O BANCO NAQUELA PRAÇA (VI)

CAPÍTULO VI – FEIRA, ÔVO E TOMATE!

A praça amanheceu cercada pela feira de segunda-feira, e por isto protegida, mas nem por tal motivo o prefeito deixou de ir até lá provocar os que a defendiam. Uma coisa fez; todos saírem em desabalada carreira ao soltar um “pum” tão forte que abafou o mau odor dos tomates e ovos podres descartados e um latão de lixo. Apurada à razão de tão fétidos ventos, soube-se que o alcaide, no dia anterior, jantara um cosido de couve-flor regado ao vinho importado do Paraguai.

Claro que o prefeito, sem perceber em seus respiros a sua podridão, julgou que enfim havia posto para correr a “a turba perniciosa e agitadora contraria ao desenvolvimento cidadélico”, como bem disse a um assessor apelidado de cri-cri, o insetinho que gruda no saco do chato! Refeitos do susto, e de narizes protegidos os protetores da praça retornaram ao ponto do embate, e do latão foram retirando tomates e ovos podres, dos que ainda não haviam se quebrado para quebrar na cabeça do tal, fazendo-o mais “perfumado” do que antes.

Derrotado em mais uma batalha o prefeito retorna para seu gabinete, seguido por uma procissão aérea de urubus, que freqüentavam o telhado da prefeitura dado ao cheiro de podridão que do prédio sempre exalava. E a manhã parecia que seria calma, e as faixas providenciadas pelo grupo ativista “PARIS – Praça Amiga Resistindo ao Insistente Senhor”.

Os feirantes e os camelôs, alguns vindo de outras cidades sem noção do que acontecia, ao verem tantos tomates voando para cima do prefeito, chegaram a pensa que era coisa do Comando Vermelho. E as horas restantes da feira foram tranqüilas. “Olha o pepino, tem do grosso, do médio e do fino”, gritavam para rubor das moças donzelas. “Quem vai levar tijolo e requeijão”, os turistas perguntavam o que era “tijolo”, e os vendedores explicavam que se trata de um doce de corte típico do Sertão, feito com frutas e rapadura, que são deliciosos degustados com requeijão de corte típico da Bahia.

Ao redor do vendedor de pastéis e caldo de cana, estavam reunidos torcedores de todos os times, até um do botafogo, para discutirem os resultados dos jogos de domingo. Os flamenguistas, que ali eram maioria diziam que foi um acaso o rubro-negro perder. Um ex-candidato a vereador derrotado, que pensou se tratar de comentário sobre as eleições passadas, arriscou-se a dizer que perdera por poucos votos. “Ficou na suplência?”, houve quem o pergunta-se: “E faltaram quantos votos?” Perguntou outro. E o ex-candidato explicou: “Só tive dez votos, perdi ou não perdi por pouco?”

E na feira agitada não se falava em outra coisa a não ser o fim da praça, que na terça-feira estaria ameaçada pelo prefeito, que com ela acabaria “de qualquer jeito”, bradava em socos sobre a escrivaninha, em que os projetos sociais da cidade eram engavetados. E também o que tinha a proposta de um “vertedor duplex”, requerimento de um vereador que pedia banheiros para os dois sexos, justamente naquela praça.

Caiu à tarde, a discussão sobre futebol já não era ouvida. O vendedor de pasteis deu alguns dos que sobraram, com direito a caldo de cana, para um grupo de meninos que moram no lugar de onde a visão da cidade é a mais bonita, na favela do morro do Cristo! Agradecidos eles disseram “Deus lhe pague”, e o repórter lembrou e escreveu sobre a peça teatral de Joracy Camargo, que em tempos passados foi protagonizada por Procópio Ferreira, ator que dizem ter deixado seu autógrafo naquela praça.

Mariquita que não aparecera ainda no centro da praça, entretida que estava catando restos da feira, menos couve-flor prato preferido do prefeito, surgiu preocupada, abatida, imaginando a terça-feira. Não sai ela que os membros da ONG/PARIS haviam entrado com um pedido de liminar contra o prefeito, para preservação daquela praça.