixo, rap, de gíria. (grifos meus)
- 7. FONTE ENVENENADA, TRADUÇÕES PRÓ SEITAS:
TNM - Tradução Novo Mundo (dos Testemunhas de Jeová);
BJ - Bíblia de Jerusalém (Ecumênica, com os apócrifos);
Alfalit (Ecumênica, mesmo se ainda estiver sem os apócrifos);  todas as Bíblias Católicas:
Todas elas 100% baseadas no TC, que suprime 6000, adiciona 2000, muda 2000 das 140.000 palavras do NT!!! Muitas destas 10.000 corrupções têm terríveis implicações doutrinárias!!!. Ademais, são infiéis no sentido de serem desonestamente tendenciosas, mudam o que Deus disse, de modo a evitar a condenação por  Ele e falsificá-lo como se ensinasse as heresias deles. (grifos meus)

Conclui-se, dessa análise, que todo o cuidado é pouco para evitar consultar-se uma versão não-fidedigna, contaminada ou tendenciosa.

Com relação ao assunto que estamos discutindo (a correta tradução do versículo 40.22, em Isaías), organizei o seguinte quadro comparativo, contendo as principais versões bíblicas existentes e em uso no Brasil:
 


Análise do Quadro Comparativo
 
Observem que das 12 versões exemplificadas, a versão mais confiável, a ACF, utiliza a tradução “círculo da Terra”, no que é acompanhada por mais 5 versões (faixas amarelas). Somente uma única vez as versões ARA e ARC utilizam as traduções “redondeza da Terra” e “globo da Terra”, respectivamente, ambas incorretas e tendenciosas. De notar que a versão ARA está classificada no grupo 4 (Fonte Envenenada – Tradução Frouxa) e a ARC em circulação hoje é a versão revisada pela SBB, corrompida em relação à original da IBB, menos corrompida. Já a versão Ave-Maria utiliza a tradução “disco terrestre”, que não invalida a tradução da versão ACF. As outras 3 versões usam expressões diversas (cúpula, trono no céu e alto dos céus) também não invalidando a ACF.
 
Finalizando, ao pesquisar-se no site “Bíblia Online” pela expressão Globo da Terra, nas 5 mais conhecidas versões da Bíblia em língua portuguesa, eis o que encontramos (ver figura ao lado).

Mas que não se pense que isto ocorre apenas nas versões em língua portuguesa. Pesquisas em outros idiomas também foram feitas e das  5 principais  versões em língua inglesa consultadas (King James, King James with Strongs,  Darby Version, Webster, American Standard Version-1901 e Basic English Bible) , nenhuma fala em GLOBO DA TERRA ou REDONDEZA DA TERRA. Todas falam em círculo ou arco da Terra. Já em 6 versões espanholas, apenas duas se referem a “globo da Terra” e a francesa Louis Segond de 1910, também usa a expressão “círculo da terra”..  (checar em http://bibliaonline.net  ).
 

Por tudo o que foi apresentado neste ensaio e sem a necessidade de recorrer a outras fontes, pode-se concluir claramente que, em relação ao versículo Is 40.22, as traduções mais comuns e também as mais confiáveis são aquelas que usam a expressão “círculo da Terra”.

Sabemos que a forma exata da Terra não é plana, nem circular, nem rigorosamente esférica. Por muito tempo e até recentemente, a própria ciência discutia se essa forma era de um esferoide, um elipsoide ou um geoide, havendo hoje uma polarização de conceitos entre duas correntes acadêmicas: a de que a forma da Terra é a de um corpo geoide ou esferoide oblato. Se é um geoide ou um esferoide, são discussões acadêmicas que devem ficar restritas ao campo da ciência. Está certa a visão popular de hoje:”A Terra é de aparência arredondada e ligeiramente achatada nos polos, movendo-se ao redor do Sol”. E nem esta visão nem a científica correspondem às das descrições bíblicas.

Portanto, sobre a afirmação de que antes mesmo da própria ciência a Bíblia já sabia a verdadeira forma da Terra, pode-se afirmar com segurança: é uma mentira falaciosa; mais uma dentre tantas em que os cristãos costumam acreditar e repetir como papagaios. Essas mentiras – para eles verdades –, “fortalecem a sua fé”.

Está jogada a pá de cal sobre o argumento.
(((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 0 )))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
 
Fontes: Citadas no corpo do texto
Bibliografia e Outras Fontes e Referências:
1. Bíblia Sagrada – Antigo e Novo Testamento, Edição Contemporânea de Almeida (São Paulo: Editora Vida, 5ª impressão, 2000 ), 387. 
2. A Bíblia Sagrada – Edição Revista e Corrigida (Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 62ª impressão, 1986), 682
3. Prefácio, Bíblia Sagrada: Edição Revista e Corrigida (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995), v;
4. Apresentação da “Edição Revista e Atualizada no Brasil”, Bíblia de estudo Vida (São Paulo: Vida, 2ª impressão, 1999);
5. Prefácio à segunda edição da ARA”, Bíblia de Estudo Vida (São Paulo: Vida, 2ª impressão, 1999);
6. Prefácio, Bíblia do Ministro: Edição Contemporânea de Almeida (São Paulo: Vida, 2ª impressão, 1996).
7. Bíblia-História ,em Sociedade Bíblica do Brasil. Disponível em http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=255 , Acesso em 10.12.2014
8. “Apresentação” e “Observações”, Bíblia de Jerusalém (São Paulo: Paulinas, 1981);
9. A Bíblia Sagrada – Tradução na Linguagem de Hoje (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1988), v – vii; “Prefácio”, Bíblia Sagrada: Nova Tradução na Linguagem de Hoje (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000), v – vi;
10. Manual Bíblico SBB (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008)
11. “Prefácio”, Bíblia Sagrada: nova versão internacional (São Paulo: Vida, 2000), vii – x.
12. A Bíblia Sagrada Contendo o Velho e o Novo Testamento (São Paulo: Imprensa Bíblica, 1945)
13. “Bíblia Almeida Século 21”, atualiz c/novo Acordo Ortográfico (São Paulo: Vida Nova, 1ª Ed., 2010)
14. Bíblia Sagrada Ave-Maria (São Paulo: Editora Ave-Maria, Edição 1192, 2010)
15. Bíblia em Hebraico e Português. Disponível em:  http://www.hebraico.pro.br/biblia/quadros.asp . Acesso em 17/12/2014
16. Dicionário Semântico do Hebraico Bíblico. Disponível em: http://sdbh.org/vocabula/index-pt.html . Acesso em: 18/12/2014
17. Traduções da Bíblia na Língua Portuguesa - http://dialogue.adventist.org/articles/23_1_pfandl_p.pdf . Acesso em 20/12/2014