Ideias inatas

Ao nascer já “acreditamos” em relações causais e “supomos” que determinadas circunstâncias decorrem de outras. Tal suposição permite ao recém-nascido adquirir controle de seu próprio corpo. Se, ao executar determinada ação mental percebe, por exemplo, a presença de sua mão no centro de seu campo visual, pode supor uma relação causal entre ambas as circunstâncias, repetindo posteriormente a mesma ação cerebral com o propósito de se divertir com a presença da mão, novamente. Esse tipo de crença pré-implantada em nossos cérebros permite facilitar e abreviar descobertas fundamentais e necessárias ao desenvolvimento. Se tais crenças não existissem previamente, muitas crianças não as descobririam. Crianças que não descobrem essas relações não aprendem a se movimentar e sucumbem. Foi assim sempre, desde antes da humanidade. Somos filhos dos que herdaram essas crenças, e as herdamos também.

Dessa maneira, nascemos com a suposição de que relações do tipo “se A, então B” são comuns, e tratamos de descobrir os fenômenos que se encaixam em “A” e em “B”. Além de uma imensa curiosidade, devemos nascer insuflados de um enorme otimismo, ou falharíamos em nosso intento de descobrir pares de fenômenos causais, ou seja, relacionados do modo “se A, então B”. Note haver uma infinidade de fenômenos diferentes, mas assemelhados, passíveis, em princípio, de corresponder a cada evento “A” ou “B”. Entre outras, tantas, a ação cerebral que faz mover o pé, por exemplo, deve ser bem parecida com a de mover a mão, quero dizer, ao tentar repetir a ação que ocasionou o surgimento de um fenômeno em seu campo visual (a mão), o bebê pode acionar o controle de movimento do pé, entre outras inúmeras possibilidades. As possibilidades são tantas, as dificuldades tão grandes que sugerem pré-definições adicionais, ou todos os bebês falhariam em adquirir tais controles.

Mesmo a descoberta de funções pré-definidas pode parecer mais difícil do que é, a menos que sejamos insuflados também por um enorme otimismo, por uma confiança desmedida em nossas adivinhações, muito maior do que a razão recomendasse. Assim, confiamos exageradamente em nossas confirmações, muito além do autorizado pela razão ou previdência, mas desconsideramos prodigamente os nossos erros.

Desse modo, ao se desenvolver, o bebê vai descobrindo uma variada gama de crenças pré-definidas sobre o mundo, acreditando estar desvendando o mundo. Somos assim, e acreditamos estar descobrindo o mundo enquanto vamos descobrindo nossa própria concha. Somos otimistas.