Versos aos poros

Os poros dispensam compêndios e dicionários. Arrepiam-se eles, os poros, quando tocados pela musicalidade do poema. Também vibram os poros em face de palavras simples, de imediato inteligíveis. Escreveu Mário Quintana:

“Dorme, ruazinha... é tudo escuro...

E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?

Dorme o teu sono sossegado e puro,

Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos...”

Assim, dos 8 aos 80 todos leem, vibram e sossegam. Continua Quintana:

“Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...

Nem guardas para acaso persegui-los...

Na noite alta, como sobre um muro,

As estrelinhas cantam como grilos...”

A poesia é para ser sentida e não decifrada; é para todas as culturas no prazer da almofada e não privilégio de poetas ou acadêmicos, graduados ou literatos consagrados.

O corpo do poema tem o suor das mãos do poeta e tudo para que seja simples. Contudo, ser simples não significa ser simplório. Como vimos, é na descomplicação dos versos de Quintana, que arrepiam os poros, que reside a mestria do poeta.

O poema sustenta-se por si mesmo e tem peso maior que o nome do poeta. É ele, o poema, quem necessita de revelar-se ao leitor, esse passageiro do comboio chamado Livro, e não o poeta, mísero condutor da máquina que puxa, a sacolejar, os vagões lotados de sonhos e de sentimentos.