Planejamento e Crescimento: um apagão é inevitável?

Planejamento e Crescimento.

Eu nunca fiz planejamentos em minha vida. Posso, no máximo, fixar, sem muito compromisso algumas metas para o futuro. Há vinte anos minha vida alterou-se radicalmente. E ocorreu sem muito planejamento. Saí da minha cidade, o Rio de Janeiro, e vim morar no interior, numa cidade de trinta mil habitantes, que se orgulha de não possuir nenhum sinal de trânsito (semáforo). Dizem que quem muda de cidade muda de destino. E, creio que isso é verdade. Fiz um segundo curso universitário aqui nessa cidadezinha, e mudei de profissão. O que me motivou a mudar de cidade foi o desejo de morar num espaço melhor, de criar um filho, de ficar livre dos engarrafamentos e da violência da cidade grande que eu já percebia.

Mas, empresas e países não são pessoas. Empresas podem se mudar de espaço físico, sair de São Paulo, ou de Detroit e ir para o nordeste, ou para Singapura. Países não podem fugir de si mesmos.

E ainda que o mercado seja impulsionado por tantos agentes que eles se diluam e se façam invisíveis, os países precisam de algum planejamento quanto ao futuro.

Já houve um considerável debate, no passado sobre tais temas, e, hoje, não se pode mais dizer que planejamento, ou planificação, como se dizia antigamente, é coisa de comunista, ainda que os liberais puros continuem afirmando que os planejamentos são restritivos às forças do livre mercado. Pois o mercado não é livre. Livre é a feira livre, e acho que só nos livros de economia clássica.

Assim, até no planejamento há que se ter alguns critérios à priori. As empresas podem se planejar como quiserem, e, usualmente, elas o fazem à luz de estudos de mercado. Mas, os países? Que critérios devem eles ter em mente? Tais critérios, não se podem deixar de falar, não poderiam ser conspurcados por uma visão partidária e, geralmente tendenciosa. Teriam que ser apoiados por uma visão republicana, supra-partidária, para que fossem levados adiante qualquer que seja o partido no poder político.

Então, quais seriam os critérios? Depende do futuro que projetarmos para o país como desejável, do modelo de país que se deseja. Queremos atingir os padrões dos americanos no futuro, quanto à padrões de renda, consumo, educação, saúde, cultura? Cometeremos os mesmo erros que eles cometeram no passado e no presente? Seremos como os chineses, os hindus, os franceses?

Ou desenvolveremos um modelo próprio, em consonância com os desafios do século 21?

Essa talvez seja a única vantagem do subdesenvolvimento. Partir para um caminho sem cometer os erros dos países desenvolvidos.

Mas esse é o discurso do desejo. Achar que teremos critérios republicanos para planejar o crescimento do país equivale a acreditar em fantasias, pois a realidade demonstra que governantes, políticos e empresas e mesmo indivíduos não tem como principal objetivo o bem comum, e sim, objetivos próprios. Sempre foi assim.

Tomemos, para exemplo, o tema dos apagões.

Na esteira do apagão energético que penalizou o fim do governo FHC, criou-se, o apagão aéreo, com toda o estardalhaço possível, para penalizar o governo Lula. Teriam os dois apagões, ou colapsos de sistemas significados diversos?

Em princípio não. Ambos decorrem da falta de investimentos para a ampliação da capacidade de oferta em face de uma demanda crescente. Pode-se questionar qual o apagão teria o maior impacto sobre o bem comum, concluindo-se, inevitavelmente, que o apagão energético é o mais danoso. Já o apagão aéreo, por envolver um público de maior renda e acesso aos meios de comunicação seria mais gerador de protestos. O apagão energético trouxe como efeito saudável uma cultura de redução de desperdícios de energia, enquanto que o apagão aéreo, talvez, consiga reativar o projeto do trem-bala Rio-São Paulo.

Enfim, no cerne do problema está a avaliação da demanda futura por bens e serviços, e aqui cabe a decisão política, num horizonte de, pelo menos, vinte anos.

Crescerá a demanda vegetativamente, mantendo-se o perfil da demanda pelos bens e serviços dentro dos padrões atuais?

ou

Haverá aumento real de renda e, conseqüentemente, mudança no perfil da demanda com expansão da procura por bens e serviços de maior valor agregado?

Dentro de uma sociedade complexa e em mobilidade como é a brasileira, é certo que ambas as alternativas acontecerão em certa proporção. E que todos os planejamentos estão fadados a falhar, devendo por isso ser revistos periodicamente, como, aliás, é imprescindível nos sistemas sérios.

E que, no curto prazo, o país está à beira do colapso em todos os sistemas, saúde, educação, cultura, segurança, transporte, energia, telecomunicações, etc... Qual é, no momento, o mais importante para o bem comum e que devemos priorizar?

A resposta será dada por toda a sociedade, persistindo a dúvida: pode um planejamento induzir um crescimento regular e evitar apagões?