Sobre a loucura humana

Estamos loucos. O diagnóstico é claro e simples, a avaliação do grau de loucura mais complexa; tentemos.

Podemos diagnosticar nossa loucura atentando, simplesmente, para o suicídio coletivo que estamos cometendo. Sabemos que estamos degradando o planeta e que, em breve, teremos destruído nossa condição de sobrevivência. Não temos dúvida sobre tal fato, restando apenas saber se já passamos, ou não, de um ponto do qual não pode haver retorno. Coisas descomunais como a atmosfera, ou o oceano, têm uma inércia muito grande e demorarão a responder a efeitos salutares que, eventualmente, poderíamos vir a causar neles, de modo que, talvez, já estejamos com os dias contados. Seja como for, por estarmos loucos, não tomamos nenhuma providência. Estando loucos, parecemos decididos a romper o ponto sem retorno impavidamente!

Contam que, de certa feita, um louco despencou de um prédio muito alto. A princípio ele se desesperou vendo os andares passando um a um. Desesperado, viu passar um andar sem que nada acontecesse, em seguida, outro, e mais outro. Então, tendo passado 10, 20, 30 andares sem que nada tivesse acontecido, tranquilizou-se. Era um louco. Somos loucos.

Talvez, no entanto, haja uma justificativa para estarmos tratando tão mal nosso planeta, a ponto de estarmos eliminando nossas condições de existência; por que o fazemos? Gostamos de consumir, somos compelidos, coletivamente a isso. A causa fundamental dos desequilíbrios no ambiente é o consumismo desenfreado, o consumo pelo consumo. Assim, resposta é constrangedora; além de loucos, somos frívolos.

Somos, ou poderíamos ser, seres racionais. Não costumamos agir racionalmente, no entanto, baseamos nossas ações no costume. Costumamos fazer o que sempre fazíamos, e pouco importa que isso nos leve ao suicídio; importa manter nosso costume, e agora já nos acostumamos a destruir nossas condições de vida. Seguiremos em frente porque o fazíamos antes, somos assim.

Essas breves considerações são suficientes para diagnosticar e avaliar nosso alto grau de insanidade. Se considerarmos os riscos altíssimos em que temos-nos metido recentemente, consideraremos que nossa loucura coletiva tem-se agravado, que já perdemos todo o contato com a realidade, ou o interesse por nosso destino.

Suspeito, no entanto, que nossa avaliação seja obnubilada pela própria loucura, e que, por estarmos loucos, somos impedidos de ver o que, a olhos sãos, se revelaria insanidade ainda maior.

Temo-nos deixado moldar pelos meios de comunicação de massa, esses condutores de rebanho profissionais, pastores de gado humano. Baseamos nossas vidas, nosso dia a dia, no que nos acostumamos ontem, e no que todos já se acostumaram. Nossos condutores são direcionados por seus patrocinadores, ansiosos, sempre, por mais lucros. O rebanho humano é criado e moldado com finalidades lucrativas. Muitos de nós se alimentam como gado de corte, sendo induzidos a o fazer com voracidade sempre crescente. Os valores incutidos em nós pelos condutores do rebanho nos adequam e moldam ao propósito de darmos lucros, e é com tais olhos que analisamos todas as coisas, incluindo nossa loucura.

Creio que alguma alma pura, advinda sabe-se lá de que planeta distante, mas alheia aos ditames impostos pelos meios de comunicação, não contaminado por eles, perceberia, de imediato, ao nos ver, estarmos imersos na mais completa loucura, em uma insanidade total do nascimento à morte. Suspeito que nossa loucura seja tão grande que nos impeça perceber o quanto ela inunda tudo o que vemos. Estando, além disso, todos nós, imersos no mesmo delírio, perdemos qualquer parâmetro de comparação, assim, parece não poder haver nenhum outro caminho, exceto o da loucura.

E nem falei de matanças, guerras, extermínios, miséria, transgênicos, ameaças tecnológicas.

Nossa loucura avança em altíssimo grau.