Crise da metafisica

Crise da metafísica, crise do homem

Por P. Jorge Ribeiro

Aristóteles afirma na sua Metafísica que o homem deseja naturalmente conhecer, e esse conhecer é um conhecimento por causa, por fundamento. Ao longo dos anos, especial modo nos tempos hodiernos, essa ausência de fundamento tem levado a uma ausência de sentido, de significado. A negação de princípios absolutos, já que segundo certas linhas de pensamento os absolutos negariam ou diminuiriam a capacidade do homem de ser ele mesmo, tem levado pouco a pouco o próprio homem a uma crise existencial.

O pensamento Ocidental, a partir da sistematização de Platão e de Aristóteles, deu uma direção ao modo de conceber a realidade, pois os princípios universais cooptados, leia-se fundamentos absolutos, tais como a causalidade, a finalidade, a constituição, a identidade e não contradição, foram os grandes responsáveis de uma maneira realística de conceber a realidade. Na idade medieval, quando o cristianismo mostrava, em linhas gerais, o caminho a ser seguido, como se pode arguir em Agostinho, Anselmo, Tomás de Aquino, por exemplo, esses fundamentos absolutos adquiriam ainda mais um teor religioso; em diversos momentos esses princípios se confundiram com o próprio Deus, mas como antes, já que aí a realidade encontrava o seu porque e, de consequência o homem encontrava o sentido da sua vida, a solidez do fundamento dava significado e segurança.

Com o advento da idade moderna, a idade das conquistas e das crises, os fundamentos que até então eram externos ou independiam da mesma realidade, passam a ser inerentes á mesma realidade ou ao homem; é esse que oferece agora a medida de tudo, é ele mesmo o critério da verdade, assim, o único absoluto que se mantém é o próprio homem. A metafisica entra em crise, dado que a sistematização até agora realizada encima de critérios externos, perde o seu chão de cientificidade, pois o parâmetro passa da racionalidade filosófica para a arguição psicológica. Com a época mais recente esse parâmetro também é descartado e não se tem mais certezas, agora o critério da veracidade e da refutação é a tecnologia e seu método, dado que o homem é incerto de si mesmo e a confiança deve girar em outro paradigma.

As ciências hodiernas negam um fundamento metafisico, ou seja, que haja algo que esteja além ou aquém da observação e da mensuração, e que tudo que esteja fora desse circulo se classifica como poesia, religião ou literatura. O verdadeiro está na coerência dos métodos e não nas coisas, que o homem não passa de um emaranhado de casualidades e partes. Essa dedução, que é absoluta, excludente e tendenciosa, não somente nega os princípios universais, o fundamento metafisico da realidade, mas nega o mesmo homem, já que esse se refuta no cotidiano a ser meramente uma engrenagem de uma grande maquina.

O resultado de tudo isso? A crise da mesma razão. Estamos perambulando em busca de um sentido, e alguns tem até se questionado se essa razão não seria a des-razão. A crise do fundamento leva a uma crise de sentido, pois os valores que foram relativizados pela analítica e corroborado pela dispersão nietzschiana, agora sofrem de uma orfandade, pois o homem que seria o porta-voz e o grande mentor dos princípios e valores, encontra-se perdido e sem direção. Ele mesmo que esvaziou tudo que pudesse negar a sua absolutez, como afirmara Sartre entre outros, parece perdido e sem nenhum tipo de sustentabilidade racional.

A crise da metafisica, ou seja, a crise do absoluto também é a crise do mesmo homem, dado que as suas incertezas levaram a uma negação de qualquer certeza, as suas reticências induziram a inconsistências não somente de paradigmas, mas também de vivencialidade. Quando se negam determinados princípios ou fundamentos, em nome de uma objetivação empirista ou de um subjetivismo idealista, acaba-se por negar a busca pela origem e pelo significado da realidade, condenando essa a viver numa suspensão da verdade, dado que a dúvida, que é um método, torna-se ela mesma o objeto da busca.

Negando a possibilidade de uma verdade ou realidades metafisicas, tem-se negado também a capacidade do homem de conhecer a realidade e a si mesmo com certeza. Desse modo, tem-se empoeirando o horizonte das inquietações humanas ao fatalismo e ao relativismo, não somente porque se tem tirado os absolutos da vida do homem contemporâneo, e de consequência a esperança, a fé, mas também o tem relegado à perplexidade inexorável de incertezas e de desorientações, onde o pluralismo de ideias e opiniões tem dado margem a uma espécie de fragmentação não somente do conhecimento, como também do próprio ser do homem.

A crise da metafísica é a crise dos sistemas, é a crise das meganarrativas, mas também é a crise do próprio homem, que para proclamar sua independência e sua absolutez, tem retirando as causas, os porquês, os sentidos; e assim o homem hodierno caminha oscilando, despejado no mundo sem perspectivas e sem segurança, porque o mundo que ele vive e ele mesmo foram esvaziados do Ser, o qual sustenta, responde e orienta o próprio homem. Sem metafisica, sem destino, sem absolutos, o homem perambula errante, transformando a crise num absoluto capaz de rejeitar tudo que para a tecnociência dos nossos dias parece nanificar a grandiosidade de nossas conquistas.

Pejotaribeiro
Enviado por Pejotaribeiro em 20/06/2016
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