etimologia da língua portuguesa nº 76

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº76.

Fumaça vem do latim fumus, fumo, mais o sufixo aça, um aumentativo. Fumaça branca da chaminé da Capela Sistina, cujo nome homenageia o papa Sisto IV, anunciou a escolha do novo papa. O nome do pontífice, Benedictus em latim, é Bento em português, abençoado, bendito.

Bento: do latim benedictus, bendito, benedito, bento. Transformado em nome próprio, foi adotado pelo novo papa como Bento XVI, o primeiro alemão a subir ao trono de São Pedro desde a Idade Média. Bento I teve mandato curto, de 574 ou 575 a 579, quando morreu. Já Bento XV papa de 1914 a 1922, governou a Igreja por oito delicados anos, pois vivíamos a Primeira Guerra Mundial. De nome civil Giacomo della Chiesa, era natural de Pegli, perto de Gênova, Itália. Tinha temperamento considerado difícil. Celebrizou-se por condenar a guerra, “ inútil matança”, e o modernismo. Fundador da Universidade do Sagrado Coração, em Milão, foi ele quem canonizou Joana D’Arc ( 1412-1431 ) e proclamou Nossa Senhora de Loreto padroeira dos aviadores. Morreu de pneumonia. O nome escolhido pelo cardeal, quando eleito papa, dá pistas de seu ideário.

Fumaça: do latim fumus, fumo, mais o sufixo aça, indicador de aumentativo. O latim aproveitou a raiz panromânica fum, que designava fumaça e vapor. A fumaça, conquanto indique também cerração, vapor e neblina, refere-se à exalação de coisas queimadas. Tem servido de sinal de comunicação desde tempos primitivos. A Igreja ainda a utiliza durante a eleição do novo papa. A fumaça negra indica que nenhum candidato venceu. A branca leva ao anúncio “Habemus papam” ( temos papa). As duas são obtidas separadamente por meio da adição de produtos químicos especiais à queima das cédulas de votação dos cardeais reunidos em Roma, na Capela Sistina, assim denominada em honra do papa Sisto IV ( 1414-1484 ). Da chaminé, ali instalada, saiu a fumaça branca que no dia 19 de abril último anunciou o novo papa, nascido na Baviera Joseph Ratzinger.

Menu: do francês menu, redução de menu, coisa pequena, do latim minutus, do verbo minuere, diminuir, reduzir, influenciado provavelmente pelas raízes indo-européias mei e men, indicadoras de pequenez. A palavra está no francês desde o século XII, mas somente no século XVIII veio a designar o cardápio. Até então, o freguês era surpreendido com o que viesse da cozinha, sem escolha. O primeiro menu ( cardápio ) documentado apareceu num banquete que a comunidade financeira francesa ofereceu ao rei Luís XV ( 1710-1774 ) no dia 21 de junho de 1751, desenhado e escrito em finas e rebuscadas letras pelo artista plástico e calígrafo Brian de Saint-Marie. Foi parar no acervo do museu do Palácio de Versailles. Outro menu famoso, desenhado e escrito pelo mesmo profissional, instruiu os pedidos dos convidados ao jantar que Jeanne-Antoinette ( 1721-1764 ), madame Pompadour, ofereceu sete anos depois de findo o seu caso amoroso com o mesmo rei, a 17 de agosto de 1757. A dançarina e cantora, zelosa da forma física que encantara o soberano, de quem foi amante por largos anos, ainda era sua confidente e amiga quando apresentou várias saladas no menu em forma de disco, girado à medida que os pratos eram escolhidos. Com a derrubada da monarquia em 1789 e a consequente democratização dos restaurantes, o menu passou a ser afixado nas portas dos estabelecimentos e, em tamanho menor, nas mesas. Grandes artistas ilustraram menus, como Toulouse-Lautrec ( 1864-1901 ), Édouard Manet ( 1832-1883 ) e Pablo Picasso ( 1881-1973 ). Uma das melhores referências em cardápios é o livro Menus et Programmes Illustrés, de Leon Mailard. Com o tempo, o costume francês de apresentar cardápios disseminou-se pelo mundo inteiro, ao lado da difusão da moda e do mobiliário.

Prato: do francês plat, radicado no latim vulgar platus, significando vasilha de fundo chato. Apesar de substantivo, serve de adjetivo em algumas iguarias, como é o caso do queijo prato, do holandês plate, em forma de disco, em oposição ao queijo gouda, denominado queijo flamengo em Portugal e queijo-do-reino no Brasil. Com a evolução da culinária, prato deixou de indicar apenas a vasilha e passou a nomear o conteúdo nela servido. A necessidade de comer transformou-se em técnicas e arte, e a França foi o país que mais enriqueceu as mesas do mundo. Apesar de os franceses apregoarem que inventaram o cardápio, os alemães reivindicam a primazia para mais de dois séculos antes. Na famosa Dieta Worms, que nada tem com moderação de apetite, pois a tal dieta em alemão designava assembleia político-legislativa, o anfitrião, duque Heinrich Brunswick-Wolfenbutel, mandou o cozinheiro escrever o nome dos pratos num pergaminho. A reunião ficou famosa, porém, por outro motivo: ali foram servidas, paralelamente, as teses de Martinho Lutero ( 1483-1546 ), reformador alemão convidado a renegar suas idéias. Ele compareceu ao banquete, mas reinterou que negava a infalibilidade do papa, a hierarquia da Igreja, o celibato dos sacerdotes os votos monásticos, a devoção aos santos e as indulgências .

Deonísio da Silva é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, diretor do Curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá ( RJ ), autor de De Onde Vêm as Palavras ( A Girafa 14ª edição ) e Avante, Soldados: Para Trás ( Siciliano), entre outros 28 livros. E-mail: deonisio@terra.com.br

Revista Caras

2005

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 16/04/2017
Código do texto: T5972517
Classificação de conteúdo: seguro